Crítica do filme Reis e Ratos | Roteiro é pego na ratoeira com piadas sem graça

O trailer de Reis e Ratos engana o público de maneira fantástica. Nas cenas divulgadas, temos a sensação de que estávamos prestes a desfrutar de uma comédia divertida e bem construída.

Ao apreciar o filme nos cinemas, as expectativas foram decaindo lentamente, até que, lá pela metade do filme, você percebe que foi passado para trás e que tudo está mais confuso do que deveria. Santa marmelada, caímos na ratoeira!

Depois de quase duas horas de filme eu percebi que o personagem Roni Rato (Rodrigo Santoro) não estava falando besteira, dizia ele no trailer: “O que tá acontecendo aqui é que vocês querem uma coisa grande... eu, honestamente, não tenho a menor ideia do que seja”. Pois é, a comédia de Mauro Lima (diretor de Meu Nome Não é Johnny) tropeça em diversos elementos que deveriam deixar a película engraçada e diferente.

Na história de Reis e Ratos, o clima de conspiração afeta uma série de personagens relacionados, de alguma forma, ao cenário político da época. Um deles é Troy (Selton Mello), agente da CIA que vive no Brasil e passa a duvidar de sua fidelidade à terra natal. Com a ajuda de seu comparsa brasileiro, o Major Esdras (Otávio Müller), ele planeja uma armadilha para o presidente que pode atrapalhar os planos do Golpe Militar.

Bom elenco, roteiro nem tanto

A história de Reis e Ratos é contada por Amélia Castanho (Rafaela Mandelli), personagem que se envolve de forma superficial com os verdadeiros protagonistas da trama. Esse pequeno erro puxa outros problemas que vão deixando o filme muito confuso. O enredo começa a se complicar em determinados momentos que as situações envolvendo Amélia se tornam mais importantes do que as cenas de comédia e os acontecimentos políticos que deveriam ser o foco.

A ideia do filme era aproveitar os personagens americanos (Selton Mello é o principal) para tornar a película mais engraçada, usando uma mistura de inglês com português, piadinhas curtas e frases de impacto. Admito que em determinados momentos isso até dá certo, porém, no geral, o que vemos são piadas e diálogos soltos da trama narrada de forma complicada.

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As atuações são boas, principalmente no que diz respeito aos já aclamados Rodrigo Santoro e Selton Mello. Não que isso seja uma verdade absoluta para todo o elenco. Cauã Reymond é um ator que poderia sair do filme e não faria a menor falta – aliás, deixaria a comédia mais engraçada e menos forçada.

O filme começa colorido, contudo, em poucos minutos os tons de cinza assumem o papel principal. A ideia não é nova, ainda mais para um filme que retrata uma época passada, mas definitivamente não é um recurso que faça do longa um título sensacional.

Apesar dos tantos defeitos, Reis e Ratos acerta em muitas cenas bem executadas e na utilização de alguns dubladores para deixar o ritmo mais empolgante, mas, sinceramente, não é um filme que eu recomendaria para desfrutar nos cinemas. A comédia não é muito engraçada e esperar para ver em DVD ou na TV não é uma má ideia.

Crítica do filme Jogos Vorazes | Estética Young Adult com inteligência

A temática YA (‘Young Adults’) tem sido destaque na literatura e nos cinemas de todo o mundo. Depois do sucesso de Harry Potter e mais recentemente da febre da série Crepúsculo, a nova aposta da indústria cinematográfica para atingir jovens de 13 até 29 anos de idade é o best-seller Jogos Vorazes ( ‘Hunger Games’, de Suzanne Colins — EUA, 2008).

Como era de se esperar, a trama gira em torno da vida de alguns jovens, que misturam problemas da vida de adulto com suas emoções e seus sentimentos efervescentes das fases da adolescência. O lugar no qual o filme ocorre só é importante para situar o mote principal do enredo; trata-se dos EUA em um futuro consideravelmente longe, no qual uma terrível guerra envolvendo 12 estados norte-americanos deixou conseqüências seríssimas nas vidas das pessoas.

