Crítica do filme Armas na Mesa

Empoderamento feminino que dá gosto!

por
Fábio Jordan

03 de Fevereiro de 2017
Fonte da imagem: Divulgação/Paris Filmes
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 6 min

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Política é uma ciência bastante ampla, que dá incontáveis pautas para filmes, afinal é um tema que abrange inúmeras questões da sociedade. Apesar disso, obras muito focadas em questões governamentais podem ser um tanto maçantes.

É claro que tudo depende da forma como o roteiro é construído e o rumo que ele toma, mas, no geral, as chances são grandes de que títulos enclausurados em escritórios e com linguajar muito pesado levem a plateia ao tédio num instante.

Aí é que entra aquela velha história de que depende como você conta a história. Este é justamente o trunfo de “Armas na Mesa”, obra que trata da questão da venda de armas nos Estados Unidos. Na trama, acompanhamos lobistas lançando suas cartas num jogo intenso que coloca senadores sob a mira das câmeras e deixa o povo pensativo sobre o futuro da nação.

O centro das atenções é Elizabeth Sloane (Jessica Chastain), uma lobista requisitada que faz tudo para vencer e abraça as causas com unhas e dentes. Ela recebe ofertas irrefutáveis, mas sempre toma o caminho mais difícil para defender seus ideais. Na questão da venda de armas, ela decide levar sua equipe ao extremo e provar seus pontos a qualquer custo.

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Com garbosidade, a senhorita Sloane joga com maestria e eleva o papel da mulher moderna ao máximo. Nesta disputa cheia de reviravoltas, “Armas na Mesa” apresenta mais da politicagem americana — que talvez pouco importe para alguns, mas que serve de exemplo em muitos pontos — e também fala sobre questões humanas que valem a reflexão. Vamos entrar em detalhes.

Politicagem que acerta em cheio

Desde que o mundo é mundo e o ser humano descobriu que podia usar a força para sobrepor seus desejos e vontades sobre outrem, a violência virou meio comum para obter vantagem. O debate é antigo e puxa uma série de outros temas — como educação, vingança, saúde pública — para os holofotes, sendo motivo de muita discussão.

E quando violência é pauta principal, o porte de armas ganha mais atenção. Muitos acreditam que uma forma de controlar a violência é garantir poder de reação igual a todos — já que nem sempre a segurança garantida pelo estado pode dar conta de todos os cidadãos. Essa é uma política antiga nos Estados Unidos da América e, aparentemente, ela funciona bem.

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Assim, o ponto em “Armas na Mesa” não é a remoção do direito, mas a restrição na aquisição. Na trama, frente à possibilidade de que uma regulamentação impeça que alguns indivíduos comprem suas armas, Elizabeth Sloane é contratada para “dar um jeito” de convencer mais senadores a votarem contra “esse absurdo” de normatização.

Como fazer isso? É lógico: basta convencer a população feminina de que elas precisam de armas, o que aumenta o número de consumidores e leva mais senadores a pensarem que não faz sentido mexer nesse assunto. Ao menos, essa é a sugestão de um político, que pensa também nas grandes marcas. A Taurus e a Smith & Wesson agradecem!

Após nossa lobista favorita recursar tal oferta e partir para novos rumos, o filme foca no outro lado da moeda, sobre a política arcaica, as dificuldades para o cidadão que apenas busca uma forma de defesa e o fortalecimento do mercado negro.

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Tudo isso fomenta ainda mais a pauta, que é balanceada com a senhorita Elizabeth Sloane lutando para mudar o rumo do país. Some aqui a guerra de lobistas, as artimanhas dos especialistas, a influência da mídia, o jogo sujo da política e os cidadãos que já sofreram por conta da violência. Pronto, você tem todas as armas na mesa! 

A mulher moderna em seu extremo

É justamente com Sloane em primeiro plano que “Armas na Mesa” alcança um resultado bem-sucedido. Apesar de o armamento ser o ponto principal, é a vida da lobista em todos os momentos que faz o roteiro acontecer. A história traz à tona a questão do empoderamento feminino, assunto em alta que dá “pano pra manga”.

A senhorita Sloane não apenas leva seu ofício ao limite, como também mantém uma ordem precisa de toda sua vida. É tanta dedicação, que o filme ainda dá espaço para outras pautas, como os problemas que o vício no trabalho podem trazer no dia a dia, bem como a falta de afinidade para relacionamentos.

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Com Jessica Chastain numa performance excepcional, somos convencidos da astúcia, da garra, da convicção e da atuação brilhante de Elizabeth Sloane. É uma mulher que está preparada para enfrentar as forças mais poderosas do mundo, e que o faz de forma elegante e muito determinada. Ela traça planos mirabolantes e ganha debates com argumentos fundamentados.

Eu sinceramente não sei como pode uma atriz ser tão majestosa, mas Chastain está de parabéns por todas as razões. Ela é concisa em cada fala, expressiva, se porta com estilo e dá cada olhar fulminante que deixa qualquer um assustado. Este é um filme dela, que apenas revela seu poder de atuação e enaltece as qualidades que ela tem para entregar ao mundo.

É importante pontuar que “Armas na Mesa” não vem para debater essa questão, tampouco faz questão de ficar jogando na cara o tema do empoderamento, mas cada ação apenas evidencia o óbvio que muitas vezes é escondido em grandes produções. Os homens podem até se achar os donos do mundo, porém basta uma mulher para mostrar como se faz o serviço.

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Apesar do título sugestivo, não espere um filme de ação. Esta é uma produção séria e focada em temáticas importantes. A direção de “Armas na Mesa” é redondinha e o roteiro é muito bem amarrado, então você vai se sentir muito confortável a apenas mergulhar na história.

Há momentos de tensão e a produção é bastante competente nos aspectos técnicos, o que torna política em uma pauta muito atraente. Ainda que não seja baseada em fatos, esta ficção tem muitas lições e vai surpreender você do começo ao fim!

Fonte das imagens: Divulgação/Paris Filmes

Armas na Mesa

Certifique-se de surpreendê-los

Diretor: John Madden
Duração: 132 min
Estreia: 2 / Feb / 2017