Filmes de dar medo

A arte japonesa de fazer terror realmente assustador

por
Fábio Jordan

18 de Fevereiro de 2015
Fonte da imagem: Divulgação/Divulgação/Alpha Filmes Ltda
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Tempo 🕐 6 min

Quem é fã de filmes de terror possivelmente já deve ter percebido que faz alguns anos que o cinema carece de produções competentes. Bom, pelo menos é o que podemos perceber quanto às produções hollywoodianas que aqui chegam.

Não estamos falando aqui necessariamente do roteiro, pois algumas obras trazem, às vezes, um ou outro aspecto que garantem ineditismo – ainda que muita coisa seja copiada. Entretanto, é preciso considerar que um título do gênero precisa mais do que alguns lances de câmera assustadores para conseguir surpreender a plateia.

Alguns anos atrás, tivemos um surto de remakes americanos que basicamente copiavam os filmes japoneses (e de outros países da Ásia também) e apenas os trasportavam para as telonas com atores famosos. Em alguns casos, as novas versões até que conseguiram alcançar algum êxito, mas dificilmente vimos títulos tão amedrontadores como os originais.

A verdade é que os japoneses têm uma forma completamente diferente de fazer terror. As produções  deste tipo do outro lado do globo não apostam nos mesmos truques baratos do ocidente. Cenas de espelho (com aquela virada súbita de câmera para incutir medo), espíritos escondidos nas sombras e  outras ideias comuns em Hollywood nem sempre são comuns nos filmes do Japão.

Tem gente que reclama da forma de apresentação do roteiro, que nem sempre é tão mastigado e evidente, mas isso faz parte do jeito deles de contar histórias. Contudo, o grande diferencial que ajuda as produções de terror nipônicas a obterem sucesso são as formas como os espíritos (fantasmas e demônios) são apresentados, como eles assustam e como os personagens reagem.

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Algumas das apostas dos diretores japoneses para deixar a plateia apavorada são os sons bizarros (algo que é bem comum em Ju-On: The Grudge), as cenas com personagens encurralados, os inimigos com trejeitos e movimentos inesperados (como em Ringu, em que temos um espírito que consegue deslocar seus ossos), bem como a maquiagem e os trajes sinistros.

O uso de sequências aparentemente aleatórias também é comum, mas é interessante que geralmente as imagens perturbadoras apresentadas (como em Ringu) acabam fazendo sentido no desenrolar do roteiro. O estilo de montagem característico desses filmes resulta em obras perturbadoras, que incomodam o expectador que espera apenas ver sustos comuns.

Enfim, há inúmeros aspectos que diferenciam tais títulos de seus remakes americanos e geralmente as adaptações hollywoodianas não conseguem deixar o público inquieto e realmente apavorado. Ver um filme de terror japonês com amigos é moleza, mas ver sozinho e caminhar em uma rua desolada é algo para corajosos, pois a sensação que fica é de que algum espírito pode estar na sua cola.

Abaixo, fizemos uma pequena lista de longas recomendados para você apreciar um terror realmente diferente. Os itens estão apresentados em ordem alfabética, portanto o primeiro não é necessariamente melhor que os demais (e vice-versa). Detalhe: de preferência, veja com o idioma original, porque os efeitos e falas são ainda mais interessantes.

Água Negra (Honogurai mizu no soko kara)

Neste filme de Hideo Nakata (o cineasta por trás de Ringu), acompanhamos a história de uma mãe e sua filha de 6 anos que acabam de se mudar para um novo apartamento. Acontece que não demora muito para que elas percebam que o local está com problemas de infiltração. A água escorre por todos os cantos e isso começa a preocupá-las.

Logo, as duas percebem que estão em perigo e resolvem ir atrás de explicações para entender o que está acontecendo. A história pode ser muito mais sinistra e perigosa do que um simples vazamento no encanamento.

Marebito

Com direção de Takashi Shimizu (o mesmo de Ju-On: The Grudge) e roteiro de Chiaki Konaka (que já escreveu vários episódios de Digimon e Ultraman), este filme mostra a investigação de um cinegrafista amador (Shinya Tsukamoto) que resolve buscar explicações para uma lenda urbana nos metrôs de Tokyo.

O Chamado (Ringu – The Ring)

Um dos mais famosos filmes do gênero a ganhar remake americano, O Chamado, em sua versão original (lá de 1998), apresenta a história de uma maldição que é passada de mão em mão através de uma fita VHS, a qual traz misteriosas cenas – aparentemente sem qualquer nexo – e que mata qualquer um que a assiste no prazo de sete dias.

Como sempre, há toda uma história por trás desta maldição e somente aquele que tiver a coragem de desvendar o que aconteceu (e de onde surgiram tais imagens) poderá sobreviver ao terrível círculo da morte. Esta versão se difere em vários pontos da obra americana, sendo que os japoneses até fizeram uma continuação e um filme antecessor.

O Grito (Ju-On: The Grudge)

Histórias sobre casas assombradas são bem comuns (temos aí Horror em Amityville que não nos deixa mentir), mas a versão japonesa de O Grito tem algumas boas sacadas que dão ineditimos à proposta e conseguem deixar o expectador bem tenso.

Em Ju-On: The Grudge, o problema não é a casa ou uma família de fantasmas, mas sim um espírito misterioso e vingativo que marca, persegue e pune todos que ousarem entrar em sua residência. Uma das diferenças deste filme para outras obras americanas é a forma como o inimigo se apresenta e os sustos que ele consegue dar sem precisar de muito barulho.

Uma Chamada Perdida (Chakushin ari)

Conforme comentamos, os japoneses dificilmente imitam outras produções, sendo capazes de inovar ao introduzir situações inimagináveis em seus roteiros. Uma Chamada Perdida é a prova disso, pois é um filme de terror que aproveita a tecnologia bem-sucedida dos celulares para criar uma trama com boas ideias.

Sob a direção de Takashi Miike (que também dirigiu Ôdishon, outro terror japonês de qualidade), esta obra conta a história curiosa de algumas pessoas que começam a receber mensagens de voz misteriosas delas mesmas vindas do futuro. Nas gravações, as pessoas podem ouvir como elas reagiram as suas próprias mortes.

Estas são apenas algumas sugestões, mas é claro que há inúmeras outras, não só do cinema japonês, mas também provenientes de outros países da região. Se você tiver dicas de filmes, independente da nacionalidade, aproveite o campo de comentários para nos contar sobre seus títulos favoritos do gênero.

Fonte das imagens: Divulgação/Divulgação/Alpha Filmes Ltda

O Chamado

Confira o trailer deste filme dirigido por Hideo Nakata

Diretor: Hideo Nakata
Duração: 96 min

Água Negra (2002)

Não deixe a água te afundar

Diretor: Hideo Nakata
Duração: 101 min
Estreia: 19 / Jan / 2002