"Jogos Vorazes", que é o título do filme, faz referência ao resultado da tal guerra. Os 12 estados derrotados foram subjugados e praticamente tomados como colônias de exploração do resto do país. Para enfatizar a punição, há cada ano acontece um torneio que reúne um casal de jovens entre 12 até 18 anos, escolhidos de forma aleatória, que se enfrentam em uma arena mortal até que só sobre uma pessoa vitoriosa. Essa batalha é transmitida, ao vivo, para todo o país, tornando-se um dos principais acontecimentos televisivos do país.

A protagonista do filme é Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence), que toma o lugar da pequena irmã para participar do temido confronto. As ‘oferendas’, como os participantes do evento são chamados, são tratados como celebridades dignas de Big Brother até o dia do conflito.

O que foi mais impressionante no filme foi a maneira com a qual ele é filmado. A perspectiva da câmera é uma espécie de ‘primeira pessoa’ inconsciente, isto é, o telespectador vivencia o que os olhos da protagonista vêem e acaba compartilhando suas alegrias e agonias.

No mais, o contexto é muito menos chato e apelativo do que as obras anteriores, no que diz respeito à temática geral. A situação é envolvente e nos faz pensar em uma realidade mais verossímil e menos fantástica, talvez pela seriedade com a qual a sociedade é retratada (evitarei citações de relações com 1984 ou Admirável Mundo Novo).

Em termos de áudio visual, o filme não deixa nada a desejar para as outras grandes produções adolescentes atuais. Salvo que o nível de efeitos especiais durante o contexto principal é muito menor, o que, talvez, faça com que nos aproximemos mais da protagonista e menos da fantasia propriamente dita.

As atuações dos atores, sinceramente, não merecem muito destaque, mas o conjunto da obra até que ficou muito bom. E é claro que há vários pequenos ‘furos’ na história, uma vez que se trata de uma adaptação de um livro. Então, pode ser que o filme não tenha mostrado alguns fatos que faltaram algumas explicações ou, quem sabe, ficou por conta do realismo fantástico ‘Deus Ex Machina’ mesmo...

Enfim, "Jogos Vorazes" é um filme que cumpre uma estética YA, que traz a tona um assunto atual na perspectiva jovial da coisa, e que surpreende aqueles que achavam que ia se tratar de simplesmente mais um sucesso comercial acéfalo. A recomendação para vê-lo não é das melhores, mas é sim muito boa.

Crítica do filme Millennium: Os Homens Que Não Amavam As Mulheres

Antes que você pergunte, saiba que eu não li a obra literária, tampouco vi o longa-metragem sueco de título semelhante ao do recente filme de David Fincher. Por esse simples motivo, posso comentar sobre os diversos aspectos da película hollywoodiana, afinal, avalio neste texto  apenas o que vi na tela, sem ter pré-conceitos ou comparativos diretos para julgar o filme.

Depois de ver “Millennium: Os Homens Que Não Amavam As Mulheres”, meu primeiro comentário foi: “este filme tem traços fortes da direção de David Fincher”. Com essa frase, você já pode ter ideia de que estou falando da semelhança notável entre este longa e os títulos “Seven - Os Sete Crimes Capitais” e “Zodíaco” — dois nomes que marcam o estilo do diretor.

O filme tem quatro elementos principais: Daniel Craig (Mikael Blomkvist, o protagonista), Rooney Mara (no papel da hacker Lisbeth Salander, provavelmente o foco principal da história), o mistério do caso (algo que comentarei posteriormente) e, obviamente, o ódio pelas mulheres (também chamado de misoginia, assunto que será abordado em diversos partes deste texto).

Duas coisas mostradas logo no início do filme não me agradaram muito. Você deve se lembrar bem dos quadros que aparecem na primeira cena e que depois são mostrados para Mikael, mas que não tiveram qualquer serventia para a solução do caso. Ao que parece, esse elemento foi mostrado apenas para que fãs do livro não reclamassem do longa.

