Crítica do filme Um Homem Entre Gigantes
Ou um gigante entre homens
A instigante história de uma descoberta científica que afeta o esporte favorito (ou um deles) dos Estados Unidos. Dirigido e roteirizado por Peter Landesman, o longa-metragem "Um Homem entre Gigantes" conta a trajetória real do Dr. Bennet Omalu (Will Smith), o brilhante neuropatologista forense nigeriano que primeiro estabeleceu a relação entre as colisões e pancadas sofridas pelos jogadores de futebol americano e um tipo de trauma cerebral, a Encefalopatia Traumática Crônica (ETC).
Depois de executar a autópsia de um jogador da liga profissional da modalidade, Dr. Omalu suspeita dos sintomas apresentados pelo falecido, raros em sua condição corporal e idade, e passa a investigar mais a fundo o que pode ter causado tais sintomas.
Ele descobre o que qualquer pessoa com um pouco de bom senso pode imaginar: que aquele monte de pancada pode sim causar danos neurológicos aos jogadores.
O problema é que você não pode simplesmente chegar nos Estados Unidos metendo o bedelho na NFL (a National Football League) e achar que vai sair ileso, não é mesmo? Então era lógico que o Dr. Omalu teria que enfrentar a fúria dessa poderosa organização norte-americana - e de seus seguidores - para provar que estava certo.
A história da descoberta de Bennet Omalu é contada no longa-metragem em paralelo à sua trajetória pessoal, na qual conhece a jovem Prema (Gugu Mbatha-Raw, de O Destino de Júpiter e da série Dr. Who) e concilia o trabalho com as atividades de apoio à comunidade na qual atua.
Particularmente, achei um pouco bruscas as quebras temporais entre algumas das fases nas quais o enredo se desenrola. Em alguns momentos, o ritmo da narrativa incomoda um pouco, mas nada que comprometa o desenvolvimento do filme. Nesse ponto, a trilha sonora contribui bastante para marcar cada fase, é bem distribuída e com uma boa mixagem de som.
Isso ajuda principalmente nas cenas mais intensas em que precisamos entrar fundo na concentração e no foco do protagonista em suas descobertas – o que, claro, complementa a belíssima atuação de Will Smith. Fala sério, você também não consegue olhar pra esse cara aqui e lembrar do Will de Um Maluco no Pedaço, não é mesmo?
Will Smith já provou em 2006, em À procura da Felicidade, que tem um talento especial para produções do gênero dramático, apesar de ter se consagrado mesmo como o nosso malandro favorito lá na década de 90. Mas, nesse filme, ele faz um trabalho incrível. O sotaque de quem saiu de um país africano para chegar aos Estados Unidos, a timidez do convívio social confrontada com a segurança proporcionada pelo conhecimento que possui, a seriedade do personagem. O ator é cuidadoso e minucioso na atuação, fazendo um trabalho digno de Oscar.
Outros nomes do elenco que também se destacam são Albert Brooks, como Dr. Cyril Wecht, Luke Wilson, Roger Goodel, e Alec Baldwin, como Dr. Julian Bailes – muito embora Baldwin pareça interpretar meio que o mesmo papel, sempre (ele não é muito expressivo, né?).
Qualificação atrás de qualificação, graduação, mestrado, doutorado, especialização e muito conhecimento sobre a área em que atua. Ainda assim, o Dr. Bennet Omalu precisa constantemente lembrar as pessoas que não é apenas um legista opinando sobre um assunto que desconhece. Olhe pra carinha dele e pense comigo: por quê será?
E “Um Homem Entre Gigantes” é muito bem-sucedido em mostrar os motivos pelos quais isso acontece: o racismo e a xenofobia que dão as caras cada vez que uma pessoa negra, de origem humilde ou estrangeira/refugiada atinge uma posição que envolve conhecimento ou autoridade. No caso do nigeriano negro e até um pouco excêntrico em sua prática profissional interpretado por Will Smith não é diferente.
O longa também é um soco no estômago do orgulho estadunidense porque foca na nobreza e na superioridade de espírito de um homem que realmente se importa com o que vem acontecendo com outras pessoas e que tem a decência de olhar para o lado, de olhar para o outro, diferente do comportamento padrão do americano médio.
Dr. Omalu não está em terra de gigantes, como o nome do filme propõe. Trata-se do oposto, é ele o gigantre frente aos homens pequenos que o cercam. Por isso, só o fato de “Um homem entre gigantes” estar em cartaz já é surpreendente, ainda mais com esse time de peso no elenco e sendo tão bem executado. Recomendamos! E sugerimos que você corra para o cinema, pois, como todo filme que coloca o dedo na ferida, talvez esse também não passe muito tempo nas telonas.
Lançamento da Sony Pictures chega aos cinemas brasileiros no dia 3 de março.