Crítica do filme O Convite

Há convites que não devem ser aceitos

por
Fábio Jordan

22 de Setembro de 2016
Fonte da imagem: Divulgação/Drafthouse Films
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 5 min

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Ineditismo é uma coisa um tanto rara em filmes de suspense, já que muitos se aproveitam de velhos roteiros, bem como clichês, e apenas trocam alguns elementos para surpreender o público, que, muitas vezes, nem se toca das similaridades.

Não é por acaso que “The Invitation”, filme que chegou há pouco tempo no Netflix, vem despertando a atenção de muita gente. Apesar de ter uma história bastante simples, o longa-metragem de Karyn Kusama consegue prender a atenção do espectador com pequenas coisas.

A história do filme trata de uma situação um tanto bizarra, mas talvez aceitável para muitas pessoas.  Will (Logan Marshall-Green) recebe um convite de sua ex-esposa, Éden (Tammy Blanchard), para participar de um jantar entre amigos na casa onde viviam.

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Sem entender direito do que se trata a reunião, Will decide aparecer, junto com sua atual esposa, Kira (Emayatzy Corinealdi), para o tal jantar. Chegando lá, ele revê a ex-esposa após dois anos do término do relacionamento, bem como conhece o novo marido dela, David (Michiel Huisman).

Uma reunião dessas já não seria muito amigável em situações normais, mas o passado trágico dos divorciados deixa tudo ainda mais esquisito. Todavia, Will logo suspeita do comportamento da ex-esposa e de alguns convidados. A noite promete ser longa e qualquer atitude parece fora do normal.

Torta de climão com cobertura de tensão

Como você pode ver pelo resumo acima, a história de “The Invitation” não é extraordinária. A trama se apoia sobre um argumento simples, que é a questão da dificuldade em superar um antigo relacionamento. Contudo, o grande trunfo é a intensificação da tensão, com vários acontecimentos que deixam o espectador cada vez mais curioso e na defensiva.

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Ao chegar na casa para o jantar, Will é induzido a cair numa teia de mistérios. Ele conhece vários personagens peculiares, principalmente o novo marido de sua ex-esposa, e logo começa a suspeitar de que tem caroço nesse angu há muitos segredos guardados na sua antiga casa. Por trás de cada feição, o protagonista enxerga uma série de possibilidades que o deixam encucado.

Os diálogos são, em alguns casos, vagos e, noutros, um tanto esquisitos. Todos que estão ali parecem suspeitos e cada ação tomada nos leva a fazer várias perguntas em segundo plano. Será que essa reunião é uma história de vingança? O que aconteceu para Will e Éden se divorciarem? Quem são as novas pessoas que não fazem parte do círculo de amizades?

Sabe aquela pulga atrás da orelha? Então, ela não sai dali o filme todo...

São muitas indagações e o climão só aumenta. Curiosamente, o texto é de Phil Hay e Matt Manfredi, dupla que já escreveu coisas como “Fúria de Titãs” e “R.I.P.D. - Agentes do Além”. Desta vez, contudo, eles acertaram, pois não ficaram nos clichês e montaram uma história de suspense bastante interessante. O clima do filme é mais ou menos o que você vê no trailer, mas o roteiro toma rumos inesperados, o que é bastante positivo.

Paranoia constante

A história de “The Invitation” é o ponto principal do filme, porém parte do mérito se deve às boas ideias na execução. Primeiramente, temos um elenco bastante convincente, que, além de combinar com a trama, se mostra competente na hora de criar as discussões e embolar o espectador no meio da teia de mentiras e joguinhos sujos.

Os destaques mesmo ficam para Logan Marshall-Green (Will), Tammy Blanchard (Éden) e Michiel Huisman (David), que são os principais e, obviamente, são mais constantes nos diálogos. Logan mostra seu talento ao transparecer desconfiança em cada olhar e ação tomada. O ator — que já mostrou seu talento na série Quarry — é misterioso e combina perfeitamente com o personagem.

Bom, mesmo sem ter muita conexão com o restante da história, a primeira sequência do filme já acerta na dosagem de suspense, de modo que o espectador fica curioso para saber o que vai acontecer na sequência. A produção abusa de cenas desfocadas, aproximação de objetos e uma movimentação apertada em cenários internos. Tudo isso incomoda, mas no sentido positivo, já que a ideia é passar a sensação de desconforto.

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A fotografia do filme, ainda que bastante restrita, também colabora para a montagem da história. A casa isolada, os ambientes internos, a iluminação, a presença de penumbras e outros recursos contribuem para incrementar o suspense. Nunca se sabe o que há no outro cômodo, nem que segredos a casa guarda.

Agora, se tem uma coisa que funciona bem demais é a trilha sonora. Cada nota é introduzida com cautela, dando tempo para o espectador prestar atenção nos demais sons e aguardando o momento certo para apresentar uma continuidade que deixa a respiração cada vez mais ofegante. A música do trailer dá uma boa ideia do que é apresentado ao longo do desenvolvimento da trama.

Com tudo isso dito, fica o conselho para conferir de perto “The Invitation” na sua telinha em casa. É a pedida perfeita para ver no escurinho, com uma boa xícara de café e o som em alto volume. Só não pense em chamar ex-namorado para essa sessão.

Fonte das imagens: Divulgação/Drafthouse Films

O Convite

Você é convidado para experimentar uma noite de tensão e paranoia

Diretor: Karyn Kusama
Duração: 100 min
Estreia: 25 / Mar / 2016