Sinceramente, a introdução mais parece a abertura de um filme 007 e pouco se encaixa ao estilo do longa — as cenas são bem desenvolvidas, mas seriam melhor utilizadas em um seriado. Depois disso, finalmente vemos Craig interpretando com inteligência o jornalista Blomkvist, destoando dos papéis habituais do ator.

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Em seguida, Rooney Mara aparece como uma das mulheres odiadas do título. A garota é uma super hacker que usa um MacBook para ajudar na investigação do caso. Pra falar a verdade, esse papel de “super manjo das putarias na internet” já não convence muito, mas ok, estamos falando de uma história fictícia e, também, tudo pode acontecer no cinema.

Veja que citei o MacBook por um simples motivo: a propaganda recorrente no filme. Ela está cada vez mais comum nos longas americanos, mas é uma característica que não deveria fazer parte de uma obra de Fincher. Mas, tudo bem, a beleza esquisita da moça faz o público ignorar esses meros detalhes.

Até agora, não falei muito bem do filme, mas, por incrível que pareça, vou me contradizer e falar a verdade. Eu gostei muito do filme e acho que é um dos melhores que vi ultimamente. Desde o começo, o suspense é um elemento constante que mantém todos curiosos durante grande parte da projeção. Para complementar, Fincher usa sequências de ação bem elaboradas, as quais são bem aplicadas durante a resolução dos mistérios. Os coadjuvantes formam a família perfeita e esquisita, essencial para o estilo “detetive” do filme.

Uma das coisas que eu mais aprecio em qualquer filme é a trilha sonora. E, felizmente, a dupla Trent Reznor e Atticus Ross acertam na combinação das faixas com as imagens. Vemos aqui uma obra de suspense, que combina perfeitamente com o clima misterioso do longa. Aliás, é ótimo ver que filmes bons como este evitam o uso de sons comerciais.

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Em termos fotográficos, devo admitir que a equipe escolhida para dirigir a arte fez um excelente trabalho. Os cenários são bonitos em um primeiro momento e, depois, quando abordados em cenas futuras, os mesmos ambientes não parecem deixar o filme cansativo. Talvez, o longa se destaque nesse quesito por introduzir diversos locais no decorrer da trama.

A mudança no título de “A Garota com a Tatuagem de Dragão” para “Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres” foi perfeita, pois o tema do filme é sim o ódio pelas mulheres. Lisbeth tem um papel importante, mas as demais que sofrem também fazem parte da construção do longa. Enfim, parece que David Fincher conseguiu dar um up em sua carreira com Millennium, visto que ele havia dirigido o razoável A Rede Social.

Crítica do filme J. Edgar

John Edgar Hoover. Eis um nome que você provavelmente nunca tinha ouvido falar antes de ver alguma notícia sobre o mais recente filme de Clint Eastwood. O longa-metragem J. Edgar trata sobre a história do homem que deu início ao Bureau de Investigação Americano, ou seja, o FBI.

J. Edgar (DiCaprio) narra os acontecimentos importantes de sua carreira no FBI. De início, vemos Hoover em busca de um homem capaz de escrever sua biografia. Conforme ele vai detalhando os momentos importantes de sua vida para os diversos escritores, os espectadores vão acompanhando as situações que deram origem ao Bureau.

A história é contada de forma não-linear, característica que faz o público ficar atento a todo momento. O foco do texto de Dustin Lance Black parece ser as mudanças bruscas entre o passado e o presente de Hoover. Alguns momentos mais reveladores são lançados aos poucos, quebrando um pouco o ritmo biográfico e ajudando o filme a se manter impactante.

Durante essas transições de passado e presente entra uma técnica que não foi muito bem aplicada: a maquiagem. Ela convence em boa parte do filme, mas algumas cenas revelam certo descuido nesse quesito. Tanto Leonardo DiCaprio quanto Armie Hammer (Clyde Tolson) parecem ter rostos de borracha em alguns momentos. Na imagem abaixo, você pode entender do que estou falando.

