Documentário "Faça Você Mesma" contará história do punk feminista no Brasil

Foi depois de ler o livro "Riot Grrrl: Revolution Girl Style Now!", de Nadine Monem, que a diretora Letícia Marques teve o estalo de criar um produto cinematográfico para contar a história desse movimento e falar sobre o Riot Grrrl e o punk feminista no Brasil.

Depois de já ter trabalhando com filmes publicitários, moda e conteúdo web, ela decidiu partir para outras áreas do audiovisual. Seu primeiro curta-metragem documentário, O Corpo Conforme, recebeu em 2008 o prêmio Júri Popular no 16º Festival Mix Brasil.

Atualmente, ela se concentra em projetos similares, focando especialmente no longa-metragem documentário “Faça Você Mesma”, seu primeiro longa na direção, que já está há cinco anos na cabeça da cineasta. “Escrevi um esboço e deixei a ideia guardada até que entre conversas no Facebook sobre a representatividade feminina na cena musical a Patricia Saltara me deu um salve pra eu fazer um filme na nossa versão riot e entrei de cabeça instantaneamente”, conta.

O objetivo, segundo ela, é criar uma reflexão sobre a própria cena punk, onde até então não existia nenhum registro documental, mas peças de arquivo de algumas pessoas espalhadas por aí.

“A ideia então vem de querer juntar este material, e da percepção de que até então esta cena não tinha sido contada ou inscrita na história da cena musical brasileira. E então eu decidi levar este projeto em uma residência em NYC e apresentar o projeto lá, que ainda era uma ideia embrionária. Filmamos então algumas entrevistas em maio de 2016 e levei este material comigo para residência e o filme então começou a ganhar uma forma depois destas quatro semanas no Union Docs em Nova Iorque”, conta.

O Café com Filme conversou com a idealizadora de “Faça Você Mesma”, Letícia Marques, para conhecer um pouco melhor o contexto de desenvolvimento do longa. Confira a entrevista na íntegra!

Quais foram os principais desafios encontrados até agora para desenvolver o Faça Você Mesma?

Conseguir fazer a produção do filme com um orçamento pequeno, mesmo tendo muitas voluntárias trabalhando no filme, aluguéis de equipamento restringem um pouco sairmos filmando mais. E fazer a campanha de financiamento coletivo que mesmo com muita divulgação em várias mídias e compartilhamento nas redes sociais atingir a meta é uma tarefa difícil, e é um trabalho diário chamar pessoas para apoiar.

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O Brasil tem uma vasta produção de cinema independente, muito rica em conteúdo e diversidade, mas que infelizmente acaba ficando muito concentrada em um público bastante segmentado. Como você vê esse cenário no Brasil e como pensa em realizar a distribuição do Faça Você Mesma? Onde você gostaria que o filme fosse exibido?

Eu acho que hoje no Brasil a forma de distribuição está mudando (e no mundo) porque lá dentro, os diretores de conteúdo sabem que há publico para diferentes nichos e eles mesmos querem explorar esses conteúdos para diferentes pessoas e mercados no Brasil. E ao meu ver os nichos servem bem para o cinema independente, você  só precisa de uma estratégia de distribuição e licenciamento coerente para dar certo. Essa segmentação de certa forma hoje faz com que alcancemos mais facilmente nosso público e de fato muitos assuntos são de nicho e não funcionam com um publico mais abrangente.

É cedo para falar em distribuição porque não começamos de fato uma análise em cima, mas gostaria que o filme seguisse para festivais internacionais e nacionais, festivais voltados para a comunidade de documentários e da música e posteriormente levar o filme às plataformas digitais e eventos, exibições em varias partes do Brasil. E de fato, se licenciarmos para última janela, a televisão, estaremos levando para um público mais geral e o alcance será maior, o que seria muito positivo.

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The Hats, trio de punk rock criado em 2001, em São Paulo,
uma das bandas cujas integrantes foram entrevistadas para o documentário.

Seria o Crowdfunding uma solução para o cinema independente no Brasil?

Gostaria que sim e espero que cada vez mais o cinema independente consiga financiar filmes desta forma e consequentemente criar comunidades de cinema/documentários que possam financiar os filmes.

Quais as principais referências e inspirações do filme?

A Martha Shane documentarista norte americana foi a primeira inspiração, entre conversas ela abriu meus olhos para fazer o filme de forma diferente, estar no Union Docs em NYC fazendo a residência também me fez olhar e pensar em diferentes formas de se fazer um filme. O filme da Martha Shan é uma inspiração, “After Tiller” e a referência primeira é “Wildness” de Wu Tsang. “Ovarion Psycos” e “The Punk Singer” também são referências para “Faça Você Mesma”.

Sobre o conteúdo do filme, em si, embora o feminismo esteja ganhando cada vez mais espaço, o riot grrrl ainda permanece desconhecido pra muitas mulheres. Como vocês tiveram contato com ele?

Eu tive contato com riot grrl através de duas amigas em Florianópolis (SC). Uma me apresentando o Dominatrix e a outra bandas como Bikini kill. Depois fui morar nos Estados Unidos e tive contato com a gravadora Kill Rock Stars e uma certa cena punk e indie americana, lá tive a oportunidade de ver um show do Bratmobile em 2000. Voltando para o Brasil em 2001 foi quando de fato comecei a frequentar os shows em São Paulo e conhecer a cena riot grrrl brasileira.

