Crítica do filme Birdman

Ironia fina, crítica e direção impecável

por
Douglas Ciriaco

15 de Janeiro de 2015
Fonte da imagem: Divulgação/
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Tempo 🕐 5 min

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O diretor mexicano Alejandro Gonzales Iñárritu ficou conhecido mundialmente por sua “trilogia do caos”, compreendida pelos filmes “Amores Brutos”, “21 Gramas” e “Babel”. Com histórias caóticas, angustiantes e repletas de conexões e reviravoltas, as obras renderam ao cineasta indicações ao Oscar e prêmios no Globo de Ouro e em Cannes.

Até este ano, a última incursão de Iñárritu no cinema havia sido o drama “Biutiful”, lançado em 2011. Agora, o diretor volta à baila com um grande elenco, talvez o mais “estrelado” de todas as suas produções, em “Birdman (ou A Inesperada Virtude da Ignorância)”. Protagonizado por Michael Keaton (“Batman”), o filme ainda conta com as atuações de Edward Norton (“Clube da Luta”), Zach Galifianakis (“Se Beber Não Case”), Emma Stone (“O Espetacular Homem-Aranha”) e Naomi Watts (“O Chamado”).

A trama acompanha a tentativa do ator de cinema Riggan Thomson (Keaton) em criar algum significado em sua vida e se dissociar do super-herói que o consagrou na telona há mais de duas décadas, o Birdman. Para isso, ele parte para o nada amigável mundo do teatro na Broadway, em Nova York, e precisa lidar com problemas familiares, brigas de egos e até mesmo a voz do seu passado glorioso que insiste em assombrá-lo.

Ironia fina e crítica

Antes de ver “Birdman” já é possível sacar uma das grandes ironias do filme: a escolha de Michael Keaton para interpretar o protagonista. Keaton foi o primeiro ator a interpretar um super-herói no cinema, em “Batman” (1989) e “Batman — o Retorno” (1992), filmes de Tim Burton. Assim como Thomson, ele também não emplacou mais nada com a mesma relevância depois de vestir a roupa do Homem-Morcego, algo que não deve assombrá-lo tanto quanto ao seu personagem, mas que não deixa de dar um tempero especial à obra de Iñárritu.

Birdman

Se uma face da ironia de “Birdman” é sutil, a outra é crítica. Apesar de mostrar a montagem de uma peça de teatro, o roteiro coescrito pelo diretor não deixa de cutucar a indústria dos filmes de herói e adaptações de histórias em quadrinho que se instalou em Hollywood. Isso aparece com mais ou menos intensidade na trama em vários momentos, outra característica que conta pontos positivos para a película.

Uma aula de direção

Se Iñárritu já havia impressionado os críticos e espectadores de todo o mundo com sua trilogia do caos, em “Birdman” ele parece ter alcançado um patamar ainda maior. Basicamente, o filme é exibido em apenas dois planos sequência — aquele sem corte, no qual a câmera segue os atores e, com isso, vai fazendo a transição de espaço e tempo dentro da trama.

O filme todo se passa em um teatro, na rua em frente ao estabelecimento e em um bar ao lado, o que propicia esse tipo de montagem. Além disso, o trabalho feito com os atores entrando e saindo de cena e também os enquadramentos das câmeras ajudam a dar um ar de peça de teatro a “Birdman” — uma espécie de metalinguagem dentro de uma metalinguagem.

Atuações e trilha sonora não deixam por menos

Se a direção de Iñárritu está impecável, as interpretações que dão vida ao roteiro escrito a oito mãos não ficam para trás. Se Keaton nunca emplacou nenhum grande sucesso equivalente às suas interpretações como o Cavaleiro das Trevas, isso acabou em 2014, com “Birdman”. Norton está, sem nenhuma dúvida, em sua melhor interpretação desde “Clube da Luta” — e olha que ele teve alguns lançamentos dignos de sua carreira nesses últimos 15 anos.

Não por acaso a dupla recebeu indicações para melhor ator e melhor ator coadjuvante, respectivamente, no Oscar deste ano. O restante do elenco mantém o alto nível e conduz a história sem nenhuma falha, garantindo boas risadas nessa comédia inusitada de um dos grandes diretores latino-americanos da atualidade.

“Birdman” consegue ser engraçado, irônico e entusiasmante, contando uma história repleta de idas e vindas, críticas ao cinema e tecnicamente perfeita, da ótima trilha sonora, composta basicamente por bateria de jazz, até fotografia e direção excepcionais. Quem sabe Iñárritu repita o feito de Alfonso Cuaron e se torne o segundo mexicano a levar para casa a estatueta do Oscar de melhor diretor.

 

Fonte das imagens: Divulgação/

Birdman

Confira o trailer deste filme dirigido por Alejandro González Iñárritu

Diretor: Alejandro González Iñárritu
Duração: 119 min
Estreia: 22 / Jan / 2015
Douglas Ciriaco

Cê tá pensando que eu sou lóki, bicho?