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Para compensar esse “desleixo”, o filme apresenta uma fotografia de qualidade. Muitas cenas se passam em gabinetes ou ambientes fechados, porém, o longa não parece algo cansativo nesse aspecto. Os tons da película são voltados para cores mais frias, recurso que parece ser utilizado para denotar a época e a seriedade da história.

A musicalidade do filme é fantástica. A trilha sonora ainda não está disponível para compra, mas se você ficar atento ao áudio do trailer, tem ideia do capricho aplicado nesse aspecto. Só por curiosidade, o compositor da trilha é o próprio Clint Eastwood.

As atuações, de forma geral, são muito boas e, na minha opinião, Leonardo DiCaprio teve um desempenho exemplar. Ele interpreta um Hoover cheio de peculiaridades, parte delas vindas da mãe, outra provenientes de situações amorosas. E o Oscar? Bom, não vou nem comentar sobre isso, porque a Academia tem critérios que fogem à lógica

J. Edgar pode não ser o melhor filme de Clint Eastwood, porém, é um título bem construído que deve agradar até aos mais exigentes. O diretor/produtor do longa conduziu muito bem a trama e conseguiu mostrar um Hoover diferente. Particularmente, eu gostei muito do filme, por isso, recomendo para todos que gostam de tramas surpreendentes e bem desenvolvidas.

Crítica do filme Precisamos Falar Sobre o Kevin

A história de “Precisamos Falar Sobre o Kevin” já é bem conhecida, principalmente por receber a atenção dos holofotes nos telejornais e outros tipos de mídia. Só de ler a sinopse já dá para se ter ideia de como será a conclusão do filme, entretanto, o longa reserva surpresas que são apresentadas no decorrer das quase duas horas de cenas perturbadoras.

O filme trata justamente das dificuldades de Eva, mãe de Kevin, em tentar educar o filho e de como a vida dela virou de cabeça para baixo após a conclusão da história. A mescla de cenas no presente com memórias do passado é bem interessante, o que faz o filme ser bem desconexo, mas interligado aos poucos. Essa construção de forma aleatória não é nada nova, porém, foi muito bem utilizada.

Quanto a história, vemos que as situações do filme são bem particulares, afinal, poucas pessoas passaram por circunstâncias semelhantes, o que impede uma identificação direta com o drama. Apesar disso, as boas atuações de Tilda Swinton, que certamente deveria ser indicada ao Oscar, e de Jasper Newell, Kevin na fase criança, colocam o público bem próximo das dificuldades que Eva tem em educar o garoto perturbado.

Desde o começo, o longa apela muito para os tons vermelhos. Essa ideia de puxar para cores agressivas é muito boa, pois destaca o conflito mental de uma mãe após ver seu filho virando um monstro e contrariando tudo que ela tentara ensinar. O visual do filme, aliás, é um bocado diferente, o que ajuda a dar um tom de drama. A trilha sonora não é nada surpreendente, mas algumas músicas depressivas empurram para o clima difícil enfrentado por Eva.

Ao fim da película, fica claro que o filme tem mais a intenção de colocar o público para “Falar sobre os Kevins da vida real” (você vai entender isso depois que ver o filme) do que para servir como uma mera história adaptada. Pode até ser que algumas cenas sejam exageradas ou desnecessárias, eu mesmo senti isso, porém, o resultado geral desse longa-metragem é muito bom, principalmente porque ele não parece com outros dramas comuns.

Crítica do filme As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne | Tintim quer conquistar uma nova geração

Tintim é um personagem que tem fama de longa data. O rapaz belga começou suas aventuras nos quadrinhos, mas futuramente ganhou animações para televisão. O repórter conquistou gerações com os mistérios impossíveis que desvendava. E, entre tantos que se encantaram com Tintim, um homem em específico poderia fazer a carreira do personagem decolar.

