Crítica do filme Colossal

Uma forma criativa de chamar atenção aos abusos

por
Thiago Moura

04 de Maio de 2017
Fonte da imagem: Divulgação/Paris Filmes
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 5 min

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Monstros gigantes (ou Kaiju) voltaram a moda, e agora Anne Hathaway é um deles, mais ou menos. "Kaiju"  é uma palavra japonesa que significa "besta estranha", "animal incomum", mas que costuma ser traduzida como "monstro", além daquele gênero característico de filme com seres gigantes destruindo cidades, como “Godzilla” ou “Círculo de Fogo”.

Mas não se engane: “Colossal” é um filme sobre Anne Hathaway, e de diversas outras mulheres pelo mundo, sobre abusos químicos e emocionais. Por acaso conta com a participação de um monstro gigante, talvez uma alegoria explícita e escancarada dos nossos monstros internos.

Antes de continuar, é importante dizer que alguns pontos abordados aqui podem revelar detalhes da história, nada que comprometa o filme, mas recomendo fortemente assistir antes de ler se quiser manter as surpresas que os trailers não revelam.

Gloria (Anne Hathaway) é uma colunista de revistas online em Nova York, mas atualmente não trabalha muito e passa a maior parte do tempo nas festas com as amigas, e está em um relacionamento codependente com seu namorado Tim (Dan Stevens). Tudo acaba desmoronando quando Gloria chega em casa pouco antes de Tim sair para trabalhar, ainda levemente inebriada, quando Tim decide que tudo passou dos limites, expulsando Gloria de casa.

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Gloria é forçada a voltar para Mainline, sua cidade natal, já que não tem mais para onde ir e precisa colocar sua vida de volta aos eixos. Ela acaba encontrando com seu amigo de infância Oscar (Jason Sudeikis), dono de um bar que passa a maior parte do tempo bebendo com seus amigos Garth (Tim Blake Nelson) e Joel (Austin Stowell).

As coisas parecem começar a melhorar para Gloria, com Oscar prontamente disposto a ajudá-la com o que for preciso, desde móveis para sua casa ainda vazia até um emprego e salário, ainda que regados a muita bebedeira após o bar fechar, algo que ajudou a piorar o alcoolismo de Gloria.

Enquanto isso, do outro lado do mundo, um monstro gigante apareceu misteriosamente em Seoul, Coréia do Sul. Com seus constantes apagões após beber a noite toda, Gloria demora para entender o que está acontecendo, mas descobre que o monstro está imitando todos seus movimentos enquanto ela passa por um parquinho local. Ao compartilhar isso com Oscar, subitamente um robô gigante aparece também, e as coisas começam a ficar complicadas.

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O diretor Nacho Vigalondo fez um excelente trabalho ao desconstruir o gênero de filmes com monstros gigantes, com uma história original, toques de comédia e muito peso emocional disfarçado. “Colossal” é um filme que engana a primeira vista, pois apesar de mostrar um monstro gigante dançando, foge totalmente do óbvio ao contar a história de uma mulher que precisa sobreviver e tomar o controle de sua própria vida, em paralelo a dois kaijus se enfrentando e tentando evitar que tudo piore. 

O primeiro ato mostra uma típica comédia romântica, com um possível novo amor e uma vida mais simples numa cidadezinha do interior. Porém, os vícios e problemas começam a surgir, começando com o óbvio abuso do álcool, que leva a rejeição do possível interesse amoroso que Oscar claramente tem por Gloria. A partir disso, o segundo ato mostra um drama psicológico, com Oscar perseguindo e fazendo de tudo para controlar Gloria, transformando-se de amigo querido em vilão. A descontração inicial dá lugar a momentos dramáticos e até pesados, principalmente no quesito emocional.

Com grandes poderes vem grandes responsabilidades

A súbita descoberta de que suas ações influenciam um monstro gigante que pode devastar uma cidade e diversas vidas inocentes despertam em glória um enorme senso de responsabilidade. Ela tenta se recuperar do alcoolismo, mapeia a cidade para não destruir mais nada e até tenta comunicar aos cidadãos que tudo aquilo não passa de um mal entendido.

Mas quando Oscar, o amigo que estava lá disposto a ajudar “sem segundas intenções“, faz exatamente o oposto. O poder sobe a cabeça e ele escancara o quanto ele é desequilibrado emocionalmente, tendo vivido por algumas decepções durante a vida, acaba usando o kaiju como uma fuga, da forma mais irresponsável possível. É claro que Gloria não compactua com nada disso, então Oscar começa a ameaçar e chantagear a amiga.

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Tudo piora quando Tim vai em busca de Gloria e ela pensa em retornar a sua vida antiga, agora que está conseguindo se recuperar de todos os problemas. Claro que não funciona como deveria. Tirando o fato de existir monstros e robôs destruindo uma cidade, as situações e momentos mostrados ali são infelizmente verdadeiros demais. Mesmo em cenas menores e personagens secundários, fica claro que cada um possui um monstro que precisa combater dentro de si.

Visualmente, os kaijus ficaram realmente impressionantes. Vigalondo conseguiu tornar os personagens convincentes e cativantes, com direito a história de origem e final catártico, ainda que bastante surreal. Você pode até ter procurado assistir o filme para ver uns monstros destruindo tudo, mas vai continuar a assistir ao ver situações reais que acontecem o tempo todo e personagens humanos até demais. Nessa onda de remakes, sequências de 17 filmes iguais e adaptações literárias, é interessante ver que ainda existem histórias originais e relevantes para serem contadas.

Fonte das imagens: Divulgação/Paris Filmes

Colossal

Problemas colossais

Diretor: Nacho Vigalondo
Duração: 110 min
Estreia: 15 / Jun / 2017
Thiago Moura

Curto as parada massa.