Crítica 120 Batimentos por Minuto

Relato cru e cruel sobre a AIDS nos anos 90

por
Lu Belin

26 de Janeiro de 2018
Fonte da imagem: Divulgação/Imagem Filmes
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 6 min

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As décadas de 80 e 90 foram um verdadeiro terror para a comunidade LGBTT do mundo todo. E não digo isso apenas por conta do preconceito, que ainda hoje atormenta quem se identifica como Lésbica, Gay, Bissexual, Transexual, Transgênero e qualquer outra identidade que desafie o padrão heteronormativo. Naquela época, uma outra sigla de apenas quatro letrinhas fez com que tantas e tantas pessoas vivessem - e morressem - em pânico: a AIDS.

É justamente sobre o período em que as pessoas mais tentavam entender e combater a síndrome que se centra o longa-metragem francês "120 Batimentos por Minuto". A trama gira em torno do romance entre dois jovens - Nathan (Arnaud Valois) e Sean (Nahuel Pérez Biscayart), integrantes de um movimento de luta em defesa dos direitos das pessoas LGBTT, o ACT UP.

Embora tivesse outras pautas, o movimento se concentrou especialmente sobre a questão da AIDS e seu efeito devastador sobre as pessoas que se contaminavam. Assim, ao nos contar a história de Nathan e Sean, o roteirista e diretor Robin Campillo faz um verdadeiro retrato da França da década de 90 - que ele mesmo vivenciou enquanto gay.

Amor e Luta

Assistir a "120 Batimentos por Minuto" é conhecer as minúcias de uma organização voluntária, de um movimento social. E a produção faz isso sem romantizar de forma nenhuma a luta. Nos conduz por desde os atos públicos empolgantes e cheios de rebeldia, até as entediantes e longuíssimas reuniões para debater as ações passadas e futuras da Act Up.

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Este é um dos grandes pontos positivos do filme: ele mostra as dificuldades, a bravura e a seriedade com que os militantes se lançaram à manifestação, é um retrato cru, sem mascarar os percalços, mas valorizando cada etapa do processo de organização de um grupo social que se move por uma pauta.

Então esqueça o amor, o romancinho: "120 Batimentos por Minuto" é composto por 140 minutos de militância mesmo.

Ficção encontra realidade

Um ponto interessante sobre o filme é que o coletivo, que na ficção é presidido por Thibault (Antoine Reinartz), não existe somente nas telinhas. A película é inspirada nas ações da verdadeira Act Up, entidade fundada em 1989 cuja ação foi determinante para atrair a atenção do governo francês e de autoridades do mundo todo, já que inspirou coletivos em diversos outros países.

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No recorte feito por "120 Batimentos por Minuto", temos um grupo devastado, que já não aguenta mais perder membros, amigos, namorados para uma doença implacável, que sabe que a indústria farmacêutica já possui soluções mais eficazess que as disponíveis até então, mas não a libera por motivos comerciais.

Nesa fase da militância retratada no filme, portanto, o que se reivindica é um posicionamento do governo francês com relação aos casos de AIDS que destruíram as vidas de tantos jovens homossexuais franceses, mas que permanece sendo ignorado pelas autoridades.

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A intenção é muito bonita, a história é intensa e envolvente e o filme tem momentos interessantíssimos de embate, trocas, construções coletivas, mas também cai inevitavelmente no cansaço. As intermináveis reuniões da Act Up começam a dar um pouco de sono e o filme se estende um bom tanto, com algumas cenas desnecessárias e que não agregam muito a uma trama que já é complexa por si só.

Alternado a isso, como que para equilibrar o ritmo lento dos atos, são inseridas cenas em que o longa-metragem de cinema, ao melhor estilo francês quase sem trilha na sonora, quase chega a se parecer com um clipe musical, com cenas em baladas que funcionam como transição entre um momento e outro do filme, mas que não fazem sentido.

A gente até entende a intenção, de mostrar que apesar do envolvimento, a vida dos jovens militantes não era só virada em reunião, que eles também faziam questão de curtir. Mas sabe quando fica deslocado? Então...

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Se você estiver muito envolvido com a história dos protagonistas, com a pauta em questão, curtir uma reunião, tudo isso pode nem te incomodar, mas certamente segmenta um pouco o público - o que não é necessariamente um problema.

Cotada para concorrer ao Oscar 2018, representando a França, "120 Batimentos por Minuto" acabou ficando de fora da premiação e não apareceu na lista de finalistas. No entanto, a produção é de extrema importância para chamar a atenção para uma doença que, embora esteja muito mais sob controle, ainda existe e ainda tem força - embora não mais apenas entre os homossexuais.

- Em 2014, 67,5% das pessoas com HIV era de heterossexuais, na maioria mulheres (58,2%), segundo o Ministério da Saúde
- 36,7 milhões de pessoas em todo o mundo viviam com HIV em 2016
- 1,8 milhão de novas infecções pelo HIV em 2016
- 1 milhão de pessoas morreram por causas relacionadas à AIDS em 2016;
- 76,1 milhões de pessoas foram infectadas pelo HIV desde o início da epidemia;
- 35 milhões de pessoas morreram por causas relacionadas à AIDS desde o início da epidemia.

Fonte: O Globo e UNAIDS
Fonte das imagens: Divulgação/Imagem Filmes

120 Batimentos Por Minuto

A indiferença é a pior das doenças!

Diretor: Robin Campillo
Duração: 144 min
Estreia: 4 / Jan / 2018
Lu Belin

Eu queria ser a Julianne Moore.