Demorou muito para que Spielberg trabalhasse numa adaptação do repórter, mas, com a ajuda de Peter Jackson e de três roteiristas bem conceituados, Steven finalmente mostrou a visão que tem de Tintim. Claro, não poderíamos esperar pouco desse cineasta, mas eu, ao menos, não esperava que o filme agradasse tanto.

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"As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne" supera expectativas. A primeira coisa que chama a atenção é o estilo de animação baseado na captura de movimentos, o qual está cada vez mais comum e que aqui teve muito capricho. Nesse quesito, inclusive, vemos que o longa-metragem não ganha destaque apenas pelo método, mas muito mais pelo estilo único de desenho que deixa os personagens muito reais e ainda parecidos com os das HQs.

O ritmo do filme é acelerado e vemos Tintim sair de uma cena de ação e logo em seguida entrar em outra. Isso deixa a animação muito boa, mas também um pouco cansativa, pois não há muito tempo de ver qual a linha de pensamento do repórter. E, aqui, vemos uma coisa que é um bocado desnecessária: momentos diversos em que o personagem investigador fica falando claramente quais ações vai tomar e os motivos que o levam a fazer isso.

Claro, parte desse racíocinio de gênio é coisa do próprio personagem, mas talvez o uso em excesso incomode um pouco. Outra coisa que pode impressionar é a incrível atividade do cãozinho Milu, bichinho que muitas vezes pensa mais rápido do que o próprio Tintim, o que de certa forma é muito engraçado, afinal, temos aqui uma espécie de Sherlock Holmes vira-lata.

Para completar, vemos uma série de ações impossíveis e perfeitas. Contudo, isso, de maneira alguma, é um problema, mas é o que faz de As Aventuras de Tintim ser um filme tão divertido e surpreendente. No fim, o espectador acaba notando que o longa mais parece um jogo, do que uma aventura dos livros de Tintim. Essa característica parece ter sido proposital, ainda mais que essa animação nasceu numa época em que o público está acostumado com games.

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Quanto à trilha sonora, penso comigo “Como criticar John Williams, um músico que cada vez supera as expectativas e faz trabalhos ainda mais belos?”. Simples, não há do que reclamar, pois as faixas se encaixam perfeitamente com as cenas e dão um toque de suspense e genialidade ao longa. E se você não prestou muita atenção neste quesito, recomendo que escute alguns trechos das músicas no site da Amazon, basta clicar neste link.

Spielberg faz bonito novamente, superando minhas expectativas, encantando novas crianças e revivendo um personagem que estava esquecido para muitos adultos. Se você está pensando em ver uma animação e ainda tem dúvida se As Aventuras de Tintim vale a pena, então, pare de pensar e vá ver logo! Recomendo para todos, mas principalmente para crianças, afinal, em um tempo que Ben 10 impera, nada melhor do que Tintim para despertar uma paixão diferente.

Crítica do filme Sherlock Holmes - O Jogo de Sombras | Cada vez mais herói

Confesso que quando vi o primeiro filme de Sherlock Holmes com Robert Dawney Jr., fiquei muito decepcionado com a mudança completa do personagem. O detetive mais famoso de todos os tempos tinha virado um herói, que dava socos para todos os lados e, só depois, aos poucos parava em um momento ou outro para pensar em investigar o caso em que deveria trabalhar.

Quando anunciaram "Sherlock Holmes - O Jogo de Sombras", pensei que outra bomba estava prestes a chegar aos cinemas. Me enganei. O novo filme tem muitas ligações com o estilo introduzido no primeiro, mas ele consegue corrigir erros e se sair muito melhor que o anterior — não que seja o ideal para o personagem que vemos nos livros.

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Em Sherlock Holmes - O Jogo de Sombras, vemos o detetive correndo atrás do famoso Professor Moriarty, contudo, logo no começo do filme vemos um grande erro: o caso já está resolvido! Holmes já ligou todos os pontos e pouco se explica sobre o que ele vai fazer a seguir.

