Crítica Bingo: O Rei das Manhãs

Um palhaço muito fuleiro!

por
Fábio Jordan

31 de Agosto de 2017
Fonte da imagem: Divulgação/Warner Bros. Pictures
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 5 min

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O Brasil pode ter inúmeros defeitos, mas é inegável que nossa televisão sempre foi avacalhada ao extremo, o que resultou em várias gerações de bocas sujas e inúmeros memes. Até hoje, a galhofada dos anos 1980 ecoa em nosso cotidiano, sendo que muitos jovens foram moldados na patifaria e zoeira.

Um ícone da TV que marcou a vida de muita gente foi o palhaço Bozo que, apesar de ser voltado para a criançada, acabou conquistando os adultos mais sapequinhas com atrações ousadas, incluindo aí muita bunda remexendo, piadas de duplo sentido e improvisos que arrancavam muita gargalhada.

Agora, o Brasil pode conhecer — de forma fantasiada e superlativa — a vida do artista que sonhava em encontrar seu lugar sob os holofotes e conseguiu a vaga de palhaço mais famoso do Brasil, que aqui recebe o nome de Bingo. Debochado, o ex-astro de pornochanchadas conquista a garotada, mas tropeça nos excessos e se decepciona por ser apenas um anônimo.

Indo direto ao ponto, um filme muito engraçado cheio de bons momentos, que conquista pelo visual datado, mas muito colorido. Então, se a tua pira é diversão, piada suja com gostosas risadas, palhaçada de montão, vida boêmia e uma boa dose de nostalgia, se liga que o Bingo chegou aos cinemas!

Você liga e fala qualquer coisa pro palhaço mais sacana da TV!

Quem vivenciou essa época de programas de auditório com uma criançada louca pra aprontar ao vivo e conferiu a ousadia dos artistas brasileiros sabe bem que foi um período muito descontraído, cômico, zoado e cheio de sacanagem da pesada.

Ter a oportunidade de rever isso na telona após tantos anos é ainda mais engraçado, já que podemos perceber o tamanho da cara de pau de alguns palhaços, até porque era — e ainda é — tudo pela audiência. E que programa seria melhor para levar essa nostalgia às telonas? Pois é, o programa do Bingo é uma reconstrução completa do mito e do cenário em detalhes.

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Felizmente, além de focar bastante no palco, o roteiro também faz desvios constantes para mostrar o palhaço por trás do ator. Afinal, o grande xis deste filme não é mostrar apenas o tom fuleiro da TV, porém também retratar a vida do artista, indo desde seus desafios mais básicos, até a questão do esforço para levar uma cara mais autêntica para a telinha.

A atuação de Vladimir Brichta é a cartada mestra do longa-metragem. Ele domina os palcos, as câmeras, as camas e qualquer outra parada. Até dá impressão de que, tal qual o palhaço, Brichta também parece usar de improviso em várias situações — e se não o faz, seguiu um roteiro tão bem escrito que nos convence de que estamos mergulhados nos anos 1980.

Tal qual um verdadeiro programa de TV, o filme do Bingo é entretenimento — e sacanagem da braba — do começo ao fim

Complementa a trupe nomes como Leandra Leal — num papel chato, porém necessário para o contraponto — e Augusto Madeira, que vira o parceiro quase inseparável de aventuras do protagonista. Seja com uma simples risada ou com algum comentário que complementa a piada, os dois dialogam muito bem o tempo todo. Uma equipe bem entrosada e transada!

Palhaçada tem limite, né?

Ninguém precisa ter assistido ou conhecido o palhaço que inspirou a história do Bingo para saber que, em determinado ponto da trajetória, vai dar ruim. Afinal, filmes biográficos ou ao menos inspirados em eventos históricos geralmente contêm uma carga dramática, seja para ilustrar os deslizes dos famosos ou mesmo para impactar a plateia.

Apesar do sorriso expressivo, até o cartaz do Bingo (que está com o nariz sangrando) já revela esse tom de cagada premeditada. Sim, muito do que acontece é bastante previsível, até porque as “longas carreiras” dos famosos não são muito diferentes, então não é de ficar chocado com as reviravoltas do roteiro.

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Todavia, há aqui um forte argumento para o desenvolvimento de uma frustração incomum entre famosos: a ausência da fama. Apesar de dominar a audiência, o ator por trás da máscara não ficou conhecido, já que o chamariz do programa era o palhaço. É esse misto de insatisfação com muita piada que faz do filme uma verdadeira montanha-russa.

As brincadeiras são constantes no roteiro e até interferem de alguma forma na condução das cenas, porém a direção é bastante planejada e ousada. Daniel Rezende dá um show na condução das câmeras, com direito a planos-sequência muito bem detalhados e ousados. Curioso perceber como ele encontra brechas para cenas tensas e aproveitar isso para inovar.

Bingo não é apenas um dos melhores filmes brasileiros, como uma obra competente entre os tantos títulos gigantes que chegaram aos cinemas neste ano

“Bingo: O Rei das Manhãs” segue bem a cartilha do humor irreverente dos anos 80 e deixa a palhaçada tomar conta de cada detalhe, desde as ótimas cenas em palco, até as festas intermináveis embaladas por muita música festeira. E não se trata de uma pegada escrachada, mas de um tom bastante inteligente e coerente com a história do personagem.

Enfim, resumo da ópera: tem um filmão nos cinemas com um palhaço que conquista toda a criançada e se afunda no esgoto — e eu não estou falando do palhaço IT do Stephen King. E se eu puder te dar um conselho, é o seguinte: a vida já é amarga o suficiente, então corra ver esse filme no cinema para dar boas gargalhadas e pegar umas dicas de como curtir o rolê!

Fonte das imagens: Divulgação/Warner Bros. Pictures

Bingo: O Rei das Manhãs

O palhaço mais boca suja e sacana da TV!

Diretor: Daniel Rezende
Duração: 113 min
Estreia: 24 / Aug / 2017