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Quem são as principais entrevistadas do filme e como elas foram selecionadas?

Em termos de importância para o início da cena, tenho que citar a Isabela Gargioulo e Carol Pfister que ainda serão entrevistadas e também a Debora Biana, ex-baterista do Dominatrix, e Marina Pontieri que estavam lá desde o início. E também temos as personagens principais do filme que não necessariamente começaram a cena mas perpetuam ela hoje e o filme então busca o sentido do riot na vida  delas como a Bah Lutz, Flavia Biggs, ex-guitarrista do Dominatrix e guitarrista do The Biggs, Gigi Louise e Andressa Saboya.

Nas primeiras entrevistas tentei buscar quem estava diretamente na cena por um longo período de tempo, como a Debora, que tocou desde o início no DMX e a Flavia, que também esteve presente na cena e deu continuidade no riot grrrl com outros projetos. E a Silvana Mello, vocalista do Lava., por ter começado uma das primeiras bandas de repercussão na cena indie musical.

Qual é o principal objetivo do filme?

Inspirar outras mulheres e pessoas a serem o que querem ser, transmitir um certo sentimento de pertencimento e identificação por parte de tudo que a história do filme traz e certamente  trazer reconhecimento a estas histórias e inscrevê-las na cena musical brasileira.

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O documentário “Faça Você Mesma” tem direção de Leticia Marques, direção de fotografia de Janice D’Avila, produção de Patricia Saltara, produção executiva e montagem de Leticia Marques e som de Helena Duarte.

Para contribuir com o projeto do filme, basta acessar este link e ajudar!

Os desafios do cinema independente | Entrevista com diretor Eduardo Colgan

Um tiro foi suficiente para Eduardo Colgan, diretor paranaense, dar luz, câmera e ação ao curta “A Rua Muda” que estreou no Festival Olhar de Cinema 2017 e aborda a violência policial em lugares públicos nas grandes cidades.  O filme conta a história de quatro amigos que presenciaram o disparo de um tiro em uma das ruas mais movimentadas na noite de Curitiba. 

Baseado em fatos reais, a autocrítica e a identificação com o telespectador são pontos chaves para prender atenção durante todo o curta de Colgan. Afinal, quem nunca presenciou uma ação de violência pelas ruas da sua cidade? O filme é uma crítica as diferentes classes sociais presente em uma única rua: Rua Riachuello no bairro São Francisco. 

O diretor mais uma vez levou produções paranaenses às telas de festivais nacionais e internacionais. Em 2013, o curta "Vitória" ganhou prêmio de Melhor Atriz com Camila Hubner no Festival Kinoarte de Cinema e também participou da segunda edição do Festival Olhar de Cinema. Seu curta "Quatro e Fíntchy" participou da 15º Mostra de Filme Livre no Rio de Janeiro em 2015.

Na sua quarta produção, Eduardo Colgan conta para nossa equipe como é colocar em prática uma produção independente sem incentivo. Também comenta um pouco mais sobre o mistério do curta "A Rua Muda". Confira:

O filme “A Rua Muda” é uma autocrítica. Como foi feita a montagem de misturar a ficção com eventos reais que você presenciou?

Por um momento eu e meus amigos iríamos atuar, mas não ia ser legal. Então, chamei alguns amigos que não presenciaram o evento da abordagem da polícia e que já atuaram em outros curtas. Depois de personificar os personagens, o filme ficou com outra cara.  No decorrer do filme houve várias mudanças, por exemplo: um personagem participou de uma cena que não era dele, e a cena das fotos que foi feita sem roteiros, eram realmente os personagens reagindo a fotos reais deles.

Estes momentos de intimidade criaram uma conexão com o telespectador no qual ele consegue se ver dentro da história e se relacionar. 

A primeira cena do filme, que são os personagens reagindo à imagem da câmera, também foi um momento chave entre a ficção e o evento real. 

Em alguns momentos, a polícia está presente nas filmagens. Como foram realizadas as cenas?

O vídeo foi um amigo meu que gravou, mas o filme é mais ficcional como realmente aconteceu. O áudio é roteirizado, em algumas cenas coloquei sonoras para recriar o confronto. Em relação à polícia que apareceu em cena com os atores, foi coincidência, eles estavam saindo da balada e a cavalaria apareceu na hora. E outro momento é quando eles estão correndo e o carro da polícia surge na rua. Foi sorte! A gente gravou as cenas muito antes do programa Balada Protegida do prefeito Rafael Greca entrar em operação. 

Boa parte do público que estava presente hoje já presenciou uma ação de violência em lugares públicos, como é retratado no filme. Essa identificação ajuda a consolidar o cinema independente?   

A identificação é necessária para qualquer filme ser bom. Ter uma real intenção, propósito e os atores sendo reais e verdadeiros é necessário para qualquer filme, não somente no cinema independente, embora seja mais presente. Quando o diretor tem um projeto que deseja muito colocar em prática, o filme vira parte da alma dele, o que é diferente, às vezes, de uma produção hollywoodiana que contrata roteirista, ou compra o roteiro. O esquema de produção fica mais separado. E nos filmes independentes, o filme faz papel de filho para os diretores, uma criatura que ele pariu depois de anos de trabalho. Mesmo se o roteiro vier de outra pessoa, você fica tanto tempo trabalhando e tentando fazer o filme estrear que cria uma conexão quase física.

