Crítica do filme Silenced
Injustiça Sigilosa
Recentemente conversando com uma amiga sobre filmes asiáticos e em um bom tempo não me atualizado deles, ela me conta algo que me deixa assustada.
Em 2005, na Coréia do Sul, uma investigação toma conta de uma escola para deficientes auditivos localizado em Gwangju. Seis professores, incluindo o diretor, molestaram ou estupraram cerca de nove alunos, surdos-mudos, no período entre 2000- 2003.
O caso não chamou muita atenção da mídia na época, e os eventos reais viraram inspiração para o novelista Gong Ji-Young que escreveu um livro em 2009, e que acabou virando uma adaptação cinematográfica em 2011.
Silenced conta a história de Kang In-ho, professor de artes e pai de uma menina doente. Precisando muito pagar pela cirurgia de sua filha, aceita o trabalho de lecionar em uma escola para deficientes auditivos na cidade de Mujin.
Ao ensinar os alunos, In-ho percebe um certo distanciamento e comportamento estranho das crianças. Aos poucos, o professor vai desvendado que coisas horríveis estão acontecendo naquela escola, e que algo precisa feito, mesmo que isso custe seu emprego e sua vida.
Não quero comentar muito sobre as cenas e o desenvolvimento da história, acho que é um daqueles filmes que cada um precisa ver e absorver, e principalmente por conter cenas muito fortes retratadas por atores mirins que precisavam atuar somente com gestos faciais, linguagem corporal, sons (gritos) descrevendo emoções complexas. Eu nunca havia visto nada parecido.
Acredito também que o diretor quisesse chocar o público, e isso se deve ao julgamento que ocorreu em 2005, onde os culpados saíram com sentenças "ridículas" e basicamente por causa da existência de uma lei que barrava a acusação de um criminoso sexual infantil ao menos que a própria vítima fizesse a acusação.
Alguns dos acusados voltaram a lecionar na mesma escola depois de soltos. Algumas das familias das vitimas foram pagas para abafar o caso, o que resultou nas leves sentenças dos culpados pois as queixas foram retiradas.
Dois meses após o lançamento do filme, a cidade de Gwangju finalmente fecha a escola devido as controversias e a repercussão que gerou, forçando a justiça a reabrir e revisar o caso em 2011.
Entendo pouco sobre o cinema coreano, mas achei a fotografia bem condizente com a história. A existência da alternação de sombras e luz, os focos e o enquadramento nos rostos dos atores.
A proximidade que faz com que você preste mais atenção nos gestos e nas emoções do que nas falas propriamente ditas. O cenário é ambientado numa escola mas lembrando muito como se fosse um local abandonado, sujo e medonho.
Assisti ao filme inteiro horrorizada, xingando e reclamando. Fechando os olhos nas cenas fortes, e mesmo quando vi somente o trailer fiquei atônita com a injustiça retratada e ao imaginar o que as vítimas passaram, já que supostamente foram pessoas que deviam estar ali para protegê-las e educá-las.
Recomendo ler sobre o caso antes de ver o filme, e que não foi uma história fantasiosa criada para retratar a mente insana do homem. Foi real e é real. Acontece todos os dias, acontece perto e longe e não podemos ignorar