Crítica do filme O Mínimo para Viver

Lute suas próprias batalhas

por
Lu Belin

16 de Julho de 2017
Fonte da imagem: Divulgação/Netflix
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 7 min

☕ Home 💬 Críticas 🎭 Drama

Ellen (Lily Collins) está desaparecendo. Com vinte anos de vida, ela consegue, pela terceira vez, sair da clínica em que está internada para tratar sua anorexia grave, e voltar para a casa da família em que a madrasta Susan (Carrie Preston) e a irmã Kelly (Liana Liberato) a recebem já pensando em qual vai ser a próxima que a menina vai aprontar.

Sem comer, exercitando-se sempre que pode, ela segue emagrecendo e a madrasta consegue uma vaga para que Ellen entre para o time de pacientes do dr. William Beckham (Keanu Reeves), um especialista em distúrbios alimentares com um método curioso e alternativo.

Com esse plot, o longa-metragem "O Mínimo Para Viver" estreou na Netflix no último dia 14 de julho, recebendo desde antes de sua chegada uma avalanche de críticas e olhares desconfiados, principalmente pela expectativa de uma certa proximidade com a série "13 Reasons Why", .

ominimoparaviver1 e778b

O filme é dirigido e roteirizado por Marti Noxon, bastante iniciante na arte da direção, uma vez que esteve à frente apenas de alguns episódios de séries. Como roteirista, no entanto, tem na bagagem uma longa lista de episódios de Buffy: A Caça-Vampiros, Greys Anatomy, Private Practice, entre outros, além dos filmes "Eu sou o número 4" e "A Hora do Espanto (2011)".

Lugar de fala

A Netflix está cada vez mais ousada na escolha de suas temáticas. Embora colocar o dedo na ferida seja uma característica da empresa de streaming desde sua fundação, com produções como "Orange Is The New Black" e "Sense 8", nos últimos anos ela vem apostando em tópicos extremamente polêmicos, acertando muito em alguns, não tanto em outros.

ominimoparaviver2 b8214

Foi assim com o estrondo conflituoso que foi "13 Reasons Why", quando cutucou nas temáticas de suicídio, cyberbullying e estupro, e da pedra no sapato do racismo com "Cara Gente Branca". Então por que não chegar com o pé na porta e lançar também um original que fala sobre anorexia e distúrbios alimentares?

Por mais que muita gente diga que ~um filme é só um filme~, eu acredito demais na importância e no poder dos produtos audiovisuais pra aceitar que um produto que vai ser distribuído em larga escala seja feito sem uma boa pesquisa e um bom embasamento no background. É por isso que eu não sei bem se "O Mínimo Para Viver" é um filme tão bom assim.

ominimoparaviver3 47bfb

Antes de tudo, acho importante mencionar que não me sinto 100% confortável no meu lugar de fala, enquanto pessoa que não sofre de anorexia ou distúrbios graves de alimentação, para avaliar se esse filme é ou não recomendado para quem sofre dessas condições, ok? Então se você possui um desses distúrbios e está lendo essa crítica em busca de saber se deve ou não ver o filme, recomendo fortemente que você peça ajuda profissional antes de decidir isso. Combinados?

Lembrando que a Anorexia é uma doença grave, que atinge centenas de milhares de jovens no Brasil - a grande maioria delas são mulheres, as mais afetadas pela busca sem limites pelo corpo perfeito - e que tem uma taxa de mortalidade altíssima, em torno de 20%!

Dito tudo isso, vamos ao filme, propriamente dito. "O Mínimo Para Viver" usa um humor meio ácido e aplica a estratégia do "sincerão" para abordar um tema que é sim muito delicado. Para não fazer disso um problema, a roteirista colocou as falas mais diretas e honestas na fala da protagonista, que transforma sua condição em uma grande ironia em boa parte do tempo.

"Desculpem se eu não sou mais uma pessoa, virei um problema"

O fato é que o filme demoooooora, pra engatar. Entre os problemas da família da Ellen, a ausência do pai, o distanciamento da mãe e a ajuda solitária e completamente atrapalhada da madrasta, Ellen fica praticamente sozinha e se sente totalmente deslocada do mundo.

ominimoparaviver4 b4afc

Por um lado, ele pode ser realmente muito bem sucedido em mostrar como uma pessoa com anorexia é tratada pela sociedade e como os problemas da família e da escola podem afetar o psicológico da pessoa que vive um distúrbio como esse.

Por outro, passa uma mensagem tão ambígua que pode também confundir ainda mais quem já precisa de ajuda - "olha, sair dessa só depende de você - mas bem que uma ajudinha iria bem, né?". Me parece que a mensagem do longa é bastante óbvia e o tratamento ~diferentão~ proposto pelo médico que saiu sei lá de que matrix não é tão diferentão assim.

(Des)encarnando uma personagem com anorexia

Com alguns rostos conhecidinhos, mas ninguém que super chame a atenção pelo seu mega talento, o elenco de "O Mínimo Para Viver" se destaca principalmente pela atuação de Lily Collins como Ellen.

ominimoparaviver5 06b63

A atriz já falou diversas vezes sobre sua própria experiência no passado com distúrbios alimentares, então certamente foi bastante desafiador e gratificante para ela poder interpretar uma personagem como Ellen. Não vou ficar aqui falando sobre quantos quilos ela emagreceu, nos basta saber que toda a produção do filme foi feita com acompanhamento de nutricionistas, então ela estava bastante segura durante o processo.

Se for eleger um motivo pra você ver esse filme, certamente vai ser a atuação da Lily Collins.

Hoje com 28 anos, Ellen ficou realmente muito parecida com uma jovem de 20 com anorexia. A caracterização foi excelente e a atuação dela foi realmente muito boa - apática, irônica, de certa forma triste.

Bem longe da genialidade

Como eu disse ali em cima, em se tratando do público que não lida com estes distúrbios, o único motivo que me faria recomendar "O Mínimo Para Viver", seria poder talvez despertar o interesse pela temática e buscar mais informações sobre ela.

ominimoparaviver6 b6511

Enquanto filme, mesmo, ele não se destaca por nada. Trilha sonora mediana, atuações sem grandes problemas mas não muito carismática, fotografia sem uma grande identidade visual, e um desenvolvimento super truncado. A primeira hora da produção só pode ser definida como entediante, e a última até que vai num ritmo melhorzinho, mas aí você já vai estar tão de saco cheio que a vontade de largar é quase concreta.

Em resumo, se você está procurando entretenimento, consigo pensar em uma tonelada de outros filmes mais interessantes pra assistir dentro da própria Netflix. Mas, se a ideia é se informar sobre distúrbios alimentários, que tal procurar algum documentário com essa temática? Certamente vão ser bem mais informativos do que "O Mínimo Para Viver".

Fonte das imagens: Divulgação/Netflix

O Mínimo para Viver

Não desapareça

Diretor: Marti Noxon
Duração: 107 min
Estreia: 14 / Jul / 2017
Lu Belin

Eu queria ser a Julianne Moore.