Cineasta Jorane Castro aborda universo feminino em road movie amazônico

por
Lu Belin

22 de Setembro de 2016
Fonte da imagem: Assessoria/ Cabocla Filmes
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 5 min

“Para Ter Onde Ir”, primeiro longa-metragem de ficção da premiada diretora paraense, conta a história de três mulheres que seguem juntas em uma mesma viagem. Eva, mulher madura e pragmática, Melina, uma jovem livre e sem compromisso, e Keithylennye, uma ex-dançarina de technobrega, dividem acontecimentos e encontros que mudarão seus destinos.

Realizado pela Cabocla Filmes, de Belém, e coproduzido pela REC Produtores Associados, do Recife, com incentivo do MinC e do Governo do Pará, filme concorre na seleção oficial do Festival do Rio 2016, dentro da mostra competitiva Novos Rumos, de 6 a 16 de outubro

Três mulheres, com diferentes visões sobre a vida e o amor, seguem juntas em uma viagem, partindo de um cenário urbano para outro onde a natureza bruta prevalece. Assim é o mote inicial de "Para Ter Onde Ir", primeiro longa de ficção da carreira da premiada diretora paraense Jorane Castro, selecionado para a mostra competitiva de longas Novos Rumos da 18º edição do Festival do Rio.

Os acontecimentos vividos separadamente pelas três revelam as incertezas e os diferentes sentidos daquela viagem para cada uma delas.

O elenco do filme é estrelado pela experiente atriz, bailarina e cantora Lorena Lobato (de O Cheiro do Ralo, de Heitor Dhalia e Exilados do Vulcão, de Paula Gaitán). Lorena encarna Eva, uma prática, responsável por orientar os navios de grande porte a atracar, na barra de Belém do Pará. Na pele de Keithylennye, ex-dançarina de tecnobrega e moradora da comunidade da Vila da Barca, em Belém, está a cantora do grupo Gang do Eletro, Keila Gentil. E a atriz Ane Oliveira assume o papel da idealista Melina.

Mulher madura e pragmática, Eva é quem convida a amiga Melina, uma mulher livre e sem compromissos, e a jovem Keithylennye para a sua jornada. No caminho, os acontecimentos vividos separadamente pelas três revelam as incertezas e os diferentes sentidos daquela viagem para cada uma delas.

Estética

Rodado entre abril e maio de 2015, em Belém e no roteiro turístico do Pará, o filme é esteticamente influenciado pela tradição da fotografia paraense, em especial os trabalhos de Luiz Braga e Miguel Chikaoka. Para Ter Onde Irmarca o retorno de Jorane Castro às suas origens enquanto fotógrafa desde seus 14 anos de idade.

“Este é um filme de estrada sobre deslocamento, mas também uma história de busca pessoal, de questionamentos sobre para onde você vai, o que você vai deixar de legado e a que você se propõe neste universo”, justifica Jorane. A fotografia do longa é assinada pelo recifense Beto Martins, o mesmo que fez a direção de fotografia de “A História da Eternidade”, do diretor pernambucano Camilo Cavalcante.

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As filmagens mobilizaram uma equipe em torno de 60 pessoas. “Usamos de dez a 15 carros e chegamos a nos deslocar 35 km da base em um dia. Encaramos contratempos de clima e longas distâncias, optando por uma luz de inverno amazônico. Cerca de 90% da equipe é inteiramente do Pará”, ressalta a diretora.

Seguindo o fluxo das personagens com seus afetos, sentimentos e memórias, "Para Ter Onde Ir" tem narrativa costurada pela trilha musical, uma espécie de “radiola” jukebox. Junto a antigas pérolas do cancioneiro brega paraense (“Amor, amor”, sucesso na voz do cantor Magno, e “Fim de Festa”, escrita pelo guitarrista Manoel Cordeiro, que trabalhou com Beto Barbosa e Alípio Martins, entre outros), a seleção de músicas conta ainda com participações de Lia Sophia, Felipe Cordeiro, além de faixas originais.

A cena em que Keithy canta deslumbrante na aparelhagem foi escrita sob a colaboração de Marcos Maderito e DJ Waldo Squash, da Gang do Eletro. Toda a produção musical do filme é assinada por Marcel Arêde, nome da nova cena musical paraense. O sound design ficou a cargo de Edson Secco (dos longas “Vaticano”, de Walter Salles e “Transeunte” de Eryk Rocha).

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 Na direção de arte, concebida pelo paraense Rui Santa-Helena (parceiro de Jorane no curta Ribeirinhos do asfalto, estrelado por Dira Paes, com o qual ganhou o prêmio de melhor direção de arte no 39º Festival de Gramado), aspectos precários de uma região Norte imersa em uma sociedade de consumo desenfreado ganham ênfase em tomadas específicas.

“Há uma cena em que a filha de Keithy brinca com algo de plástico, como se fizesse parte daquele mundo. A Globalização dá a sensação de ser igual pelo pertencimento. Enquanto isso, ali perto da comunidade, um apartamento que custa R$ 1 ,5 milhão divide espaço com um lugar sem saneamento básico. É o que chamo de um capitalismo precário, uma tentativa de ostentação, quando tudo o que a gente consome no Brasil, da telefonia, passando pela internet à agua e comida, é de péssima qualidade”, pontua Jorane.

Produzido pela Cabocla Filmes, de Belém, em coprodução com a REC Produtores Associados, do Recife, Para Ter Onde Ir conta com incentivo do edital de Longa-Metragem de Baixo Orçamento (Longa BO), da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (SAv/MinC), e do Governo do Pará/Secretaria de Turismo. O valor total captado para o filme foi da ordem de R$ 1,35 milhão.

Lu Belin

Eu queria ser a Julianne Moore.