O único jeito de fazer filme aqui no Brasil é a vontade do coletivo

Em relação o financiamento do filme, uma parte foi feito por apoio. Como é criar um filme sem ter incentivo e com pouco recursos financeiros?

Há o seu lado bom! Você vê que as pessoas estão participando porque elas realmente acreditam na ideia ou querem debater e achar uma resposta. Os nossos apoios foram práticos: figurino disponibilizado por Fermín Cacarecos e a trilha sonora por Onça Disco, menos a música de abertura que pedimos autorização para usar. O resto foi do próprio bolso. A temática do filme que critica a estrutura urbana da Prefeitura de Curitiba e da Guarda Municipal não iria passar em um edital. É triste! E devido ao poucos recursos há poucos enquadramentos, mas faz parte. Se você tem limitações, é preciso aprender a lidar com elas para que o produto final converse com todo o filme, não adianta mascarar a falta de recursos. 

Como você enxerga o cenário cinematográfico de Curitiba?

Desde que começou o curso de Cinema na Faculdade de Artes do Paraná (FAP), aumentou o número de pessoas que ingressaram na área audiovisual. Ao mesmo tempo, teve uma popularização de câmeras digitais e smartphones. O vídeo é um elemento presente na vida de todo mundo, independente de quem faz cinema ou não, todo mundo é ligado com o audiovisual o dia inteiro. Então, sim, aumentou a vontade de fazer vídeos e amigos se ajudando para dar forma a eles, embora os editais estejam cada vez mais escassos - o edital estadual saiu pela última vez há quatro anos atrás. Alguns recursos que são comuns em outros países, a gente não tem essa base, então o único jeito de fazer filme aqui é a vontade do coletivo. A situação atual é boa, mas há muito material que poderia estar chegando em mais lugares com mais força e mais potência

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Assista ao curta-metragem no Festival Olhar de Cinema, em Curitiba.

Entrevista: Letícia Nascimento fala sobre o curta “Quando o Verde Toca o Azul”

Lançado oficialmente durante o 18º Festival Kinoarte de Cinema em Londrina, no Paraná, o curta-metragem “Quando o Verde Toca o Azul” é  uma produção com equipe e elenco locais e o segundo filme de Letícia Nascimento como roteirista e diretora, que estreou na direção cinematográfica com o curta “Onde o Coração Canta” (2015), vencedor do prêmio de melhor filme londrinense pelo júri popular no 17º Festival Kinoarte de Cinema, no ano passado.

Produzido com apoio do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PROMIC) via Prefeitura Municipal de Londrina, o curta apresenta a personagem Laura, 34 anos, que tem casa, marido e um bom emprego, e vive em uma rotina engessada. A partir de uma memória traumática, Laura, repentinamente, muda seu comportamento em busca de uma resposta para as questões que rodeiam os seres humanos.

O Café com Filme conversou com a roteirista e diretora Letícia Nascimento para saber mais sobre "Quando O Verde Toca o Azul" e sobre oas desafios da carreira de cineasta no Brasil, seus projetos para os próximos trabalhos e a repercussão do curta-metragem. Confira!

Café com Filme: Conta pra gente um pouco sobre a produção, de onde veio a ideia pro roteiro?

Letícia Nascimento: Esse roteiro surgiu em 2013 durante minha participação no Núcleo de Dramaturgia Audiovisual do SESI/Londrina, do qual fiz parte por três anos. Na época, participei de um pitching com ele e obtive um retorno muito positivo, inclusive com proposta de produtora para produzi-lo. Essa ideia ficou guardada por um tempo e após rodar o primeiro curta, achei que era hora de dar vida a ele. No processo eu me desafiei a partir de uma palavra, no caso REPENTINA, para construir o roteiro. Foi uma experiência muito interessante, este é um roteiro que abriu muitas portas pra mim. Para a filmagem mudei algumas coisas, o roteiro sempre muda quando vamos rodar, praticamente ganha vida.

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CF: Você já produziu algo antes ou esse é seu trabalho de estreia?

LN: Este é meu segundo curta-metragem como diretora e roteirista. O primeiro foi Onde o Coração Canta (2015), que venceu o Prêmio de Melhor Filme Londrinense pelo júri popular no 17 Festival Kinoarte de Cinema. Ele, assim como Quando o Verde Toca o Azul, traz uma personagem feminina como protagonista (vivida pela Thais Vicente).

CF: Você não está numa capital e o mercado de cinema fora das grandes metrópoles pode ser bem escasso, como você enxerga isso? De alguma forma a localização prejudicou o desenvolvimento do curta?

LN: Concordo que o cinema no interior pode ser mais complexo, mas Londrina é uma cidade "privilegiada" neste sentido. Temos um Festival de Cinema, que é o da Kinoarte, que é um dos mais consolidados do Brasil; contamos com patrocínio da Prefeitura de Londrina, que patrocinou este segundo curta via Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura) e, atualmente, tem muita gente boa produzindo cinema na cidade. Claro que se comparado aos grandes pólos do cinema brasileiro, estamos num processo de construção, mas acredito que a vontade de fazer cinema, ultrapassa muitas barreiras e limitações.

CF: Como vc começou a trabalhar com cinema?

