Crítica do filme Contrato Vitalício

Era melhor continuar no YouTube...

por
Fábio Jordan

01 de Julho de 2016
Fonte da imagem: Divulgação/Paramount Pictures
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 6 min

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Já se vão uns bons anos desde que o canal Porta dos Fundos estreou no YouTube e deu uma repaginada na forma de fazer humor na internet.

O grupo liderado por Fábio Porchat e Gregorio Duvivier tem centenas de bons vídeos – e alguns tantos também de gosto duvidoso – em seu portfólio. Com o passar dos anos, a equipe passou de um simples canal dedicado a pequenos esquetes a uma produtora de conteúdos mais elaborados.

Nos últimos anos, tivemos a chegada de duas webséries bem interessantes: Viral e O Grande Gonzalez. Além disso, vários dos atores que fizeram sucesso ali resolveram bater asas para outra mídia: o cinema.

Aí que, vendo a oportunidade, a turma toda resolveu fazer um longa-metragem. Intitulado como “Contrato Vitalício”, o primeiro filme do Porta dos Fundos conta a história de dois amigos, o diretor Miguel (Gregorio Duvivier) e o ator Rodrigo (Fabio Porchat), que são premiados num festival internacional de cinema. Na ocasião, após beberem todas, Rodrigo assina um contrato para participar dos próximos filmes do cineasta.

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Só que Miguel desaparece misteriosamente. Agora, depois de dez anos, ele reaparece com uma proposta maluca para um novo filme. Rodrigo, apesar de famoso e de desconfiar da sanidade do amigo, honra o contrato e topa participar do projeto que pode acabar com a sua carreira e sua vida.

O resultado? Tanto o filme fictício na telona quanto o próprio “Contrato Vitalício” tropeça bastante ao insistir nas mesmas piadas e apresenta uma história pra lá de entediante. Parece que o humor marcante no YouTube passou longe do roteiro. Não recomendamos, mas vamos falar mais do porquê você não precisa correr ver este filme nos cinemas.

Roteiro sem pé, nem cabeça, nem graça

A história de “Contrato Vitalício” não é de toda ruim. O filme começa bem, apontando as características um tanto duvidosas de grandes festivais e tirando sarro de algumas produções mais artísticas. O humor já nos primeiros minutos de película é bem ácido (para não dizer idiota) e vai contra muito daquilo que a gente vê nos vídeos do Porta dos Fundos.

Ignorando as piadas cretinas – algumas pautadas em cima de questões estéticas –, que estão ali claramente atreladas aos estereótipos do personagem, o filme parte para uma comédia que dá certo. Após o sumiço de Miguel, com novos personagens (interpretados pelo elenco do canal) em cena, o filme começa a engrenar e segue com tom de deboche sobre a própria web e o meio artístico.

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Algumas piadas dão certo, arrancam risadas do público. As mesmas piadas são repetidas, ainda parecem funcionar como forma de descontração. Aí o filme começa a bater na mesma tecla até dizer chega. No canal, isso dá certo, porque são vídeos curtos, mas o mesmo não vale na telona. Enfim, depois de ver que a graça está acabando, o roteiro se concentra na trama principal. E aí a lambança está feita.

A história principal tem um argumento fraco e, como o próprio filme tira sarro, parece um daqueles filmes que o Adam Sandler assina quando está bêbado. É bizarro, pois o filme tenta jogar justamente sobre essa a ideia de que roteiros improvisados são os que funcionam para premiações. Só que não é assim, ainda mais com um desenvolvimento tão cretino como o proposto pelo roteiro de Fabio Porchat e Gabriel Esteves.

É rir pra não chorar - também vale dormir

Pelo menos, tem algumas coisas que se salvam. É o caso da direção de Ian SBF, que já mostrou seu talento previamente em “Entre Abelhas” (filme também com Porchat). O cineasta é um dos responsáveis pela boa qualidade dos esquetes do Porta e assume a direção nos projetos mais longos com a mesma pegada.

A direção de Ian SBF é marcada com cenas de pingue-pongue, onde a câmera sempre corta pra piada. Claro que os diálogos são pautados nisso, mas a ideia é sempre mostrar a cara dos humoristas, dando ênfase aos momentos mais engraçados. Ideias que já vimos no canal são reaproveitadas aqui, como abordagens dentro de veículos e em ambientes inusitados.

O filme só reforça estereótipos quanto ao cinema nacional, com apelação desnecessária e roteiro bem fraco

O filme não se resume a isso, óbvio, e tem boas sequências de transição, com direito ao uso de gruas. O orçamento mais folgado permitiu essa liberdade de explorar tomadas incomuns nos quadros do Porta. Com a Paramount na jogada, o filme também ganha algumas cenas em estúdio, que são importantes para o desenvolvimento da trama.

No desenrolar da bagunça, algumas atuações ainda ganham méritos, como a dupla principal, que tem mais importância e diálogos menos idiotas. A gente sabe dos talentos, enquanto humoristas, dos demais atores, mas o problema é que eles são colocados em papéis muito ruins, de uma galhofa sem tamanho e sem graça alguma. 

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O pior mesmo é que “Contrato Vitalício” só reforça estereótipos que todos já temos quanto ao cinema nacional. Talvez o longa não seja tão ruim quanto muitas comédias de uma certa produtora que tem por aí, mas ele é tão fraco que ainda precisa apelar para subcelebridades com quem ninguém se importa, como Naldo e Sérgio Malandro. Tá feia a coisa mesmo... 

Ainda bem que o Porta dos Fundos não tem um Contrato Vitalício com uma grande produtora, pois se é para entregar esse tipo de humor na telona (que custa caro ao espectador), melhor continuar no YouTube, onde os esquetes funcionam melhor – e pelo menos o público não sai com o bolso lesado.

Veja o filme quando você quiser perder tempo e ver algumas ceninhas engraçadas, mas pode esperar sair no YouTube mesmo, que o ingresso no cinema não vale a pena.

Fonte das imagens: Divulgação/Paramount Pictures

Porta dos Fundos - Contrato Vitalício

Cada um tem o contrato que merece

Diretor: Ian SBF
Estreia: 30 / Jun / 2016