Crítica Batman vs Superman

O Universo DC nos cinemas começou e isso é o que importa

por
Edelson Werlish

24 de Março de 2016
Fonte da imagem: Divulgação/Warner Bros. Pictures
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 8 min

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Essa crítica possui o selo "Livre de Spoilers". Leia à vontade! 

Quando estreou em 2013, o Homem de Aço veio com a proposta de revigorar a história do super-homem nos cinemas, recriando a mitologia kryptoniana e repaginando o personagem aos tons sombrios de Christopher Nolan, diretor da estrondosa trilogia de sucesso O Cavaleiro das Trevas. Ali, como muitos já especulavam na época, eram os esboços iniciais para criar um universo de filmes compartilhados da DC, arquirrival editorial da também americana Marvel Comics. Não deu outra.

Foi durante uma Comic-Con, em San Diego (EUA), que o painel da Warner Bros. anunciou no telão o logo de Batman e Superman, com o locutor recitando uma passagem da graphic novel na qual os dois heróis se enfrentam. O auditório ficou eufórico e foi plantada a bomba da expectativa, o famoso "hype". A continuação de Men of Steel teria dois maiores heróis da cultura pop em cena, lutando entre si, e seria o ponta pé inicial para os futuros filmes da Liga da Justiça. O mundo nerd foi à loucura. 

Batman vs Superman: A Origem da Justiça é o começo dessa fase. O diretor Zack Snyder e sua equipe de produção, com nomes de peso como David S. Goyer, Chris Terrio, Hans Zimmer e o próprio Nolan, não pouparam esforços para criar minuciosamente cada parte integrante desse grande cosmo super-heróico da DC, o que é o mais visível e que se sobressai no filme. Era um desafio grande introduzir tantos novos personagens e criar um plano conciso onde Homem Morcego e Superman existam  algo nunca feito antes nas telonas. A primeira hora e meia do filme é basicamente responsável por isso. Vemos o desenrolar da destruidora batalha de Metrópolis, do final de Homem de Aço, e as consequências que essa trouxe a vida de Clark e Lois. Em contrapartida, temos a introdução do novo Batman, suas intenções e interesses.  

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As capas vermelhas estão chegando

Clark Kent, filho de fazendeiros de Smallville, está com sua vida consolidada em Metrópolis. De dia, repórter do grande Planeta Diário ao lado de sua amada Lois Lane. A noite, um Deus todo poderoso. Para alguns, um salvador. Para outros, uma verdadeira ameaça. A forma como Snyder explica essa dualidade é muito interessante, com as relações diretas do dia a dia de Kent ao mesmo tempo que exibe indiretamente a opinião pública por meio de telejornais e diálogos coadjuvantes. A presença de especialistas reais dando entrevista na CNN sobre o assunto é pedagógica e encantadora. Clark ainda está aprendendo a viver com o fardo de ser um 'estrangeiro' entre os humanos e as consequências de seus atos, o que, basicamente, é um caminho de amadurecimento interessante para um personagem tão forte. 

Mas, temos que falar sobre o novo Batman. Ben Affleck é o Batman, pessoal, e não tem o que discutir. Saudosistas de Christian Bale irão comparar, e muitos o criticarão, mas a verdade é só uma. Affleck incorporou o espírito do herói como nenhum outro ator tinha feito até agora. Esse cavaleiro das trevas é perturbado de verdade, um maníaco ao meio de uma cidade igualmente louca. "Temos um histórico ruim de malucos vestidos de palhaços", diria Bruce Wayne para se afirmar. Essa é a versão do herói velho e cansado, com 20 anos de vigilância nas costas e que já viu quase de tudo nessa vida, mas igualmente analítico, experiente e inteligente. É o Batman soldado, detetive, estrategista, sedutor e puto da vida, com aquela febre dentro do coração e os olhos focados em uma única missão: derrubar um certo alienígena.

O que me preocupava mais nessa mistura toda era como eles fariam essa ligação entre os dois principais, mas isso é bem trabalhado na trama. O longa balanceia muitos bem os dois heróis em tempo de cena, cruzando-os em passagens marcantes. Outro ponto importante e que é muito bem apresentado é a kryptonita verde, elemento essencial nos quadrinhos do homem de aço, e que acabou ficando de fora do primeiro filme. Ela é um dos elementos de ligação, que costura detalhadamente a ameaça real.

