Crítica do filme Manchester À Beira-Mar

Realismo e muita sofrência

por
Thiago Moura

30 de Janeiro de 2017
Fonte da imagem: Divulgação/Sony Pictures
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 4 min

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Indicações ao Oscar não são (ou não deveriam ser) sinônimos de filmes bons. Por sinal, não existe um parâmetro muito claro para o filme ser indicado. Dito isso, “Manchester À Beira-Mar” é um drama que não se vê com tanta frequência no cinema americano atual. A história não é muito complexa e juro que me esforcei bastante, mas o sentimento de tédio me dominou durante a exibição.

A trama conta como Lee Chandler (Casey Affleck), um simples zelador de Boston, é forçado a voltar a sua cidade natal ao saber da morte de seu irmão Joe (Kyle Chandler). Ele precisa confrontar seu passado trágico enquanto lida com a responsabilidade de cuidar do sobrinho adolescente Patrick (Lucas Hedges), já que sua mãe o abandonou e supostamente desapareceu anos antes de seu pai falecer.

E não há muito mais que isso, além do motivo de Lee ter se tornado uma pessoa acabrunhada, depressiva, e incapaz de  superar um trauma. Mas se quiser mergulhar bem fundo, os personagens atuam de formas distintas em relação a algo que afeta a todos: a inevitabilidade da morte, seja ela trágica ou não.

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A trama gira em torno da relação entre Lee e Patrick, e como eles estão lidando com o fato de perder um ente querido. Mas não espere por um final de redenção, catártico e repleto de lágrimas. O diretor Kenneth Lonergan preocupa-se em demonstrar uma investigação emocional lenta, delicada e focada em detalhes de um personagem engolido pelo sofrimento, Lee, enquanto Patrick se agarra a vida e tenta levá-la da melhor forma possível.

O filme é repleto de planos longos e diálogos realistas, que reforçam os pontos de vistas distintos dos protagonistas, e criam os conflitos necessários para a história andar. Praticamente tudo é filmado de um ângulo distante, talvez para refletir o distanciamento emocional de Lee.

A crua realidade e complexidade das emoções humanas são as bases da trama

Lee é um personagem fechado, apático e rude em algumas situações que o deixam desconfortável. Em mais de uma cena ele começa uma briga de bar, apenas para extravasar suas frustrações, o que não condiz com sua personalidade no cotidiano. Isso é interessante para mostrar a complexidade da personalidade de cada um. O falecimento de seu irmão impõe diversos reajustes em sua vida rotineira, entre elas preparar o funeral e velório e servir de tutor para Patrick.

Mas o maior desafio é voltar a viver, já que Lee estava evitando tudo devido ao trauma do passado, então situações cotidianas passam a ser uma tarefa árdua. Apesar da grande carga emotiva que o filme evoca, não é algo apelativo. Isso fica bem claro com Patrick, que consegue manter uma boa relação com o tio, enquanto toca em uma banda, joga Hockey na escola e tem duas namoradas. Os dois trilham a narrativa através de diálogos delicados, onde suas vontades são completamente diferentes, já que lidam de maneira distinta com o sofrimento.

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Michelle Williams interpreta Randi, ex-mulher de Lee, precisa ser mencionada pela excelente atuação mas infelizmente não aparece mais do que dez minutos no filme. Em determinada situação eles se encontram, e fica claro que ela ainda o ama, mas precisou ignorar esse sentimento para consguir seguir em frente com sua vida. Assim como o filme todo essa cena também é bem realista nos diálogos e reações.

ALERTA DE SPOILER, se não quiser pule para o próximo parágrafo
O que me incomodou bastante foi o fato de Lee não querer superar a tragédia do passado, sendo que toda a situação apresentada é praticamente perfeita para isso. Patrick é como seus filhos seriam na adolescência, ele só precisaria de alguém ali para tarefas básicas e um leve apoio emocional, nada muito complexo. Até mesmo sua rotina não mudaria muito, já que ele só ia ter que se mudar para uma mansão ao invés do apartamento minúsculo em que vivia. Mas Lee parece preferir a solidão e tristeza que já está habituado, e por mais que isso sirva como retrato da realidade, me parece menos plausível ele decidir continuar na miséria e sofrimento do que pelo menos tentar superar.

Em última instância, Manchester À Beira-Mar é o retrato de um luto insuperável, mas por negar a chance de superação que é claramente apresentada. Pegue seu café mais amargo, deixe esfriar e tome durante as duas horas de filme, sozinho. Dessa forma talvez você consiga sentir-se mais próximo de Lee.

Fonte das imagens: Divulgação/Sony Pictures

Manchester À Beira-Mar

Ele terá de confrontar seu passado e as realidades do presente

Diretor: Kenneth Lonergan
Duração: 135 min
Estreia: 12 / Jan / 2017
Thiago Moura

Curto as parada massa.