Crítica do filme O Teorema Zero

Crise existencial em loop infinito

por
Fábio Jordan

18 de Agosto de 2014
Fonte da imagem: Divulgação/
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 6 min

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Há pouco mais de um mês (no dia 10 de julho), o filme “O Teorema Zero” chegou aos cinemas do Brasil. Quer dizer, ele foi lançado em algumas salas, mas, por se tratar de um filme independente, é provável que você não o tenha visto em lugar algum.

Eu estava ansioso para conferir a nova obra de Terry Gilliam e, felizmente, encontrei uma sala em que o filme estava em exibição. Quero adiantar que o longa não atendeu às minhas expectativas, algo que comentarei depois.

Para você que chegou aqui por acaso e não faz ideia sobre o que trata o filme, vamos a uma pequena introdução. “O Teorema Zero” conta a história de Qohen Leth (interpretado por Christoph Waltz), um hacker que é convocado por uma misteriosa empresa para resolver o Teorema Zero, uma fórmula capaz de determinar o verdadeiro sentido da vida.

Lendo esta breve sinopse, você pode ter noção de que o filme vai abordar questões de física e tratar de assuntos existenciais, o que pode ser muito interessante, ainda mais se no fim tivermos uma resposta ou algumas conjecturas que nos coloquem pra pensar.

Ao ver o trailer, você possivelmente vai ficar ainda mais ansioso para conferir a obra, já que o vídeo nos passa a ideia do panorama do filme e impressiona pelas cores. Juntando tudo isso, temos a noção de que o filme pode ser genial. Infelizmente, não é tudo isso, mas também não é de todo ruim. Vamos entrar em detalhes.

Desconforto constante

A história de “O Teorema Zero” é focada em Qohen Leth, sujeito bizarro que fala constantemente no plural — fazendo a referência a ele mesmo como “nós” — e que aguarda por um telefonema misterioso. Ele age de forma estranha, não se comunica muito bem e aparenta ser totalmente fora da casinha.

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Ele trabalha em uma grande corporação realizando cálculos (mas parece que ele está jogando video game) para um propósito maior e desconhecido. Quando não está na empresa, Qohen está em casa (que, na verdade, parece mais uma igreja enorme) esperando pela tal ligação urgente que ele está para receber a qualquer momento.

Devido a tal chamada telefônica, este sujeito bizarro pede afastamento da empresa, dizendo ao seu patrão (Matt Damon) que ele está disposto a trabalhar em casa, onde vai produzir mais e melhor. Assim, ele é incumbido de resolver o tal Teorema Zero.

Todavia, o trabalho em questão é algo impossível de se resolver, o que leva Qohen a surtar. Algo que vale comentar aqui é a atuação de Christoph Waltz. Como já vimos em outras obras, esse cara tem o dom e pode nos surpreender. Ele deixa a loucura dominá-lo, de tal forma que você vai ficar irritado e, ao mesmo tempo, conseguirá amar o personagem.

Toda essa parte (que é quase metade do filme) em que acontece o desenvolver do personagem, o filme consegue ser cansativo e muito confuso. São tantas coisas sem explicações, que dá até vontade de sair da sala de cinema ou de puxar um ronco. Entretanto, há uma dualidade de sensações. É confuso, mas é curioso. E você vai querer descobrir o que vem a seguir.

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Aos poucos, a história vai ficando mais interessante, tanto pelas respostas quanto pela adição de personagens que dão uma chacoalhada na película. Os destaques ficam para Bainsley (Mélanie Thierry), que tenta ajudar Qohen o levando a conhecer o mundo sexual virtual — uma tendência óbvia do futuro —, e Bob (Lucas Hedges), filho do gerente que nos dá algumas explicações.

Tudo faz sentido — ou não

A história de “O Teorema Zero” pode parecer apenas uma grande piração, mas há muita coisa plausível e é bem fácil traçar um paralelo direto com a realidade. Todo mundo alguma vez (e muito provavelmente várias vezes) já se perguntou qual é o sentido da vida. As crises de existencialismo não surgiram agora e não vão simplesmente acabar.

As indagações impostas no filme são lógicas, sendo que é bem fácil uma pessoa enlouquecer se ela realmente ficar batendo nessa mesma tecla. Considerando ainda todo o plano de fundo da história (com um sistema capitalista ainda mais evoluído, pessoas poderosas, toda a superficialidade do mundo, todas as reviravoltas da vida e a falta de respostas), não é tão complicado entender o personagem e o enredo proposto.

Talvez, algumas pequenas modificações no roteiro deixassem a história mais fácil de processar, ainda mais que nem todo mundo vai parar e se questionar se existe um porquê por trás disso tudo, sendo que nem mesmo é possível ter a certeza do que o escritor e o diretor queriam passar com a obra. No fim, esse é o mesmo problema que existe em todo e qualquer filme que exige raciocínio, afinal, há um bocado de subjetividade.

Bom, entre tantos cineastas, Gilliam, de fato, é um dos poucos que poderia assumir e levar um filme tão bizarro como “O Teorema Zero” adiante. É notável a mão do cara aqui, ainda mais para quem já conferiu “Os 12 Macacos” — dá até pra cruzar um pouco as ideias — e outros filmes inteligentes deste gênio.

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O mundo de “O Teorema Zero” é um charme à parte. Todo o colorido e a imaginação dos cenários e dos objetos nos levam a um futuro muito convincente e cheio de elementos curiosos. A trilha sonora  foi devidamente trabalhada para casar com cada situação. Ela serve tanto para levar a plateia ao mundo confuso de Qohen quanto para dar o impulso necessário nas cenas dos mais variados tipos.

Ainda que não seja brilhante ou esclarecedora, esta película consegue despertar a curiosidade e levar o espectador a refletir sobre inúmeras questões. O filme poderia ser mais direto e menos confuso em algumas partes, mas obras desse tipo não são elaboradas para entregar uma história mastigada. Se você gosta do trabalho de Terry Gilliam ou se quer um filme bem diferente, a ida ao cinema pode valer a pena!

Fonte das imagens: Divulgação/