Crítica do filme Uma Família de Dois

Toma que a filha é tua

por
Lu Belin

13 de Julho de 2017
Fonte da imagem: Divulgação/Paris Filmes
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 7 min

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Antes de começar a ler essa crítica, eu vou sugerir que você acesse esse link aqui e dê o play nessa musiquinha. Deu? Então volta aqui comigo e bora falar sobre esse filme lindo?

Pois bem, “Uma Família de Dois” estreou no Brasil primeiro durante o Festival Varilux de Cinema de 2017, depois oficialmente nas programações regulares das salas de cinema, trazendo a história de Samuel (Omar Sy), um legítimo fanfarrão francês que vive uma vida de festeiro às custas da patroa, em um hotel à beira-mar no sul ensolarado da França.

Entre romancinhos de uma noite só, muita festa e bebedeira, ele um dia acorda sacudido pela vida, quando Kristin (Clémence Poésy, a Fleur, da saga Harry Potter) aparece em sua porta carregando no colo a pequena Gloria (Gloria Colston), então com apenas alguns meses de vida, e dizendo que a pequena é filha dele.

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Depois de persegui-la de um jeito desengonçado até Londres para, sem sucesso, tentar devolver a criança à mãe, Samuel se vê embolado em uma confusão completamente inesperada, na qual extravia os documentos, perde o emprego e tem seu caminho cruzado com o do produtor de TV Bernie (Antoine Bertrand).

Oito anos se passam, Samuel arruma com Bernie um trabalho como dublê de série de TV e cria Gloria do jeito que dá - com uma casa e uma vida que toda criança sonhou ter - até que um dia Kristin aparece para, mais uma vez, virar a vida de Samuel de ponta-cabeça.

Um roteiro de sete

Se a história toda demanda um elenco reduzido e um núcleo principal de apenas quatro pessoas, a produção, por sua vez, foi um belo de um trabalho coletivo. Dirigido pelo quase desconhecido Hugo Gélin,  “Uma Família de Dois” tem um roteiro feito a várias mãos - originalmente escrito por Eugenio Derbez, Leticia López Margalli e Guillermo Ríos com colaboração de Igor Gotesman e diálogos do diretor Hugo, de Mathieu Oullion e Jean-André Yerles.

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Toda essa galera é bem pouco conhecida, mas um dos nomes talvez  lhes seja familiar, vindo do longa-metragem mexicano “Não Aceitamos Devoluções”. Pois é, o filme é meio que um remake francês do original mexicano, com o mesmo roteirista - com a diferença que no mexicano o roteirista Eugenio Derbez é também ator que faz o protagonista.

Bem, não aceitamos devoluções, mas aceitamos cópias, desde que bem-feitas - e esse é sem dúvida o caso de “Uma Família de Dois”, que resulta em uma produção divertidíssima, encantadora e bonita.

(Sy)nônimo de sucesso

Um dos motivos do sucesso do filme é, sem dúvida nenhuma a atuação de Omar Sy. É claro que você lembra dele do trabalho maravilhoso em “Intocáveis”, “Samba” ou talvez pelo palhaço “Chocolate”, certo? Sy é um dos atores mais proeminentes da França e já ganhou um super destaque internacional por essas e outras produções.

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Sua atuação cheia de comicidade, mesmo nos papéis em que ele precisaria ser um pouco mais sério, é sinônimo de risos da plateia. Nesse filme em específico, o dueto do ator com a pequena Glória Colston é de uma sintonia invejável.

Aliás, um parênteses: que belezinha que é ver um filme com personagens negros, com personagem gay, e apenas atuando em  uma história na qual eles poderiam ser brancos ou  negros, tanto faz. Fazendo o papel apenas de… pessoas, sem a pegada da raça. Essa é uma das belezas de sair um pouco do circuito Hollywood-novelas da Globo, perceber que nem todo cinema é excludente, que nem todo mundo retrata gay como estereotipado e negro em profissões subalternas.

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Fechados os parênteses, outra coisa que vale dizer é que, na ponte aérea entre Paris e Londres, a produção é filmada em cenários que vão desde a praia paradisíaca em que Samuel trabalhava na França até as ruas e vielas mais famosas de Londres, passando por cenários de filmagem dos estúdios britânicos onde o personagem trabalha e pelo quarto incrível e maravilhoso da Glória.

Tudo é supercolorido, cheio de vida, com tons contrastantes e uma paleta digna de circo e parque de diversões - que inclusive estã inclusos nas locações do filme.

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Aregra é: diversão a toda hora, do minuto em que sai da cama até a hora em que vai dormir. Afinal, toda criança merece uma vida cheia de brincadeiras e não podia ser diferente quando o próprio pai ainda não terminou de crescer.

Quem pariu Mateus que embale

Não se abandona uma criança. Isso deveria ser premissa básica para qualquer ser humano. Mas, infelizmente, a vida tem nuances e o mundo às vezes leva as mulheres a um nível de desespero em que não conseguem encontrar saída.

E, embora “Uma Família de Dois” se construa muito mais sobre a relação entre Samuel, Gloria e Bernie, ele não deixa de estimular, de uma certa forma, um julgamento negativo quanto à atitude de Kristin de abandonar a filha - quando na verdade, se não tivesse feito isso, a menina provavelmente teria tido uma vida muito, mas muito pior.

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Em outras palavras, a atitude de Kristin foi muito mais altruísta do que se tivesse ficado com a menina. E, se for pra deixar o filho e virar as costas, que seja com o pai da criança, né mores.

A parte boa é que o roteiro do longa-metragem coloca ali essa questão em alguns de seus diálogos, embora pinte a Kristin como megera quando ela volta pra demandar a entrada da vida de Glória.

No fim das contas, embora seja um pouco sobre isso, o longa-metragem se centra muito mais na relação pai e filha e como ela pode ser sim muito divertida, e transita entre o humor - que é predominante no roteiro - e alguns picos de drama extremamente bem construídos que podem levar facilmente o espectador às lágrimas.
Então pegue sua pipoca, seu lencinho e seu bom humor e aproveite esse filme que vale super a pena!

Fonte das imagens: Divulgação/Paris Filmes

Uma Família de Dois

A vida muda da noite para o dia... E pode mudar para melhor!

Diretor: Hugo Gélin
Duração: 118 min
Estreia: 6 / Jul / 2017
Lu Belin

Eu queria ser a Julianne Moore.