Crítica de Beleza Oculta
Certifique-se de não perder a beleza desse filme
Volta e meia sai no cinema um daqueles filmes sem grandes pretensões. Uma entre tantas produções que se concentra em contar uma história bonitinha e que se usa de um bom elenco para se vender.
Em tempos de grandes empreendimentos com vistas à estatueta do Oscar, marcados por longas-metragens ambiciosos, com roteiros complexos e peixes grandes em todas as esferas - direção, roteiro, atuação -, "Beleza Oculta" chega para dar um alívio nas superexigências que nos fazemos ao sentar na poltrona do cinema.
A premissa é bastante comum ao gênero de drama: Howard (Will Smith), um publicitário novaiorquino, é um superdestaque na sua área, com uma carreira promissora, até que passa por um acontecimento pra lá de traumático - a perda de uma filha.
Seus sócios Whit (Edward Norton), Claire (Kate Winslet) e Simon (Michael Peña) o acompanham durante todo este doloroso processo e veem, desolados, seu amigo e colega traçando uma trajetória declinante até o fundo do poço. Até que decidem - ou se veem obrigados - a fazer algo a respeito.
Criativos que são - como um filme que se passa no universo publicitário, não poderia ser diferente -, Whit, Claire e Simon não poupam esforços tentando contribuir com a recuperação de Howard e é assim que nasce a solução perfeita. Eles recordam três pontos base que sempre fundamentaram a filosofia de vida de Howard e resolvem materializá-los: o Tempo, a Morte e o Amor.
Para dar vida a tais abstrações, contratam três atores. Raffi (Jacob Latimore) é o "Tempo", Brigitte (Helen Mirren), a "Morte", enquanto Amy (Keira Knightley), interpreta o "Amor".
Sem dúvida, todo esse time de peso - que traz ainda Naomie Harris na bagagem - é o grande trunfo de "Beleza Oculta". Para atores veteranos e extremamente capazes, interpretar papéis mais simples e sem grandes firulas talvez seja melzinho na chupeta. Por isso, todos tiram de letra suas atuações nessa história.
Destaque, claro, para Will Smith, que já nos provou que é um grande ator há bastante tempo e que vem construindo um legado de bons filmes, coroado com "Um Homem Entre Gigantes", que (injustamente, na minha opinião) também ficou de fora do Oscar.
Dirigido por David Frankell (O Diabo Veste Prada, Marley & Eu), e com roteiro de Allan Loeb (Coincidências do Amor), "Beleza Oculta" é aquilo que costumamos chamar de um filme redondinho.
Uma bela e comovente história contada de um jeito bem interessante - a dose certa de bom humor e a quantidade adequada de drama -, com pouquíssimos furos de roteiro e muita profundidade.
O bom aproveitamento da trilha sonora consegue levar o público às lágrimas - o que, convenhamos, não é exatamente algo difícil quando a gente está falando de uma história de um pai lidando com a morte da filha pequena.
Mas o filme parece seguir à risca a fórmula do drama bem feitinho, com sons lentos ou ausência de trilha nas horas em que devemos nos emocionar, e tons mais acelerados e animados quando o ritmo precisa ser apressado ou quando somos convidados a olhar com bom humor para a tragédia toda.
Por conta de tudo isso, "Beleza Oculta" é, no fim, nada surpreendente nem genial.
Um lembrete do quanto tudo pode desmoronar em um instante e ao mais leve toque, como um castelo de dominós.
Como passatempo, é uma boa pedida, mas é como o que comentei lá no comecinho do texto: aquela película de transição entre grandes trabalhos de artistas de renome, mas que não necessariamente precisa ser uma obra de arte.
Bom o suficiente para lotar as salas de cinema e engordar os cofres dos diretores e pra botar pra fora aquelas lágrimas quando procuramos um belo e triste filme pra ver.
Quando tudo parece perdido, como encontrar o caminho de volta?