Crítica do filme Kong: A Ilha da Caveira
Monstros gigantes se digladiando!
Quando eu era criança, assisti ao filme “King Kong” (de 1976) e fiquei fascinado e amedrontado na mesma proporção. Na minha cabeça inocente tudo aquilo era plausível e sonhei durante uns três dias que o Rei Macaco me perseguia e eu precisava me esconder.
Depois disso, meu interesse por monstros gigantes destruindo tudo apenas aumentou, e onde o mais recente Godzilla falhou, Kong triunfou. Esse é um filme sobre monstros gigantes, e eles se mostram presentes sem cerimônia, e todos são visualmente incríveis.
“Kong: A Ilha da Caveira” começa com uma sequência de flashbacks dos anos 40, apenas para contextualizar alguns personagens da trama, mas o filme se passa no ano de 1973 nos Estados Unidos. O exército americano abandona oficialmente a Guerra do Vietnã e o país parece dividido, preocupados com a segurança nacional.
Aparentemente esse é apenas mais um filme sobre a Guerra do Vietnã com uns monstros de pano de fundo, mas na verdade é exatamente o oposto. É aí que entra Monarch, uma empresa responsável por monitorar e caçar organismos terrestres não identificados, e para quem não viu ou não pegou a referência, é a mesma Monarch que aparece em Godzilla.
Baseados em fotos de satélites, eles descobriram uma ilha inexplorada com ares místicos no estilo “Triângulo das Bermudas”. Bill Randa (John Goodman) é quem implora ao governo para liderar essa missão de reconhecimento, e pede um destacamento de soldados, “apenas por precaução”. Fica óbvio que ele já sabe o que esperar da Ilha da Caveira, mas suas intenções só são reveladas mais adiante.
Quem o acompanha é Houston Brooks (Corey Hawkins), um cientista da Monarch responsável pela peculiar “Teoria da Terra Oca”. E a cavalaria é composta pela unidade do Coronel Packard (Samuel L. Jackson), um veterano de guerra que está frustrado pela guerra ter acabado e animado por ainda restar uma última missão, Jason Conrad (Tom Hiddleston), ex-militar conhecido por suas habilidades de rastreamento e expedição e a fotojornalista “antiguerra” Mason Weaver (Brie Larson).
E é basicamente isso, além de alguns outros cientistas e diversos soldados dispensáveis, que estão ali apenas para morrer de diversas formas na Ilha. O legal é que não demora até o que realmente interessa acontecer, pois assim que eles chegam na Ilha e começam a soltar bombas para mapear o território (que ideia boa, não?), King Kong aparece enfurecido e começa a detonar os helicópteros!
Misturando efeitos visuais de ponta e captura de movimentos de Terry Notary e Toby Kebbell, que já haviam trabalhado com captura de movimentos em Planeta dos Macacos, Kong tem mais de 30 metros e é extremamente intimidador, e essa aparição já é marcada por várias cenas memoráveis. Talvez o único ponto negativo é que ele se parece mais com um humano gigante e menos com um gorila, mas nada que atrapalhe o filme.
Como rei da ilha, sua função é manter tudo em ordem, isso inclui enfrentar todos os outros monstros e vencer. E a Ilha da Caveira é lar de uma fauna diversificada e amedrontadora, que mantém os visitantes em constante estado de alerta, já que as ameaças são de variadas formas, mas todas letais.
"Kong: A Ilha da Caveira" possui um ritmo que faz duas horas passarem rápido, sendo um excelente filme para apenas se entreter, o balanço perfeito entre ação desenfreada, humor descompromissado e visuais estonteantes. Esteticamente, o diretor de fotografia Larry Fong se inspirou bastante em "Apocalypse Now" de Francis Ford Coppola, mas a edição, história e cenas de ação do filme se destacam para algo mais “mostre, não conte”, acompanhada de uma trilha sonora empolgante de rock dos anos 70.
Sem dúvida o único personagem realmente cativamente é Hank Marlow (John C. Reilly), um pirado morador (involuntário) da Ilha. Sua atuação se confunde com o personagem de Tim and Eric Awesome Show, do Adult Swim. Ele interpreta o Doutor Steve Brule, cujo jargão é "good for your health (bom para a sua saúde)", frase que está estampada na jaqueta de Hank Marlow. Pode parecer um easter egg bobo, mas ajuda a entender o personagem.
Ele serve de guia aos incautos visitantes, avisando sobre os diversos perigos que devem ser evitados e prestando uma grande ajuda aos sobreviventes. Todas as suas falas são engraçadas, ainda que por vezes desconexas, sempre roubando a cena.
"Kong: A Ilha da Caveira" entrega exatamente o que propõe: um filme de monstros gigantes repleto de ação, diferente dos King Kongs do passado. Sem escondê-lo nas sombras para se revelar apenas nos momentos oportunos, a verdadeira estrela do filem é Kong, exatamente como deveria ser. E apesar de parecer totalmente desconexo ao original, o sentimento de imponência que fez o macacão se tornar um ícone é evocado e renovado, ainda que com napalms e coisas sendo arremessadas em sua direção. O mais importante é que o filme não se leva tão a sério, algo importante quando se trata de monstros gigantes se espancando.
Ps: Há uma cena pós-créditos que da um passo a mais na direção de um universo compartilhado entre mostros.
Ps²: Sim, eu sonhei novamente com o King Kong depois de ver o filme.
Tá saindo da ilha o Monstro!