Crítica do filme Kóblic

Alçando voos não tão altos

por
Thiago Moura

24 de Setembro de 2016
Fonte da imagem: Divulgação/Paris Filmes
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 3 min

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Ricardo Darin, presente em todos diversos filmes argentinos novamente faz parceria com o diretor Sebastian Borensztein (de Um Conto Chinês) em um drama construído sobre a consciência de um piloto atormentado por seu passado militar durante a ditadura.

O ano é 1977 e somos apresentados ao capitão Tomás Kóblic (Ricardo Darín), comandante da Marinha Argentina, chegando ao fictício povoado de Colonia Elena, localizado em algum lugar da província de Buenos Aires, para trabalhar como piloto de pulverização nos campos da região. Durante a trama, Kóblic é atormentado por cenas de seu passado sombrio, e os reais motivos de sua chegada ao povoado levantam suspeitas do xerife Velarde (Oscar Martínez).

Progressivamente e em momentos bem distintos, os “flashbacks” de Kóblic mostram que sua missão era pilotar um “voo de morte”, basicamente arremessar pessoas em alto mar de dentro de um avião. Ele se recusa a participar dessa atrocidade, mas apenas quando já é tarde demais. Por sua insubordinação, ele precisa se esconder por um tempo, e essa é a razão por escolher pilotar um avião de pulverização em um local isolado.

Uma história de amor não muito bela

Durante sua estadia no povoado, o avião que ele deveria pilotar acaba quebrando, impossibilitando o trabalho. Contudo, como não pode sair dali, Kóblic permanece fazendo trabalhos em um hangar para um amigo que o está ajudando a permanecer escondido. O xerife começa a desconfiar dele, e as suspeitas aumentam ainda mais quando ele descobre que Kóblic é um militar, fato que havia sido ocultado até então.

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E para complicar ainda mais, o piloto acaba se apaixonando por Nancy (Inma Cuesta), que corresponde imediatamente a esse amor. Ela trabalha no posto de gasolina e é casada, de certa forma, com um tipo não muito amigável. Os detalhes desse “casamento” acaba sendo a única profundidade da personagem, pois seu papel aqui é de dama indefesa esperando pelo seu príncipe encantado que pilota aviões

E dessa forma, os papéis são bem definidos, no velho maniqueísmo mocinho contra bandido. Mas para deixar isso ainda mais explícito logo nos primeiros momentos vemos Kóblic salvar um cachorrinho com a pata machucada em uma noite de tempestade, enquanto que o vilão xerife Velarde assassina friamente um cão que late incessantemente para proteger seu dono, apenas para mostrar o quanto é mau.

Toda a trama é claramente uma analogia ao período da ditadura, sendo o povoado uma representação em miniatura da Argentina, o xerife Velarde um corrupto e totalmente favorável ao nepotismo, tratando brutalmente todos os que se opõem aos seus métodos.

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Apesar das excelentes atuações e dos aspectos visuais e sonoros, a história demora para ser desenvolvida e nos minutos finais parece um filme diferente, talvez uma licença poética em relação a justiça e uma conclusão para a trama, mas que destoa muito do resto e não convence. A impressão é de que para Kóblic, a única punição para seus crimes é sua própria consciência.

É sempre interessante acompanhar filmes fora do eixo Hollywoodiano, mas infelizmente a procura por filmes chamados de "estrangeiros" nas salas de cinema é ínfima se comparada aos títulos mais comerciais. Kóblic acaba chamando atenção pela direção e atuações, mas possivelmente será abafado por ser uma história bem focada e que talvez não agrade o público em geral, mas ainda é uma opção interessante.

Fonte das imagens: Divulgação/Paris Filmes

Kóblic

Confira o trailer deste filme dirigido por Sebastián Borensztein

Diretor: Sebastián Borensztein
Duração: 92 min
Estreia: 13 / Oct / 2016
Thiago Moura

Curto as parada massa.