Não que os pontos não sejam conectados, mas ficou um bocado esquisito montar a história de forma inversa. Aliás, aqui vale uma crítica geral ao filme, pois todo o mistério que é colocado nos livros de Sir Arthur Conan Doyle, fica deixado de lado no filme, sendo que pouco se vê de investigação, reconstrução de fatos e material palpável sobre o caso (repetindo a receita do filme antecessor).

Depois de algum tempo, fica claro que Moriarty deseja começar uma guerra forçada, visto que ele tem como objetivo adquirir as principais fábricas de armas e, assim, seria o principal fornecedor de munição para todas as nações (ou seja, o cara só quer ser um grande capitalista). Aos poucos, vamos vendo que o detetive e seu companheiro visitam diversos países, algo que é muito positivo, visto que muitos cenários são utilizados e deixam o filme bem diversificado.

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Algo que motivou os roteiristas a retirarem essa investigação é justamente a nova roupagem de Holmes. Optaram por focar em detalhes no casamento do Dr. Watson (Jude Law) e deixaram de mostrar coisas importantes. O casamento, por sinal, serve justamente para fazer um drama, mostrando que o detetive é descompromissado e que necessita do parceiro no relacionamento.

Desde as primeiras cenas, vemos muitas sequências repletas de ação, recheadas de efeitos especiais, abusando aos montes do famoso slow motion. Apesar desse excesso, o filme não chega a ficar enjoativo, ou melhor, o público parece pedir por mais, justamente porque Guy Ritchie conseguiu construir excelentes cenas unindo a trama e as câmeras bem posicionadas.

Duas situações me chamaram a atenção: a cena do trem e a cena na floresta. A sequência na locomotiva é fantástica, mostrando que Sherlock Holmes pode sim ter muita ação nas horas devidas. E a cena da floresta impressiona muito pela minuciosidade de detalhes. Com câmeras Phanton, Ritchie conseguiu construir belíssimas sequências que empolgam os espectadores.

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Para acompanhar toda a ação, movida com detalhes revelados aos poucos, nada melhor do que uma trilha produzida por ninguém menos que Hans Zimmer. Nesse ponto, o filme é simplesmente impecável. Nota-se claramente o cuidado que o compositor tem em criar músicas especiais para cada sequência e tentar manter sempre o clima de suspense.

Nessa jornada de Holmes, vemos que além de Watson, ele conta com a ajuda da cigana Simza. Essa de certa forma dá suporte no geral, porém, senti que ela ficou muito deslocada, visto que as poucas expressões e a participação dela deixam a desejar.

Enfim, "Sherlock Holmes - O Jogo de Sombras" é um filme muito bom e, mesmo que ainda desagrade (os fãs do personagem clássico) por insistir num detetive heróico, ele conseguiu superar o anterior.

Crítica do filme Cavalo de Guerra | A história do cavalo Joey fará você chorar!

Não sei se você notou, mas Steven Spielberg estava há algum tempo sem dirigir um longa-metragem. O último trabalho do cineasta foi Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal, filme que não teve muita originalidade, mas que foi bem aceito. Agora, três anos depois, Spielberg retorna sua carreira com tudo, lançando dois filmes quase que simultaneamente.

As Aventuras de Tintim e Cavalo de Guerra são os novos títulos que estream neste mês nos cinemas de todo Brasil. Esse último chegou às salas na última sexta e posso dizer com toda certeza que é um filme que honra a carreira do diretor. Cavalo de Guerra não tem nada de sensacional quanto à história, porém, é um longa que faz qualquer um chorar.

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Cavalo de Guerra conta a história da dura separação entre o cavalo Joey e seu dono Albert Narracott. Os dois tiveram a relação cortada por conta do início da guerra, época em que um oficial comprou o cavalo dos Narracot - a família Narracot estava passando por dificuldades financeiras, o que forçou o pai de Albert a vender o equino.