LN: =) Eu sou apaixonada por cinema desde criança. A primeira vez que fui ao cinema, lembro de ter ficado extasiada por aquela tela imensa e aquele som e pelo poder que a história tinha sobre nós - lembro que diversas vezes eu olhava os meus colegas do lado e os via com as boquinhas abertas. Aquilo me seduziu desde muito cedo, como a literatura. Eu sempre gostei muito de escrever e um belo dia decidi que quando eu crescesse iria escrever as histórias do cinema. Mais tarde descobri que essa era a função do roteirista e comecei a escrever "roteiros" por conta, sem nenhum tipo de técnica, apenas do jeito que eu achava que era. Com o advento da internet, rsrs, eu pude me jogar nas bibliotecas de roteiro, ler muitas coisas, pesquisar e fui me aperfeiçoando. Minha vontade, inclusive atual, sempre foi de ser roteirista.

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A direção veio mais de uma necessidade de consolidar logo um roteiro em filme - nosso mercado é pautado em diretores dirigindo os próprios roteiros, existe uma grande dificuldade de encontrar alguém que queira dirigir um projeto seu, porque todo mundo têm seus próprios projetos. E aí, um dia reuni uma equipe com a cara e a coragem e rodamos o primeiro curta. Quis o destino que um tempo depois um outro roteiro fosse aprovado em edital e em um ano rodei dois filmes. Essa transformação dos roteiros em filme pode parecer repentina, mas a vontade de fazer cinema e essa maturação vem de muito longe.

CF: Já tem outros trabalhos em andamento, pro futuro?

LN: Ah, sempre tem, mas o que sei é que agora eu vou focar nos roteiros por um tempo. O processo de direção é muito desgastante pra mim, ainda, e eu preciso voltar as minhas histórias e personagens pra colocar mais coisas pra rodar. Eu digo às vezes que não sei se vou dirigir outro filme, que vou continuar sendo apenas roteirista e pronto, mas acredito que isso ainda pode acontecer sim. rsrs

CF: Quem foram suas inspirações pra esse trabalho?

LN: A Laura é uma personagem muito humana, ao meu ver, e tem até um pouco de mim nela. Ela apresenta uma mulher que tem aquilo tudo que a sociedade impõe como necessário e valoroso, mas que não basta para nenhuma mulher. Ela quer se encontrar, ser mulher, ser humana, ser.

Acho que minhas inspirações para a construção do filme foram outras pessoas, momentos cotidianos.

Eu busquei o acaso-objetivo para construir este roteiro e acho que ele também esteve presente nas filmagens. Agora se formos falar em referências, para construir junto com a equipe o conceito estético/visual do filme, algumas das referências foram "A Árvore da Vida", do Mallick, que é um filme que me encanta por esse poder de expressar muito em pequenos elementos, teve um pouco. Teve também referências de filmes de Lynne Ramsay, que é uma diretora que eu gosto muito, de filmes de Sofia Coppola, Bresson, Cassavetes…Tem sempre muita coisa que motiva um filme.

CF: Os curta-metragens são a porta de entrada numa carreira de cineasta?

LN: Acredito que sim. Eu estava montando o curta e pensando no trabalho que dá e aí toda vez imaginava como isso seria multiplicado no caso de um longa! Fazer um filme é muito trabalhoso, só quem já passou pela experiência de um set sabe do que se trata e cada equipe tem suas particularidades. Então, pensando em dificuldades, recursos e que cinema, além de arte, é técnica, os curtas são a melhor forma de começar, sem dúvidas.

Veja o teaser de Quando o Verde Toca o Azul:

Fica técnica do filme:

Sinopse
Repentina: que se disse ou fez súbita; imprevista; rápida; momentânea. Laura vive em um casulo imaginário. Até eclodir.
Elenco: Luciana Caminoto, Eduardo Lopes Touché, Alan Ferreira, Edimara Alves, Alessandra Pajolla e Juliana Monteiro
Roteiro e Direção: Letícia Nascimento
Produção: Bruno Gehring
Direção de Fotografia: Guilherme Gerais
Direção de Arte: Camila Melara Alcantara
Figurino: Thaina Oliveira Gonçalves
Make Up: Evelise Chaiben
Som direto: Artur Ianckievicz
Trilha Sonora: Lucas Dias Baptista
Projeto Gráfico: Glauber Pessusqui
Coloração: Vinícius Leite
Gaffer: Luiz Rossi
Assistentes de Direção: Marcos Savae (Co-preparação de elenco) e João Mussato
Assistentes de Produção: Raquel Sant’Anna e Nabila Haddad
Assistentes de Fotografia: Arthur Ribeiro (Still) e Elder Maxwhite
Assistentes de Arte: Higor Meíja e Natália Tardin
Assistente de Figurino: Layse Moraes
Patrocínio: Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic) via Prefeitura Municipal de Londrina
https://www.facebook.com/QuandooVerdeTocaoAzul

Viggo Mortensen se emocionou com o roteiro de “Capitão Fantástico” [vídeo]

A Universal Pictures divulgou, em sua página no youtube, um vídeo de making off do filme “Capitão Fantástico”, trazendo depoimentos do ator Viggo Mortensen. O ator Frank Langella e o diretor e roteirista Matt Ross também aparecem e contam seus sentimentos sobre a história e a mensagem do filme.

Mortensen disse que riu e chorou ao ler o roteiro do longa, pois aborda a paternidade de uma outra perspectiva, ele destacou que acredita que o filme seja muito especial com muitos momentos que fazem pensar. Ross também se posicionou declarando que a ideia do filme surgiu com a paternidade, onde se perguntava sobre a sua eficiência como pai e como é ter este papel nos EUA atualmente.