A Mulher Maravilha de Gal Gadot é outro destaque. Com presença marcante, forte e, por que não, sensual, a atriz é incorporada entre os dois brutamontes de forma certeira, dando um espetáculo na grandiosa batalha final do terceiro ato. Apenas um sorriso maroto e debochador, quanto é fortemente atingida, mostra que a heroína tem um passado de lutas e glórias, excelente forma para ligar ao seu vindouro filme solo.   

Você sangra? Vai sangrar!

Nem só de glórias Batman vs Superman é feito. Muito pelo contrário, o filme tem vários problemas e falhas. Tenho que ser honesto e dizer que não sou o maior fã de Zack Snyder, apesar de reconhecer suas várias qualidades, como design de produção e coreografias das lutas. 

Porém, diversas manias do diretor me irritam, como sua clássica assinatura de cenas em câmera lenta em demasia. A passagem final, por exemplo, após 2 horas de meia de tensão misturada com adrenalina, a última coisa que quero ver são cápsulas de tiro de canhão caindo no chão em câmera lenta numa cena triste que em pouco agrega ao conjunto. Junta-se a esse detalhe, uma direção que expõem diversas falhas de montagem e cortes de cena mal feitos. Uma hora está numa ascensão crescente, visando grandes emoções, mas, acaba sem sentindo algum cortando para a mãe de Clark servindo café numa lanchonete, por exemplo. Também há muitas subtramas desnecessárias e personagens aleatórios com importância aumentada, vide a senadora do congresso americano, apresentada nos trailers, que serve apenas de apoio para a formação de Lex Luthor como vilão. 

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Alexander Joseph "Lex" Luthor, versão Mark Zuckerberg encarnada por Jesse Eisenberg não convence, fato que com certeza dividirá as opiniões públicas. A guinada da personagem para um jovem gênio do mal, bilionário e lunático mais se aproxima das características de um Coringa do que o próprio Lex. O nemêsis do Superman culto extrapola em vícios vilanescos e metáforas de impacto cartunescas. "Sabe qual é a mentira mais antiga? Que os demônios não vêm do inferno, eles vêm do céu", profere Eisenberg, o que certamente funcionaria com um Lex Luthor de Kevin Spacey, mas fica empobrecido pelo jovem ator. Não por falta de talento, apenas por escolha de linha de atuação. Ele, ainda assim, confere um interesse único pela história e as oportunidades que pode oferecer futuramente no Universo Cinematográfico DC. 

O mais triste e síntese disso tudo, novamente, são os trailers. Já comentava com meus amigos próximos sobre o segundo preview liberado, no qual mostrava uma cachoeira de informações. Ele realmente entrega muito. Não há espaço para grandes surpresas nessa película se você viu os materiais marketeiros liberados. Mesmo assim, a maior delas e da sala de cinema ao todo, é ver a trindade: Superman, Batman e Mulher Maravilha juntos pela primeira vez. O embate final é muito bem arquitetado, assim como as demais lutas do homem morcego. Ele consegue ao mesmo tempo animar, depois de você esperar duas horas, e nos deixar empolgados pelo que virá nos próximos capítulos. Referências para a Liga da Justiça não faltam e tudo parece estar bem fundamentado. Não considero esse capítulo como um prelúdio para o Grand Show, mas, quando se tem esse trio de heróis para utilizar, as expectativas se tornam o maior vilão.

Quem ganha essa luta?

Batman vs Superman: A Origem da Justiça é um bom filme do gênero super-herói, com um charme sombrio e tenso, bem diferente dos cômicos da Marvel. Nele está presente o tom que a Warner/DC resolveu assumir em seu universo compartilhado, o que faz um contraste necessário num mercado que já começa dar sinais de sobrecarga. Compete agora a coordenação da casa consertar os erros sem atropelar o andamento do projeto ao todo. 

Fonte das imagens: Divulgação/Warner Bros. Pictures

Batman vs Superman: A Origem da Justiça

O Filho de Krypton vs. o Morcego de Gotham

Diretor: Zack Snyder
Duração: 151 min
Estreia: 24 / Mar / 2016
Edelson Werlish

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