Crítica do filme Invocação do Mal 2

O Terror em sua forma mais assustadora

por
Fábio Jordan

09 de Junho de 2016
Fonte da imagem: Divulgação/Warner Bros. Pictures
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 6 min

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Com tantos filmes de terror tomados por clichês estreando quase todos os meses, a gente fica até impressionado quando sai de uma sessão e pode dizer de boca cheia “esse sim deu medo de verdade”.

Não por acaso, muitos amigos que me acompanharam na pré-estreia de “Invocação do Mal 2” tiveram impressão similar desta nova obra de James Wan. Alguns mais suscetíveis aos truques cinematográficos ficaram até meio abalados com as cenas aterrorizantes, o que apenas evidencia as qualidades do filme.

Pois bem, apesar de o título sugerir uma continuação direta, esta sequência não faz uma ponte direta com o antecessor, tampouco exige que o expectador tenha visto o primeiro filme. Em “Invocação do Mal 2”, os investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren vão para Londres com o objetivo de ajudar a família Hodgson a combater espíritos malignos que assombram sua casa.

Chegando lá, os investigadores descobrem que um antigo morador da casa voltou do mundo dos mortos para atormentar as crianças e tirar o sono da mãe que já sofre bastante para criar os quatro filhos. Em uma fase um tanto duvidosa, os profissionais ficam receosos de que o caso seja apenas uma encenação e precisam conseguir provas para que a igreja ajude os integrantes desta família.

Tensão do começo ao fim

Pensando em quem não viu o primeiro filme e até para dar uma incrementada na fama dos Warren, “Invocação do Mal 2” começa retratando uma curiosidade bem interessante sobre os detetives. Em uma cena bem montada, o longa leva os espectadores a um caso que não tem ligação direta com a trama principal, mas que deixa um gostinho de medo já marcante nos primeiros minutos de filme.

A partir disso, o filme dá uma descontraída para nos levar até Londres, longe de onde o casal de detetives costumava atuar em suas investigações. O clima é bem diferente no Reino Unido e a montagem com cenas antigas para levar a plateia para a época do caso é convincente. Não demora muito para sermos convidados a entrar na casa dos Hodgson. A partir disso, a paz e o sossego deixam a sala de cinema.

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A história segue de forma lenta até que os Warren entrem em evidência novamente, mas a ausência do casal acaba sendo benéfica, uma vez que o filme consegue desenvolver a trama sem depender dos poderes de Lorraine Warren e da coragem de Ed Warren. Além disso, essa abordagem mais focada na família britânica dá espaço para novos personagens e atores.

Com montagens simples e cenas que não parecem oferecer perigo, o filme deixa o público tenso e atento à telona. 

O roteiro se apresenta muito coerente, algo até bem evidente considerando o trabalho em conjunto dos irmãos Hayes (responsáveis por roteiros de filmes como “A Casa de Cera”, “Terror na Antártida” e “Invocação do Mal”), em parceria com James Wan (diretor do filme) e David Leslie Johnson (que escreveu o texto de “A Órfã”).

Contudo, ainda que a história se mostre muito interessante, o sucesso do filme só é alcançado graças ao esforço da novata Madison Wolfe (que interpreta a menina Janet Hodgson), da talentosa Frances O'Connor (a mãe Peggy Hodgson) e do jovem Benjamin Haigh (no papel do caçula Billy Hodgson).

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Apesar da inexperiência de alguns dos talentos mais juvenis, a inocência das crianças é explorada de forma inteligente, deixando a plateia com dó dos pequeninos, ao mesmo tempo em que a produção consegue pregar boas peças. Com montagens bem simples e cenas que não parecem oferecer perigo, o filme deixa o público tenso e atento à telona.

Referências claras e genialidade pontual

James Wan é um sujeito peculiar, que já mostrou sua familiaridade com o suspense e o terror desde que tomou as rédeas de “Jogos Mortais”. De lá para cá, o diretor australiano se mostrou ainda mais empenhado e criativo em filmes do gênero, incluindo aí “Sobrenatural” e “Invocação do Mal”.

Há uma construção de tomadas demoradas, em que a plateia é levada para perto da cena, fugindo dos clichês.

Em “Invocação do Mal 2”, Wan se reafirma como inovador ao apresentar boas ideias (ainda que algumas sejam inspiradas por outras obras) para impressionar o público. Há várias situações em que fica claro que o diretor pegou referências até mesmo de jogos como Silent Hill, como a cena no porão que está cheio d’água.

Outros títulos como “Horror em Amityville” e “O Exorcista” também marcam presença entre as principais bases para a composição de roteiro e visual de “Invocação do Mal 2”. Isso não é um problema de forma alguma, sendo até admirável ver que o diretor não poupou esforços para fazer a plateia ficar receosa quanto ao obscuro, com base no sucesso de outras grandes obras.

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Aliás, se tem uma característica que vale destaque aqui é a capacidade do diretor em prender a atenção do espectador na telona. Diferente de outros filmes em que alguns clichês óbvios só assustam pelo volume alto e a mudança súbita de câmera (a tal da técnica de jump scare), aqui há uma construção de tomadas mais demoradas, em que a plateia é levada para perto da cena.

Muitos planos-sequência convincentes, o abuso excessivo da escuridão (e brincadeiras com luz e sombra), o posicionamento de câmera irregular, uma cena em primeira pessoa, a trilha sonora de arrepiar e efeitos especiais de qualidade — com direito a criaturas que amedrontam qualquer um — garantem o sucesso da película.

O resultado não poderia ser diferente. “Invocação do Mal 2” se mostra um terror de primeira do começo ao fim, mantendo a plateia tensa e levando o público a pegar interesse pelo gênero. O longa eleva o nível e solicita que novas obras sigam uma cartilha que fuja do óbvio. Esperamos pelo próximo caso dos Warren com muita ansiedade.

Fonte das imagens: Divulgação/Warner Bros. Pictures

Invocação do Mal 2

Uma nova história real dos casos de Ed e Lorraine Warren

Diretor: James Wan
Duração: 133 min
Estreia: 9 / Jun / 2016