Crítica do filme O Chamado 3

Primeiro você assiste, depois passa raiva

por
Fábio Jordan

02 de Fevereiro de 2017
Fonte da imagem: Divulgação/Paramount Pictures
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 6 min

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Ainda lembro como se fosse hoje. Era um domingo, lá por meados de 2003, quando o Cinemax abriu uma nova porta para o terror. Era uma noite fria e quieta, ocasião perfeita para sentar em frente à TV e conferir o filme que ficou conhecido apenas como “O Chamado”.

Divulgado como uma obra-prima do cinema japonês, as propagandas chamavam a atenção para a história de pessoas que recebiam uma maldição após conferir uma gravação em uma fita com um conteúdo bizarro. Foi assim que eu conheci a terrível história da garota Sadako.

Curiosamente, algumas pessoas já sabiam de um conto similar, mas que envolvia uma menina chamada Samara. Acontece que, em 2002, a indústria hollywoodiana resolveu adaptar o filme japonês, levando a maldição da fita para os quatro cantos do mundo.

Apesar de ter diferenças substanciais no roteiro e até mesmo no estilo de terror, a obra americana protagonizada por Naomi Watts teve bastante repercussão, o que levou uma multidão a mergulha de cabeça no poço amaldiçoado de Samara. A história teve continuidade em “O Chamado 2”, de 2005, que dava sequência direta aos fatos do primeiro título.

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Agora, 12 anos depois, o filme amaldiçoado de Samara volta a circular e faz mais vítimas. Em “O Chamado 3” (que antes era divulgado como “Chamados”), conhecemos a jovem Julia (Matilda Lutz), que teve o azar de conferir o vídeo — agora divulgado em formato digital, claro! — e resolve, junto a seu namorado Holt (Alex Roe), descobrir um meio de se libertar da maldição de Samara.

Bom, para resumir, o filme “deu ruim”. Nesta continuação, temos um filme banhado por clichês pantanosos, que são apresentados numa trama decomposta por ideias pouco criativas e que sequer faz questão de ter coerência com os filmes antigos. Se você é um fã de terror, melhor ver algum filme em casa, mas recomendo continuar a leitura para dar boas risadas.

Roteiro perdido em meio à lama

Vamos combinar que, salvo raras exceções, filmes de terror são projetados para levar histórias fáceis e repletas de clichês até o espectador. Todavia, a franquia “O Chamado” não apelava para artimanhas desse naipe, tanto por apresentar uma personagem bastante complexa quanto pela época em que foi lançada, quando ainda havia espaço para alguma inovação — algo ainda mais marcante na versão japonesa.

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É claro que hoje ainda seria possível manter a densidade da história e acrescentar truques para manter o nível, mas este não foi o caso de “O Chamado 3”. Nem de longe este filme parece fazer parte da franquia, já que leva a trama para um rumo bem distante daquele que apresentado em nos primeiros filmes.

O problema começa no roteiro, de autoria tripla e um tanto duvidosa — até com participação de Akiva Goldsman, que apesar de ter acertos em sua carreira como “Uma Mente Brilhante”, “Eu sou a Lenda” e “Eu, Robô”, também tem pérolas como “A 5ª Onda” e “Batman & Robin” —, que divaga em situações irrelevantes, que nada agregam à história de Samara.

A história começa numa cena de avião (que você confere logo abaixo) e que não tem qualquer ligação com o restante da história. Logo após essa “brilhante” sequência aérea, o roteiro pula para a verdadeira trama, mas só essas duas introduções já dão uma pista de como o filme pode se perder fácil no poço de ideias pouco criativas.

Ainda que a trama seja centrada na personagem Julia, tal qual prevê a sinopse, ela divaga em uma segunda ideia, que apenas mostra como faltou inovação para contar a história. No todo, as situações bizarras até se encaixam, mas os argumentos são tão fracos e o desvio de quase tudo aquilo que vimos nos filmes anteriores é tão grande, que é fácil ficar entediado com a cretinice dos roteiristas.

Um poço raso e pouco assustador

Ok, parte da culpa de “O Chamado 3” ser um filme fraco (já que ele não cumpre sua proposta de entreter com inteligência e dar sustos) é do roteiro furado e feito só para faturar um pouco mais com uma franquia que já estava esquecida no fundo da gaveta. Contudo, há outras partes da produção que recebem uma grande parcela de culpa pelo resultado pouco convincente.

Um dos elementos que peca bastante aqui é a direção. Sob a responsabilidade do senhor F. Javier Gutiérrez, que você não conhece de lugar nenhum, o filme peca muito ao entregar o ouro antes do tempo, com um abuso de cenas em que Samara fica em segundo plano, exagero nos espelhos e o uso recorrente de outros clichês que nada contribuem para o terror.

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É sério, o amadorismo em muitas cenas é chocante, ainda mais quando lembramos que a Paramount investiu uns trocados na distribuição do filme. Em vez de conduzir o espectador em direção ao poço de Samara e a locais assustadores, o diretor foca seus esforços em cenas com aparelhos eletrônicos, o que dificulta muito a criação de um clima de tensão.

Junto à direção fraca, a produção ainda peca em questões como maquiagem, efeitos e atuações. O elenco tem alguns nomes conhecidos na TV e outros que você provavelmente nunca ouvir falar. A turma até tenta, mas dificilmente convencem o espectador, talvez por culpa também da história e dos personagens que são bem fracos. É tudo tão óbvio, que a gente adivinha o que vai acontecer e não tem surpresas.

Há uma ou outra cena que consegue convencer pela combinação de sonoridade e pelas locações com penumbras predominantes. As músicas de suspense ajudam a dar o tom de tensão, mas elas poderiam ser mais aterrorizantes com distorções e ruídos que deixassem o espectador perturbado.

Enfim, não foi dessa vez que Samara fez um bom trabalho na telona e esperamos que, se for pra fazer fiasco, ela não tente novamente.

Fonte das imagens: Divulgação/Paramount Pictures

O Chamado 3

Primeiro você assiste ao vídeo. Depois você morre.

Diretor: F. Javier Gutiérrez
Duração: 117 min
Estreia: 2 / Feb / 2017