Crítica do filme Perdido em Marte

Muito bem, nota 9

por
Rafael Gazzarrini

30 de Setembro de 2015
Fonte da imagem: Divulgação/
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 4 min

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Setembro parece ser o mês em que Marte volta a ser interessante para o mundo inteiro. Afinal de contas, lá tem água e está todo mundo falando sobre isso. Além disso, Matt Damon está em cartaz com o filme “Perdido em Marte”, em que o seu personagem acaba esquecido, sozinho e sem perspectivas no planeta vermelho.

Agora, você já pensou como é isso? Como é ficar sozinho em um planeta completamente deserto, apenas com as mesmas dunas vermelhas para olhar? Com aquela sensação de perigo constante pela falta de alimentos e ambiente inóspito? Ser o primeiro e único a fazer tudo e qualquer coisa sempre? Não ter uma única pessoa por perto em 80 milhões de quilômetros?

Apenas a ideia de utilizar o livro (homônimo ao filme e que deu origem ao roteiro) para transmitir essa ideia ao expectador já é um ótimo plano. Trabalhar a desolação e a maneira como ela mexe com a pessoa já acrescenta pontos ao título em questão, porque essa ideia é aterradora. Afinal, quem gostaria de ficar sozinho num planeta sem água?

Por conta disso, as minhas expectativas eram as maiores possíveis.

Tá cheio de acertos

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Para começar a lista de acertos de “Perdido em Marte”, o roteiro é bem fechado. Apesar de um começo um pouco corrido (mas que explica bem o contexto), percebemos bem o início da história, a construção da problemática, todo o percurso para resolver esse problema e a conclusão da história. Assim, o filme tem nexo e conteúdo, diferente de lançamentos deste ano – sim, estou falando de você, “Quarteto Fantástico”.

Mesmo se tratando de uma história levemente futurista, o filme tem um aspecto bem pé no chão. Não temos celulares transparentes, sistemas operacionais que transcendem a existência ou qualquer outra coisa que afaste o filme da nossa realidade. Com isso, fica fácil torcer pelo personagem de Damon e, por consequência, fica mais fácil gostar do que é contado.

Os efeitos especiais também são muito bem feitos, tanto que me perguntei se Marte foi filmado em algum deserto e apenas retocado digitalmente ou se tudo era “de mentirinha”. As naves espaciais não parecem feitas de LEGO, sendo que as próprias cenas no espaço passam credibilidade.

Cuidado que faz bem

Outro detalhe que me saltou os olhos e me agradou bastante foi a presença de atrizes e atores negros ou latinos em papeis que não são os de praxe. Nós vemos mulheres em cargos de destaque, sem cair no clichê florista, mulher delicada e que precisa ser salva ou qualquer coisa do tipo. A comandante da missão é uma militar foda, uma das analistas da NASA que percebe o personagem de Damon vivo é mulher, uma das grandes executivas da agência é mulher e por aí vai.

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Enquanto isso, o piloto da equipe de Damon é latino – e não um latino com frases engraçadinhas, é um cara inteligente, fiel à equipe. Também temos personagens negros que não estão fazendo cota com poucas falas ou em papeis marginais, pois eles retratam executivos e cientistas de peso. E é um deles que determina o fim de todo o filme.

Ainda temos uma retratação pouco convencional de um certo país asiático nas cooperações internacionais, mas aí é dar spoiler demais – assistam pra saber, gente bonita. Vale dizer que, ao mostrar tudo isso, bandeiras não são erguidas, mas fica legal de ver.

Foi quase...

Se você chegou até aqui (e eu espero que sim), deve estar pensando que considero o filme perfeitão, mas não é esse o caso. Ele acerta em muitas coisas, mas peca em um detalhe bem importante. Como diria o nosso amigo Douglas, a produção “não é treteira”. Você chega na sala de cinema achando que vai ver alguém sofrer, triunfar, comer o pão que o tinhoso amassou, que vai chorar e se comover.

Sendo assim, você não “vive” a tensão que é estar sozinho em Marte. O próprio personagem principal é o alívio cômico da história, com a treta rolando aqui na Terra. Essas gracinhas poderiam vir do desespero, mas nem isso é abordado, então não temos a sensação de expectativa de “Interestelar”, por exemplo.

No fim das contas, “Perdido em Marte” é aquele aluno que estuda e tira 9. Não é 10, não é do caralho, não é melador de cuecas, não é bagunçador de mentes, mas tá de parabéns.

Fonte das imagens: Divulgação/

Perdido em Marte

Robinson Crusoe de Marte

Diretor: Ridley Scott
Duração: 141 min
Estreia: 1 / Out / 2015
Rafael Gazzarrini

Pode me chamar de Rafa, eu ando por aí na minha nuvem dourada.