Crítica Jason Bourne
As definições de segurança digital foram atualizadas
"Talvez seja pior do que o vazamento de Snowden."
A franquia Bourne ganha um novo fôlego nas telonas com seu quinto filme, nomeado simplesmente Jason Bourne. Ao mesmo tempo que traz de volta seu ator e personagem principal (o quarto filme foi protagonizado por Jeremy Renner com outro papel), o mais recente longa funciona como um reboot para atualizar a série clássica de thriller de ação e espionagem.
O capítulo invoca o agente criado pelo escritor Robert Ludlum, junto com seus consagrados elementos de suspense e cenas de ação impactantes, e faz um mix com questões políticas e sociais que pairam no debate contemporâneo, como uso da tecnologia para o bem ou mal.
O diretor Paul Greengrass, que já comandou outros dois capítulos da história ao lado de Matt Damon, é um cineasta que sabe enxergar o seu tempo e introduzir esse tipo de discussão em suas obras. Do mesmo modo que construiu a trama de A Supremacia Bourne e de sua sequência, O Ultimato Bourne, em cima de temáticas pontuais, seja das ameaças terroristas ou prepotência de programas de defesa militar, desta vez parte para a questão de segurança digital e poder de metadados, deixando a reflexão sobressair o contexto da aventura: nós temos direito à privacidade dentro da internet e qual o limite para os governos invadirem nossa vida virtual?
Esses são tópicos recentes dos noticiários. Nós podemos acompanhar a saga do FBI nos Estados Unidos para que a Apple libere o desbloqueio dos iphones para investigação de vários crimes. No próprio Brasil estamos passando por eventos que exemplificam esse conluio. A Polícia Federal necessita de informações presentes em conversas via o aplicativo Whatsapp para dar sequência aos seus casos. Porém, os termos e políticas de privacidade entre app e usuários impedem que esses dados sejam descriptografados, sistema que tem respaldo legal e jurídico. O resultado disso é conhecido dos brasileiros.
Um ou outro juiz na incumbência de fazer justiça determina que o aplicativo seja tirado do ar, de forma a pressionar a empresa responsável para que libere as informações. Fato que ainda hoje não gerou nenhum fruto concreto, a não ser milhões de pessoas enfurecidas sem seu aplicativo de mensagens, ou, a prisão momentânea de Diego Jorge Dzodan, vice-presidente do Facebook na América Latina – justamente pelo fato da companhia não disponibilizar as conversas de suspeitos de tráfico de droga para a polícia.
Agora pegue toda essa balbúrdia e encaixe com a história de Jason Bourne. Esse é exatamente o filme que você verá no cinema.
No longa, JB lembra praticamente de toda a sua vida. Porém, com um novo programa da CIA sendo criado, o Iron Hand, o fugitivo volta à ativa para cavar mais um pouco da seu passado e investigar os novos movimentos feitos pela agência de inteligência dos EUA.
A adição de nomes consagrados à trama são positivos. O veterano Tommy Lee Jones faz o papel do diretor da CIA; Vincent Cassel é o “contato”, responsável pelo trabalho sujo da agência; e, a bela e oscarizada Alicia Vikander assume o papel de coadjuvante como personagem que descobre os podres que estão acontecendo e jogando pelos próprios princípios.
O ator inglês com ascendência indiana, Riz Ahmed, faz o gênio bilionário Aaron Kalloor, dono da maior rede social do mundo (já sabe de quem estamos falando aqui na vida real, não é). A personagem é um ponto-chave para história, visto sua inspiração, ou mesmo atuação direta de dono de rede social. Ele é responsável pelo embate de liberação de informações sigilosas para um grande plano de segurança global. Aliado à equipe está o retorno de um ótimo Matt Damon, confortável e em forma para refazer um de seus papéis de mais destaque em sua carreira, e que dessa vez também é creditado como produtor do longa-metragem.
No conjunto da obra, Jason Bourne, o filme, consegue se reciclar. A eterna luta do espião para descobrir seu passado é mantida de maneira secundária, dando lugar a novos conflitos. A forma como o conteúdo atual é encaixado ao enredo cria, de forma dinâmica, uma nova fase e permite diversas opções a serem seguidas pela franquia.
Se estruturalmente o roteiro não apresenta tantas mudanças, e já sabemos o quanto Bourne é bom em chutar bundas e escapar de cilada atrás de cilada, é justamente o mote de segurança digital, privacidade e perguntas deixadas no ar que enriquecem esse capítulo. Então cuidado: um clique no mouse pode ser mais fatal que o disparo de uma arma. Vá ao cinema ver esse filme, e use antivírus.
Você conhece o nome dele!