Crítica do filme Invasão de Privacidade

Ninguém está seguro

por
Fábio Jordan

17 de Novembro de 2016
Fonte da imagem: Divulgação/Imagem Filmes
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 6 min

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Não é de hoje que ouvimos notícias sobre problemas de segurança e privacidade na web, as quais podem ser desdobradas em dezenas de outras com pautas bem preocupantes.

O crescimento no uso das tecnologias tem motivado Hollywood a apostar algumas fichas em temas que abordam tanto a tecnologia quanto a ingenuidade – e até a perversidade – de algumas pessoas.

Uma ideia recorrente é mostrar a grande quantidade de dispositivos e serviços que expõem a privacidade, a qual também é usada na trama de “Invasão de Privacidade”, que ressalta coisas como a dependência dos usuários e perigos extremos aos quais estamos expostos.

O roteiro é centralizado em Mike Regan (Pierce Brosnan), um empresário bem-sucedido que tem tudo: esposa maravilhosa, linda filha adolescente e casa com tecnologia de última geração. Como bom milionário que é, Regan usa e abusa da tecnologia em cada canto se sua vida, inclusive em sua empresa de aviação.

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Sua companhia está prestes a mudar o ramo com um novo aplicativo, mas a coisa já desanda quando nem mesmo o arquivo de PowerPoint funciona direito. Para dar um jeito na situação, o magnata chama Ed Porter (James Frecheville), novo funcionário temporário de TI, para dar uma forcinha na apresentação.

O rapazinho manja dos computadores, o que desperta a atenção de Regan, que não pensa duas vezes em contratá-lo e também pedir uma mãozinha para melhorar o WiFi em casa. O milionário só não imaginava que o jovem aproveitaria as oportunidades para tomar o controle de brechas na vida dele e deixar o jogo perigoso.

Tecnologias de ponta, mas pouco convincentes

Como todo hacker cheio de esperteza, Ed Porter aparece na trama com brinquedinhos de última geração, os quais até são mais sofisticados do que os mais tops do mercado. O cara trabalhou até para a NSA e por isso detém um arsenal de tecnologias fantásticas, prontas para impressionar o espectador e dar o pretexto necessário para o desenvolvimento do roteiro.

Um problema recorrente dos filmes de Hollywood é subestimar a esperteza da plateia, algo que também acontece neste longa. Tudo bem que os roteiristas elaboram textos pensando num público enorme, mas é preciso pensar algumas decisões para não deixar a história pouco inteligente e cheia de brechas, principalmente quando tem tecnologia envolvida.

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É claro que há dificuldades em trabalhar com tecnologias nas telonas, já que cenas no âmbito virtual são complicadas de conversar com situações do mundo real, porém, neste caso, é preciso que a produção dedique algum empenho adicional para a construção dessas ocasiões.

Cenas com interfaces digitais tentam desapegar dos visuais que já conhecemos, mas descuidos trágicos acabam complicando a execução. Cenas malfeitas ou até genéricas deixam o filme um tanto maçante. Outras que tentam impressionar com aparatos acabam não convencendo, pois obviamente é um exagero descomunal só para causar a sensação de perigo.

Há algumas coisas que se salvam e que podem acontecer no mundo real, caso de invasões à distância que podem garantir ao hacker o acesso a vários dispositivos. O modo como isso é executado que incomoda, ainda mais quando há momentos em que o filme divaga com trilhas pouco empolgantes e o jovem hacker digitando qualquer coisa aleatória no computador.

Brechas de lógica no roteiro

O roteiro de “Invasão de Privacidade” é bem previsível, ainda mais com o trailer que revela quase toda a trama. Todavia, há determinadas sacadas no roteiro que tentam ajudar e desenvolver algumas ideias pouco abordadas no cinema ou que simplesmente merecem ser discutidas perante ao atual panorama de segurança no mundo digital.

Primeiro, temos a descaracterização do estereótipo nerd – do tipo gordo, de óculos, tímido e desajeitado –, que vem a calhar na construção do personagem interpretado por James Frecheville, já que quebra padrões e se encaixa de forma mais natural aos acontecimentos do roteiro.

Tecnologias de ponta não salvam um roteiro bem fraco, mas há bons argumentos na trama

Aliás, a construção deste personagem é interessante, uma vez que não temos aqui apenas um nerd. Ed Porter agrega outras características em sua história, algumas até bastante perigosas e outras que visam acrescentar outras temáticas ao filme – não que isso seja feita de forma muito convincente ou inteligente, mas há uma tentativa de ir além do óbvio.

“Invasão de Privacidade” pauta também o debate sobre o descuido nas redes, algo ainda mais recorrente por adolescentes (como a filha de Mike Regan) que compartilham tudo sem tomar o mínimo de cuidado. É como uma crítica à exposição de privacidade que os próprios usuários cometem sem se dar conta.

Entretanto, se por um lado o filme tem alguns acertos, há mancadas incabíveis que deixam o espectador questionando toda a trama. Quem imaginaria que um milionário teria uma equipe de TI tão ruim em sua empresa que está lançando uma nova tecnologia no mercado? E pior, quem poderia imaginar que esse magnata não teria seguranças em casa? Enfim...

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Bom, “Invasão de Privacidade” ressalta uma importante mensagem: ninguém está seguro. Não importa as tecnologias, as senhas, os métodos de segurança. Todos são vulneráveis. O mundo retratado no filme – ainda que falho e com coisas estúpidas – é um espelho do real, em que humanos são protagonistas.

O mal e a inocência reside em nós. Resta saber se você é um elo frágil – que deixa rastros e brechas na web –, alguém controlado ou um vilão. No geral, temos aqui um filme com ideias legais, mas nada de extraordinário que justifique a ida ao cinema. Veja em casa e com a internet desligada!

Fonte das imagens: Divulgação/Imagem Filmes

Invasão de Privacidade

Onde não há privacidade, segredos pessoais podem viralizar em um click

Diretor: John Moore
Duração: 95 min
Estreia: 10 / Nov / 2016