A produção conta a história de um pai que se dedica ao máximo a transformar seus seis filhos em adultos extraordinários. Isolados da sociedade, eles serão forçados a abandonar seu querido paraíso por causa de uma tragédia. A partir desse momento, a jornada para o mundo exterior passa a ser desafiadora, e a ideia do que é ser pai é colocada à prova.

Além de Viggo Mortensen, o longa ainda traz Trin Miller, George MacKay, Samantha Isler, Annalise Basso, Nicholas Hamilton, Shree Crooks, Charlie Shotwell, Ann Dows, Erin Moriarty, Missi Pyle, Karhryn Hahn e Steve Zahn no elenco.

Anote na agenda: “Capitão Fantástico” tem estreia marcada para 22 de dezembro no Brasil.

Jayme Monjardim fala sobre adaptação de “O Vendedor de Sonhos”, de Augusto Cury

Responsável por adaptações de livros para o cinema como “Olga”, de Fernando Moraes, e “O Tempo e o Vento”, de Érico Veríssimo, o diretor Jayme Monjardim lança neste ano “O Vendedor de Sonhos”, que leva para as telas o best-seller homônimo de Augusto Cury. 

Em vídeo recém divulgado, Monjardim conta que desde o início teve “a sensação de que teria nas mãos um projeto incrível”. “Acho que esse é o barato desse trabalho. É a gente alimentar o ser humano de que você pode da uma virada de 180º na sua vida”, diz o diretor. 

Confira o vídeo completo!

“O Vendedor de Sonhos” traz no elenco Dan Stulbach, como Julio César, e o ator uruguaio César Troncoso, como Mestre, além de Thiago Mendonça, Kaik Pereira, Leonardo Medeiros e Mallu Valle, entre outros. O roteiro é de L.G. Bayão, com a colaboração de Augusto Cury e LG Tubaldini Jr.

O filme, que chega aos cinemas em 8 de dezembro, foi produzido por LG Tubaldini Jr e André Skaf (Filmland Internacional), em parceria com Warner Bros. Pictures e Fox International Pictures. A distribuição é da Warner Bros. Pictures e Fox Film do Brasil.

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Baseado no livro de autoria do escritor Augusto Cury “O Vendedor de Sonhos”, que é o maior sucesso editorial nacional da década e já foi traduzido em mais de 60 idiomas, o filme conta a história de um renomado psicólogo que, desiludido com a vida, está prestes a cometer suicídio saltando de um prédio quando é resgatado pelas palavras e atitude do mais improvável dos seres: um mendigo, conhecido como “mestre”. 

Apresentando-se como um vendedor de sonhos, o Mestre oferece a Júlio César um dos seus mais preciosos bens - o sonho de recomeçar.

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Abalado e perdido, o suicida relutantemente desiste de suas intenções e aceita o convite daquele homem intrigante para segui-lo em sua surpreendente e amorosa jornada pela cidade para levar ajuda, esclarecimento e esperança a quem precisa. 

Porém, justamente Júlio Cesar e outros seguidores do “mestre” o levam a um desafio final, onde somente a grande lição salvará a todos. É uma história sobre autoestima, valorização do ser humano e aposta na capacidade que temos de nos superar.

Tezza: o pai d’O Filho Eterno fala sobre a adaptação do livro para o cinema

É só um livro queridinho virar filme que já começam as especulações. Entre grandes e desvairadas expectativas e aquele bom e velho pé atrás, é quase inevitável que os leitores que já mergulharam na história por meio das páginas na literatura esbocem qualquer tipo de reação quando a película é anunciada.

Mas, vocês já pararam pra pensar sobre o que passa na cabeça do cara que bolou aquela trama toda quando vê suas linhas arduamente construída tomarem forma para além daquela que o leitor vai construir com a ajuda da imaginação?

Essa brincadeira entre haters e lovers das adaptações já gerou bastante confusão entre fãs de sagas como O Senhor dos Anéis, por exemplo, assim como dos tantos títulos de Stephen King. King, inclusive, já se manifestou diversas vezes contra algumas das releituras de seus livros. "O Iluminado" dirigido por Kubrick, por exemplo, foi achincalhado pelo autor.

Aqui no Brasil, volta e meia algum livro também vira filme e o mais recente sucesso das livrarias que foi parar no cinema é o premiado "O Filho Eterno".

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A obra conta a emocionante história de um escritor que espera ansiosamente a chegada do primeiro filho e que descobre que terá de se acostumar com uma nova ideia – ser pai de Fabrício, uma criança com Síndrome de Down. São 12 anos de obstáculos, conquistas e descobertas conduzidas com carinho pelo escritor Cristóvão Tezza.

O que esperar desse relato tão íntimo quando ele escapa das página e vai se fixar em outra superfície, a das películas? Para quem já leu, a pergunta que surge é: como é que o diretor Paulo Machline vai conseguir transmitir todo o sentimento envolvido nas palavras do pai? E será que o autor do livro vai gostar do resultado.

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Bom, a gente foi perguntar a opinião de quem mais conhece essa história toda. O Café com Filme conversou com Cristóvão Tezza pra saber o que ele pensa disso tudo!

