Crítica do filme Os Boxtrolls

Animação inteligente e divertida

por
André Luiz Cavanha

06 de Outubro de 2014
Fonte da imagem: Divulgação/
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 4 min

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Passei a semana ansioso para conferir a animação mais esperada do ano e saber o que eram aquelas criaturinhas que aparecem no trailer. Finalmente tive a oportunidade e afirmo, às crianças e principalmente aos adultos, que Boxtrolls são mais que simples seres fictícios. 

Como pode o filme ser tão divertido e ao mesmo tempo recheado de questões existencialistas? Preciso destacar essa característica logo de início, pois considero o que há de mais interessante manifestado nas perguntas feitas pelos personagens. São diálogos que nos convidam a pensar em tudo que é real nessas histórias inventadas.

A receita elaborada pelo estúdio de animação Laika precisa ser atentamente analisada, pois segue como amostra diferenciada não só pelo detalhado trabalho em stop motion e computação gráfica, mas por seu enredo bem elaborado com potencial para desconstruir formas preconceituosas de pensar.

Quem são os Boxtrolls?

 

São seres feios, levemente assustadores e que se alimentam de insetos nojentos, embora logo nas primeiras aparições notemos como são amáveis e criativos. Vivem o dia todo escondidos na parte subterrânea de uma cidade vitoriana chamada Pontequeijo e durante a noite vasculham lixeiras a procura de materiais recicláveis. 

quem são

Dotados desse talento de dar nova forma aos objetos descartados pelos seres humanos, essas criaturas notívagas sofrem as consequências do medo criado pelo discurso de Lorde Roquefort. Para reforçar o mal entendido, os encarregados pela segurança da cidade fazem parecer que os Boxtrolls são perigosíssimos e instituem o toque de recolher.

Por conta da perseguição que sofrem, os pequeninos vestem caixas com o objetivo de se esconderem como tartarugas que se encolhem dentro do casco. Mas o destino começa a mudar após adotarem um menino humano, batizado de Ovo.

ovo

A história é baseada no conto inglês Here Be Monsters, do ilustrador Alan Snow. Fácil de encontrar em livrarias brasileiras, porém sem tradução por enquanto.

Quanto trabalho!

Os mesmos criadores de “Coraline” (2009) e “Paranorman” (2012) se dedicaram intensamente nessa animação. A cidade inteira foi criada com flores, árvores, os dias, as noites, o vento, a chuva, cada figurante ou personagem importante. “Eles têm o mundo todo em suas mãos”, como diz sem exagero a música do making of:

 

A língua dos Boxtrolls

O aspecto técnico que não pode deixar de ser mencionado é a expressão dos personagens: Boxtrolls possuem uma língua própria, assim como o sindarin criado por Tolkien. Porém mais simples, com léxico inexistente, sem palavras nítidas e inteligíveis.

Dee Baker e Steve Blum são os dois únicos dubladores encarregados dessa tarefa. A saída que encontraram foi a mistura de alguns fonemas eslavos misturados com a imitação dos sons de alguns animais. Embora não dê para compreender exatamente aquilo que é dito, a língua se sustenta por meio da prosódia para que possamos captar a intenção emocional dos personagens.

boxtrolls2

O único ponto que deixa a desejar é a dublagem brasileira, incapaz de sintetizar certos atributos dos personagens. O exemplo mais gritante é o pai de Ovo (dublado originalmente pelo ator Simon Pegg), que faz uma voz de homem insano. Na versão brasileira ficou abobalhado, sem reproduzir fielmente a voz do louco e confundindo a falta de lucidez com papel de bobo.

Enfim, um detalhe que não prejudica tanto assim o resultado final.

Fonte das imagens: Divulgação/
André Luiz Cavanha

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