Crítica do filme Djon, África
À beira da ficção e o real
Em momentos de turbulências políticas e crise migratória, a 7º edição do Festival Olhar de Cinema traz de forma inédita para o Brasil o filme premiado “Djon, África” de João Miller e Filipa Reis, que mostra a incansável procura de um jovem português descendente de imigrantes cabo-verdianos por suas raízes familiares.
O longa é uma coprodução de três países de língua portuguesa: Brasil, Cabo Verde e Portugal, que ressalta a era do cinema contemporâneo ao produzir uma obra que vive entre dois gêneros: ficção e documentário.
Inspirada na história do ator do documentário “Li Ké Terra”, Miguel Moreira, o filme conta a aventura de Djon África, filho de cabo-verdianos, nascido na periferia de Lisboa, que decide embarcar para o continente africano à procura de seu pai, que nunca conheceu.
O longa "Djon, Áfria" foca em relatar a travessia da autodescoberta de Miguel por Cabo Verde, uma terra desconhecida e envolvente que carrega as raízes do seu passado. Durante a jornada depara-se com encontros e revelações que ao todo momento alimenta o seu sentimento de sempre se sentir um estrangeiro. Mas, como já dizia o escritor brasileiro João Guimarãe Rosa em seu livro Grande Sertão: Veredas, "O real não está na saída e nem na chegada. Ele se dispõe para gente é no meio do travessia".
De forma poética, os diretores produzem um filme híbrido e intimista que beira a ficção e a história real de Miguel ao conhecer o país do seu pai. “A raiz deste filme é olhar para história verdadeira de Miguel, um ator que já trabalhamos em outros filmes”, conta o diretor João Miller Guerra.
"O filme mostra a história da humanidade, não somente da era da escravatura, mas o que vivenciamos hoje com o fluxo imigratório"
Considerado um road-movie, “Djon, África” se diferencia dos demais filmes do gênero ao retratar uma trajetória que vai além das fronteiras do espaço e do tempo presente. Com um tom ácido, o longa percorre pelos vestígios da história de um país que nasceu do imperialismo e a atual realidade de uma terra que já foi colonizada. “O filme mostra a história da humanidade, não somente da era da escravatura, mas o que vivenciamos hoje com o fluxo imigratório” declara Filipa Reis.
A naturalidade presente em vários momentos durante o longa proporciona uma experiência singular ao telespectador, que por vários momentos são teletransportados para o cotidiano de Cabo Verde. Além de narrar aventura de Miguel, o filme se conecta com o momento atual da sociedade e os desafios que enfrentamos ao responder a pergunta: "Tu és daqui?"
Embarque numa viagem de autodescoberta por Cabo Verde