Café com Filme: O senhor já teve a oportunidade de ver o filme? O que achou?

Cristóvão Tezza: Sim, vi na pré-estreia no Rio de Janeiro, durante o Festival Internacional. Gostei do filme – é uma ótima narrativa, que segura o espectador do começo ao fim. Marcos Veras está particularmente bom como o pai, assim como Débora Falabella, a mãe, e o menino, Pedro Vinícius, que é uma graça. E achei perfeita a escolha de centrar a história no pai, no seu drama, o que é uma concepção narrativa bastante fiel ao livro.

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CF: Ao leitor de "O Filho Eterno", o livro parece ser muito "seu", parece carregado de um olhar muito pessoal sobre um assunto bastante íntimo. Causa-lhe algum estranhamento a ideia de ter essa história contada nas telonas? Como recebeu essa ideia?

CT: Sou bastante “cuca fresca” com adaptações. O meu trabalho eu já fiz, que foi escrever o livro – a literatura é a minha linguagem. Entendo um filme ou uma peça de teatro baseados em algum livro meu como obras independentes, leituras especiais, individuais, do potencial que está no livro de origem. “O filho eterno”, o filme, é uma obra autoral de Paulo Machline, uma leitura específica, em outra linguagem, do livro que eu escrevi. Assim como a peça de teatro (montada pelo grupo Atores de Laura) é uma obra de Daniel Herz, baseada no meu romance. São leituras bem diferentes, porque são linguagens diferentes. É verdade que, nos dois casos, o roteiro tem uma grande importância, mas é o diretor que lhe dá vida.

CF: Houve alguma participação sua na adaptação? Como consultor, talvez?

CT: Não – desde os anos 1990, quando participei diretamente da adaptação de “Trapo” para o teatro (com direção de Ariel Coelho), faço questão de não participar mais de adaptações. Acho que, como autor, eu seria um péssimo conselheiro. Não tenho a prática viva de roteirista de cinema – e ela é fundamental. E, como escritor do livro, acabo sendo suspeito. É impossível adaptar um livro para o cinema sem modificá-lo muito, sem colocá-lo sobre outra perspectiva. É melhor o desapego ao livro – afinal, minha obra já está inteira nas suas páginas. Um filme é outra leitura.

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CF: Adaptações de livros para o cinema costumam ser polêmicas, no sentido de que muitos leitores exigem uma fidelidade que a diferença de linguagens nem sempre consegue comportar na hora de traduzir uma história literária para um filme. Qual é a sua opinião sobre essa diferença de linguagem?

CT: Como eu disse, são linguagens substancialmente distintas. Vou dar um único exemplo, que me parece cristalino: no romance “Desonra”, a obra-prima do sul africano J.M.Coetze, em nenhum momento o narrador esclarece se os personagens são brancos ou negros (uma informação particularmente relevante em função do histórico racista do país) – ele não dá essa informação ao leitor, e esta “ausência” cria uma tensão especial na leitura. Pois bem, no cinema esta sutileza é absolutamente impossível. É uma variável que a adaptação teve de desprezar.

"O filme cria “outras realidades” que não estão no livro. Isso é absolutamente inevitável."

CF: Existe alguma adaptação que lhe seja especialmente querida nos cinemas?

CT: Gosto de imaginar que a adaptação do romance “O estrangeiro”, de Albert Camus, feita por Visconti, é perfeita. Assisti ao filme em 1968 ou 69 por aí, assim que saiu, e eu tinha acabado de ler o livro. Fiquei fascinado com a fidelidade. Mas nunca mais vi o filme – não existe cópia à disposição em lugar algum.Assim, não posso comprovar, 40 anos depois, se era mesmo tão perfeito assim... Engraçado que, no meu último livro, “A tradutora”, um personagem faz referência a um festival em São Paulo de filmes adaptados de obras literárias, e cita expressamente “O estrangeiro”, de Visconti, como um dos filmes da mostra. Corrigi na ficção esta falha terrível da vida real!...

CF: Em algum momento o senhor já cogitou escrever algo direcionado para esse tipo de linguagem, um roteiro para cinema ou televisão?

CT: Não – a literatura já me ocupa integralmente. Não há mais espaço na minha cabeça para me aventurar em outras linguagens.

Cinema, política e memória: entrevista com a diretora Maria Augusta Ramos

A realidade é uma grande fonte de matéria-prima para a arte. É com essa premissa que a diretora de cinema Maria Augusta Ramos justifica sua preferência pelos documentários, gênero que ela vem aplicando em suas produções desde o início da carreira.

A diretora, que em seus trabalhos opta por mostrar diferentes olhares sobre o cotidiano, é reconhecida pelos longas "Brasília, Um Dia em Fevereiro", "Justiça" e, mais recentemente, por “Futuro Junho”, documentário que retrata o atual momento socioeconômico e político brasileiro por meio do olhar de quatro personas. Em seus trabalhos, opta por mergulhar no universo dos personagens, mas sempre de uma forma muito espontânea, em geral sem entrevistas e sem interferir nos fatos.

Para ela, essa é uma forma não apenas de retratar, mas de ajudar a compreender e desconstruir momentos, cenários e contextos, como o atual momento político brasileiro. Depois de “Futuro Junho”, a diretora agora trabalha em um novo filme documental sobre o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff, que deve ser concluído no mês de agosto. 

