Crítica do filme 13 Minutos
O homem que poderia ter evitado um genocídio
Se tem um fato histórico que talvez nunca deixe de inspirar relatos cinematográficos, esse fato é o holocausto. O genocídio de milhões de pessoas unicamente por características estéticas, crenças e descendência deve continuar sendo uma das maiores manchas na história da humanidade. E é bem possível que você já tenha se perguntado: e se algo pudesse ter sido feito para evitar essa tragédia?
Pois bem, é certo que antes mesmo que o genocídio começasse, quando o regime nazista dava os primeiros sinais de que algo errado estava por acontecer, muita gente na própria Alemanha e regiões pensou em impedir Adolf Hitler de continuar no poder. Uma dessas pessoas foi Georg Elser, que, sozinho, quase mudou o curso da história. Não conseguiu por apenas 13 minutos.
E é daí que vem o título do filme alemão dirigido por Oliver Hirschbiegel e com roteiro assinado por Léonie-Claire Breinersdorfer e Fred Breinersdorfer. O longa-metragem faz um relato da vida de Elser, interpretado por Christian Friedel, desde a juventude inconsequente e namoradeira até a morte.
De forma não-linear, "13 Minutos" nos conduz pelo trajeto desde alemão que, ainda que não tenha sido engajado aos movimentos populares e de resistência ao nazismo, percebeu as graves consequências não apenas do regime totalitário, mas da abstenção da população que nada fez para impedi-lo.
Acompanhamos a trajetória dele por seus conflitos familiares, envolvimentos com algumas garotas e engajamento com a questão do nazismo. Depois de chegar à cidade de seus pais para resolver problemas financeiros, Elser conhece a jovem Elsa (Katharina Schüttler), uma mulher casada e mãe de dois filhos, por quem ele se apaixona - affair esse que vai ser o fio condutor da história toda.
A tentativa, no entanto, de mostrar a trajetória do protagonista sob a ótica de sua vida pessoal tornando a história toda enrolada demais e um tanto enfadonha, criando até mesmo uma certa simpatia negativa pelo protagonista - o que talvez seja até o objetivo do filme.
Ou seja: embora ele pudesse ter se tornado um verdadeiro herói da história mundial, Elser não passava de um homem ordinário, comum. Seu único diferencial foi ter se levantado de alguma forma contra um regime, ainda que a seu modo. Então imagine se mais gente tivesse tentado? E se alguém tivesse sido bem sucedido?
Um dos pontos fortes de "13 minutos" é a atuação do elenco. Georg Elser é tão bem interpretado por Christian Friedel que chega a dar raiva. Nas suas expressões, conseguimos enxergar as imperfeições e perturbações do ser humano por trás de um homem que virou história.
A própria Katharina Schüttler é uma excelente atriz, assim como Burghart Klaußner, no papel de Arthur Nebe, um oficial do Fhürer claramente dividido internamente entre sua perigosa função de interrogar o criminoso e de investigar o atentado e uma inevitável compaixão à situação do preso.
Com uma bela caracterização e cenário, o figurino também é bastante caprichado. A reprodução da época é muito bem feita, desde as cidades até os próprios personagens, os presos que são encaminhados aos campos de concentração, tudo parece ser feito com bastante cuidado.
"13 Minutos" também não economiza nas cenas de tortura e violência, que recebem um certo destaque durante o interrogatório. Por isso, se você não tem muita resistência a esse tipo de reprodução, vá com cautela.
Nesse filme, somos expostos não só ao animalesco tratamento dado pelos nazistas a seus presos - e imagino que tenha sido muito pior do que o que o filme retrata - mas também à ausência. À ausência de atitude e de vozes que se levantassem, de rostos que se destacassem na multidão sendo menos passivos e mais ativos e atuantes contra o nazismo.
Somos expostos à covardia. À atitude que muitos de nós teríamos se enfrentássemos um regime como esse. É inevitável se questionar: seria eu como Elser ou seria eu como Elsa?
A história do homem que poderia ter evitado o holocausto