Crítica do filme A Autópsia

Às vezes, o sujeito tá louco no medo

por
Fábio Jordan

08 de Maio de 2017
Fonte da imagem: Divulgação/Diamond Films
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 5 min

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A morte é uma coisa que mexe com o imaginário das pessoas. O misto de dúvida, mistério, medo e receio é algo que faz o tópico ser um tanto sinistro para muita gente.

Com desdobramentos que podem render inúmeros roteiros, que vão desde as possíveis causas, com abordagens mais técnicas e palpáveis, até o pós-morte, onde entram os filmes de fantasmas, o tema é recorrente e muito válido para levar novas teorias e sensações ao público.

Uma das mais recentes obras que se aproveita desta pauta é “A Autópsia”, do diretor André Øvredal (“Trollhunters”). Na trama deste filme de terror, temos um caso de uma mulher que foi encontrada enterrada no porão de uma casa, local onde os moradores foram assassinados com brutalidade. O cadáver em meio à lama não pôde ser identificado e não há vestígios sobre a causa da morte.

Assim, o xerife Burke (Michael McElhatton) leva o corpo ao necrotério da família Tilden. Ali, Tommy (Brian Cox) e Austin (Emile Hirsch), pai e filho respectivamente, trabalham como legistas para solucionar os mistérios dos finados. Esta poderia ser mais um dia normal, com muitas vísceras e conclusões óbvias, mas esta desconhecida pode abrigar segredos sombrios.

Pensando na morte da bezerra

Não tem terror pior do que uma sessão enrolada com uma história previsível e pouco interessante. Este tipo de erro é comum em títulos do gênero, mas “A Autópsia” acerta em cheio ao ir direto ao ponto. Com menos uma hora e meia de duração, o roteiro não se preocupa com argumentos pífios, tampouco fica de enrolação na introdução.

Tão logo a desconhecida é trazida à luz da trama, os legistas já começam a dissecação. Apesar da pressa no exame, o roteiro dá pausas  para a explicação e detalhamento de cada etapa do processo. As cenas são chocantes e verossímeis, num nível que deixam os mais sensíveis assustados com os closes em meio às entranhas. O medo é lugar comum e sangue nunca é demais.

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Os procedimentos são bem explicados e devidamente aguçados pelas ótimas interpretações de Brian Cox e Emile Hirsch. Eles formam uma dupla muito convincente, profissionais ao extremo e pouco suscetíveis ao medo. Todavia, um caso tão expressivo requer atenção dobrada e pode deixar até o mais corajoso com os dois pés atrás.

Inebriado em mistério, o roteiro de “A Autópsia” conduz os protagonistas num caminho sem volta. Intrigados pelos inúmeros vestígios da dissecação, os dois tentam compreender o incompreensível. É tudo tão improvável, que o público pode se questionar quanto à viabilidade de um fim coerente, mas, fique tranquilo, ou melhor, fique bastante apavorado, pois o desfecho pode ser bem assustador.

Dissecação macabra do começo ao fim

A cada corte do bisturi, o público é levado para mais perto do cadáver, que tem sua história revelada aos poucos com base nas susposições dos protagonistas. As dúvidas começam a permear em meio às sequências de investigação, que são arrastadas – num tom que soma à construção dos enigmas – até o final, numa trama bem amarrada e pautada na tensão.

Parte dos acertos no tom de terror se dão aos cenários claustrofóbicos. A produção de “A Autópsia”, aliás, é bastante simples, sendo que o desenvolvimento se dá em dois ou três ambientes distintos. Essa objetividade no desenvolvimento é funcional, já que há elementos propícios para as cenas de tensão nos arredores do necrotério.

A produção se apoia em efeitos práticos, então não há muita necessidade de computação gráfica. A maquiagem contribui muito nesse sentido, ainda mais com as cenas constantes do processo de investigação. A desconhecida é interpretada por Olwen Catherine Kelly, que faz um incrível trabalho ao se manter inerte em longas sequênciasv (sério, vocês já pensaram como é difícil interpretar um morto?).

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Para ampliar a sensação de pavor, o filme aproveita as trilhas misteriosas da dupla Danny Bensi e Saunder Jurriaans, que a gente já apladiu pelos ótimos trabalhos em “O Presente” e “O Homem Duplicado”. O silêncio é intercalado com o uso adequado da sonoplastia, que se faz propícia para alguns sustos pontuais e outros que são desenvolvidos com simples elementos durante a trama.

No fim, o conjunto da obra é que ganha o espectador. “A Autópsia” é um terror que te arrasta para a mesa do necrotério e, sem precisar de cenas de flashback ou do uso recorrente de “jump scare”, te prende numa trama intrigante. Ótima pedida para quem é fã do gênero, mas vale o alerta: mesmo se você for corajoso, é bom ter cuidado, pois a curiosidade matou o gato!

Boa sorte e bons sonhos!

Fonte das imagens: Divulgação/Diamond Films

A Autópsia

Uma desconhecida com segredos sombrios

Diretor: André Øvredal
Duração: 86 min
Estreia: 4 / May / 2017