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Inspirada por diretores da ficção como o japonês Ozu e o francês Robert Bresson, mas fortemente influenciada pelo documentarista holandês Johan van der Keuken, ela vem se aprimorando na produção, roteirização e direção deste gênero que já se consolidou como um dos mais importantes na história do cinema brasileiro.

O Café com Filme conversou com a cineasta sobre seu trabalho em “Futuro Junho”, sobre a capacidade de construção da memória nacional oferecida pelo cinema documental e sobre esse diálogo entre a produção cinematográfica e o contexto político, social e econômico de um país. Confira a entrevista completa!

Café com Filme: Conte um pouco sobre Futuro Junho. Como se desenvolveu a ideia deste documentário?

Foi um filme que surgiu aos poucos. Depois da crise de 2008 eu fiquei muito interessada pelo mercado financeiro e pela influência deste mercado sobre a sociedade, nas relações de trabalho e nas relações de poder, nessas políticas neoliberais. Passei a ler bastante sobre isso e decidi fazer um documentário aqui no Brasil. E escolhi a cidade de São Paulo porque é o grande centro financeiro do Brasil. Não poderia ser em outra cidade. E porque eu sempre tive vontade de retratar São Paulo. Não sou de São Paulo, mas conheço um pouco a cidade e ela me instiga muito, com toda essa característica de ser uma cidade que não para, que está 24 horas em movimento. Aí juntei as duas coisas, o desejo de falar de São Paulo e o desejo de falar dessa questão econômica através de indivíduos, de como isso afeta a vida dos indivíduos. 

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Escolhi quatro personagens, cada um deles representa um segmento da economia, para refletir sobre esse momento histórico, político e econômico, onde existe um crescimento grande, mas também uma grande insatisfação em relação a várias políticas adotadas.

É um momento em que se questiona esse modelo, onde os personagens expressam um desejo de mudança, um desejo de que as coisas caminhem de uma outra forma. No caso das manifestações de 2013 e 2014, você tem um desejo expresso nas ruas por educação e saúde de qualidade e isso também fica muito claro no filme. O filme trata dessas experiências humanas na cidade de São Paulo e dos grandes desafios e contradições que estão inerentes não só no capitalismo, mas na sociedade de maneira geral.

 CF: Nessa mesma linha é o seu próximo trabalho, um documentário sobre o processo de impeachment, certo? Como está o andamento e o que você pode nos adiantar sobre este trabalho?

Esse foi um filme que eu fiz tomando uma decisão muito às pressas, porque tudo aconteceu muito rapidamente. Então eu estou em Brasília acompanhando esse processo e provavelmente o filme termina quando o processo também concluir, que deve ser no final de agosto. Até lá eu vou acompanhar o andamento, já tenho acompanhado a Câmara, o senado, e também quando a presidenta estava no Planalto, e tudo o que está acontecendo também um pouco em torno dessas instituições. 

 “Um filme tem que ser capaz de retratar a realidade na sua complexidade, e não de uma maneira unidimensional”

 Essa decisão também veio de uma necessidade de falar disso que está acontecendo e retratar esse momento muito crítico, de uma crise profunda no sistema político brasileiro, não só no econômico. Eu não tinha como não me envolver, não querer falar disso, inclusive de vários pontos de vista. Eu acho que um filme tem que ser capaz de retratar a realidade na sua complexidade, e não de uma maneira unidimensional. E eu acho que a realidade é complexa, certamente nesse momento atual, onde você tem uma narrativa que tem que ser desconstruída e repensada, então isso tem que ser feito de uma maneira muito cautelosa e com muito respeito pela ética e pela verdade, eu acho que esse compromisso com a verdade sempre foi um elemento importante nos meus filmes. E acho que o que eu venho tentando fazer é isso: essa desconstrução e tentando compreender esse momento.

CF: O gênero de documentário vem sendo seu principal foco. O que atrai seu olhar para este gênero?

Porque a realidade me instiga muito. Eu não uso entrevistas, meus filmes são na verdade construídos a partir de observações da realidade. Cada filme tem “X” personagens e no decorrer dele você vai descobrindo esses personagens e a relação que esses personagens tem com o entorno, a família, a sociedade... Me interessa muito a interação, a relação desse indivíduo com o outro, com o pai, com o chefe, ou com a justiça. Como esse discurso, como essa relação se concretiza através de gestos e discursos e como isso é característico da sociedade brasileira.

"Muitas pessoas me perguntam quando eu vou fazer uma ficção. Mas os meus filmes têm uma construção em que a matéria prima é a realidade."

“Futuro Junho” mesmo é todo baseado nessas interações, um com o outro e consigo mesmo, seus desejos, frustrações, insatisfações, como ele externaliza isso no decorrer do filme, na medida em que ele conversa com outros. 

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Muitas pessoas me perguntam quando eu vou fazer uma ficção. Mas os meus filmes têm uma construção em que a matéria prima é a realidade. Em “Futuro Junho”, à medida que você vai vendo o filme, você vai se encantando com os personagens, com a autenticidade deles, ao mesmo tempo em que o que você está vendo é uma representação da realidade. Um filme nunca vai ser a realidade, é sempre uma realidade mediada pelas minhas escolhas como cineasta. Pode ser que um dia eu faça uma ficção, mas por enquanto meu projeto é outro, pois sou muito instigada pela realidade.

CF: Cinema e política vêm andando juntos na história da arte brasileira. Você acha que o documentário permite um estreitamento ainda maior entre ambos?