A partir desse momento, a história foca no cavalo Joey passando pela guerra, mudando de dono a todo instante e sofrendo muito para aguentar todo o fardo que lhe entregam. Aliás, uma das coisas mais tristes, e talvez apelativas, do filme é justamente ver o cavalo sofrendo para aguentar as tarefas pesadas.

Mas aqui há uma dualidade de emoções, pois ao mesmo tempo em que vemos Joey encurralado em determinadas situações, percebemos que Spielberg permite ao público relaxar com belíssimas cenas em que o equino é bem tratado. Claro, essas últimas são minoria, porque o filme é um drama, em que a angústia e a tristeza devem cativar mais a plateia.

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Os belos e coloridos cenários, no início da película e posteriormente na França, passam a sensação de que Spielberg quis retratar um mundo perfeito, algo mais próximo do que vemos nas animações da Disney. Contudo, vemos também a preocupação do diretor em retratar muito bem o ambiente da guerra, deixando o filme com um tom forte de angústia.

Para contracenar com as belíssimas imagens, o filme traz uma trilha sonora emocionante, tudo para levar o público a derramar rios de lágrimas. As músicas são muito parecidas, mas não dão a sensação de que os sons estão se repetindo, exceto pelo tema principal que é tocado mais de uma vez.

Enfim, Cavalo de Guerra mexeu muito comigo e emociona a maioria dos espectadores. O filme não é a maior obra prima de Spielberg, mas ao menos é um longa que consegue cativar toda a família com uma história simples e belíssimas cenas. Recomendo o filme para todos que gostam de dramas ou para quem deseja ver um filme de guerra de um aspecto diferente.

Crítica do filme Gigantes de Aço | Robôs mais convincentes que humanos

A história de "Gigantes de Aço" se passa num futuro próximo, repleto de robôs lutadores, consoles de próxima geração (aparece até propaganda do Xbox 720) e máquinas mais avançadas. Apesar de ser notável a ambientação futurista, o filme não ousa apelar para veículos voadores ou tecnologias mirabolantes – ponto positivo para o diretor e o roteirista.

Nesse futuro não muito distante, vemos Wolverine Hugh Jackman no papel do pugilista decadente Charlie Kenton. O lutador viu sua carreira acabada quando robôs assumiram o esporte que ele praticava. Mas, para não abandonar sua vida, Charlie acaba se tornando um promotor de lutas, conseguindo robôs para lutar em campeonatos falidos.

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Não bastasse as condições em que vive, Charlie é atormentado por seu passado, o que inclui problemas com outros pugilistas e o reencontro com o filho, Max (interpretado por Dakota Goyo), que abandonou há anos. Apesar de relutante, o ex-lutador acaba ficando com o filho e montando uma equipe para arrasar nas batalhas de robôs.

No começo, eles usam um robô de alto valor, adquirido com uma grana que Charlie obteve ao negociar a custódia do filho com a tia de Max. Sem sucesso logo no primeiro combate, os dois acabam indo para o lixo procurar um novo robô. Por um acaso do destino, Max encontra Atom, um robô de treino que porventura acaba sendo o grande destaque do filme.

Durante essa história bem simples e clichê, vemos diversos robôs de alta qualidade gráfica lutando e arrasando nos efeitos especiais. Nesse quesito, Gigantes de Aço impressiona e deixa o público de queixo caído. Atom, apesar de simples, impressiona com a capacidade de dançar e ser um robô capaz de aguentar muita porrada – característica notável em poucos minutos e que praticamente revela o que acontecerá no fim do filme.

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Ao fundo, notamos a preocupação em usar uma trilha sonora empolgante para dar ânimo ao filme. Nas faixas de áudio, há grande presença de Eminem, músicas eletrônicas e outros sons de rap. Aqui também vale um destaque, pois a sonoridade do filme ficou muito interessante, apesar de que algumas cenas deixam claro que o diretor quis transformar Max em Justin Bieber de 11 anos.

O problema do filme, no entanto, está nos humanos, que não conseguem acompanhar o ritmo futurista e ficam presos a idiotices. Charlie, por exemplo, é um cara babaca, todo machão e que adora fingir não dar bola para ninguém. Ou seja, ele é o personagem perfeito (leia manjado) para dar o clima de emoção quando o filme chega ao ponto em que tudo virou uma bagunça e o cara tem de ceder ao lado humano para demonstrar um pouco de amor.

Max agrada durante boa parte do filme, mas a ideia de fazer o garoto se parecer demais com Charlie fica muito forçada. Os demais personagens humanos também não ganham muito destaque, apesar de que Bailey (Evangeline Lilly de Lost) até consegue agradar um pouco – e não digo apenas porque ela é bonita e graciosa, mas porque sua atuação é razoável.

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Enfim, "Gigantes de Aço" pode não ser um filme fantástico, porém é muito bem feito, deixando pouco a desejar. Quanto aos robôs, o filme arrasa a trilogia porcaria dos Transformers, pois não exagera nos efeitos de explosões, mas consegue causar mais ansiedade e emoção durante as batalhas. Assim, se você está lendo essa crítica enquanto o filme está nos cinemas, recomendo que o veja nas telonas, pois vale muito a pena.

Crítica do filme O Ritual | Uma boa película de exorcismo

O gênero exorcismo ganha um ou outro título aleatoriamente. Parte deles não passa de mais do mesmo. Outros conseguem se destacar por pequenos detalhes ou por apelar por grandes atores – e "O Ritual" se encaixa nessas duas características.

O protagonista é Michael Kovak, interpretado pelo desconhecido Colin O'Donoghue, um rapaz que trabalhava numa funerária e que por pressão familiar decide seguir o caminho do celibato. A história avança quatro anos, mostrando a dúvida que o possível padre tem entre continuar como homem de Deus ou se tornar um homem qualquer com uma vida comum.

Logo, Kovak se vê em um curso de exorcismo, em que conhece Angeline (Alice Braga), jornalista que participa das aulas para tentar revelar um pouco mais sobre os misteriosos rituais. Depois de pouco tempo, Michael é indicado a partir para um curso especial com um padre chamado Lucas Trevant – ninguém menos que Anthony Hopkins.

Michael é um homem recheado de dúvidas, que vai duvidar ainda mais do exorcismo, de Deus e do diabo conforme vai presenciando os eventos junto ao padre Lucas. Aos poucos notamos que a O’Donoghue não tem experiência nem como padre, muito menos como ator. Claro, parte disso se deve a inexperiência do ator e parte a presença de outros grandes nomes na película — que se sobressaem constantemente e deixam Colin no chinelo. O ator, no entanto, não deixa transparecer amadorismo, mas com certeza não foi um grande acerto.

Quanto ao restante do corpo de elenco, não há como reclamar. Alice Braga, Hopkins, Rutger Hauer e outros ajudam o filme a se manter firme. Todos inseridos numa boa trama deixam o resultado ainda mais interessante, visto que os atores precisam apenas fazer o que sabem de melhor. Aliás, no que diz respeito à história (que é baseada em fatos reais), não há do que reclamar, pois ela não é parada e consegue provocar alguns sustos.

Um detalhe que diferencia O Ritual de outros do gênero é a caminhada no chão. O filme não apela para muitas cenas de cabeças girando, camas flutuando ou coisas do tipo. Muito pelo contrário, a história foca mais no diabo influenciando a mente do padre Kovak e de outros personagens.

Enfim, "O Ritual" consegue fugir de muitos clichês, aproveitando alguns elementos para provocar medo e se sustentando ao conseguir estabelecer um laço interessante entre a realidade (devido o “baseado em fatos reais”) e a ficção. Recomendado para todos que gostam de terror e que pretendem ver algo novo no “gênero exorcismo”.