Eu acho que todo cinema, todo filme é um filme político, mesmo aquele que não se pretende político. Os filmes refletem valores e posicionamentos do diretor, mesmo aqueles que se propõem ao entretenimento, são filmes políticos que defendem valores. Acredito muito nisso. Mesmo aqueles que não diretamente falam e tratam de política, como é o caso do meu atual filme ou mesmo do “Futuro Junho”, são filmes políticos.

“Todo filme é um filme político, mesmo aquele que não se pretende político”

Mas por outro lado há uma diferença entre se propor a fazer documentários que defendem uma tese, que a gente poderia chamar de panfletários, e propor filmes que retratam a complexidade de uma realidade, propondo ao expectador ver uma realidade de várias perspectivas diferentes, que é uma outra abordagem. É com esta que eu me identifico mais, porque não é uma panfletagem, e sim leva a uma reflexão sobre essa complexidade da sociedade.

 CF: O cinema brasileiro vem ganhando mais projeção nos últimos anos e alcançando um reconhecimento junto ao circuito internacional que talvez não atinja ainda em território nacional. Você concorda com isso? E qual o papel do cinema documental neste cenário, em sua opinião?

Eu acho que o documentário brasileiro certamente tem tido uma importância nos últimos anos, ao mesmo tempo em que eu acredito que os filmes de ficção também começam a tomar mais espaço. Temos uma geração de novos cineastas que têm um trabalho muito criativo e eu acho que isso também está acontecendo com a ficção. Talvez o documentário tenha durante muito tempo preenchido esse espaço que agora acho que a ficção tem começado a preencher também. 

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O cinema brasileiro tem muito a dizer e o fato que hoje ainda há algumas políticas de incentivo através de programas como os da Ancine [Agência Nacional do Cinema] também beneficiou que jovens diretores pudessem vir a fazer filmes. 

"Talvez o documentário tenha durante muito tempo preenchido esse espaço que agora acho que a ficção tem começado a preencher também"

 O que estamos vendo hoje é um produto desse investimento, então espero que  isso continue acontecendo. Principalmente em documentário, que exista um apoio do estado, porque os filmes são feitos justamente pra se pensar como nação, são fundamentais para pensar pelo olhar da arte o momento histórico, qualquer evento histórico, qualquer personalidade histórica. Ou seja, é uma questão de memória nacional, então é muito importante que a gente continue tendo incentivos neste sentido.

É como o caso deste documentário sobre o processo de impeachment. Eu não sou a única diretora que está acompanhando esse processo. Outros diretores, como a Petra Costa [“Elena”, “Dom Quixote de Bethelehem”], também estão fazendo filmes sobre isso, e é muito importante que tenhamos vários, com múltiplos olhares sobre esse processo que é tão complexo.

Veja o trailer de "Futuro Junho" e acompanhe as novidades do Café com Filme, pois em breve teremos também a crítica do documentário por aqui!

Entrevista: Dan Albuk e Dan Pissarenko falam sobre o curta “Persona”

Semana passada, após conferir com acesso antecipado o curta-metragem “Persona”, a gente publicou um artigo especial dando um parecer geral da obra e pontuando vários acertos da produção.

O projeto brasileiro de responsabilidade do diretor Dan Albuk e do produtor Dan Pissarenko chegou com boas ideias para mostrar que o cinema brasileiro pode apresentar criatividade ao explorar um gênero pouco habitual e, assim, até se destacar no cenário internacional.

Tanto é verdade que, no último sábado, após exibição no Festival 72 Horas do Rio de Janeiro, o título de suspense levou quatro prêmios: Melhor Fotografia, Melhor Uso Inovador de Objetos Criativos, Melhor Ficção e Melhor Filme.

Com a receptividade positiva aqui no site e levando em conta o sucesso no Festival, fomos atrás das mentes criativas que idealizaram esta obra. Hoje, trazemos até você um pouco mais sobre o processo de produção e as ideias por trás do projeto.

Confira agora uma entrevista exclusiva com Dan Albuk e Dan Pissarenko sobre “Persona”.

Café com Filme: Você tem alguma formação na área ou mergulhou de cabeça no ramo apenas por hobby?

Dan Albuk

Estou me formando agora em cinema, mas já venho trabalhando há bastante tempo com audiovisual, literatura e com arte em geral.

Dan Pissarenko

Sempre fui apaixonado por cinema e sempre soube que era o caminho que queria tomar. A área de produção veio até mim de forma natural, por ser uma pessoa muito agitada, a correria do set de filmagem me seduziu.

CF: Como surgiu seu interesse pela produção cinematográfica?

Albuk

Desde pequeno! Eu sempre fui completamente louco por cinema e sempre quis fazer parte daquele mundo que eu via nas telas, mas os cursos de cinema aqui no Brasil eram extremamente caros e completamente inacessíveis pra mim na época, então fui para o caminho da literatura, lancei um livro e escrevi mais três.

No livro não tem orçamento (risos)! Mas depois as coisas melhoraram e surgiram oportunidades, então comecei a cursar cinema, principalmente pelos contatos e laços, do que pelo diploma em si.

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Rollo, Viviane Dias e Dan Albuk

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Gosto muito de empreendedorismo e vi na produção a parte mais empreendedora dentro do cinema. Como venho de uma família de publicitários, acabei tendo facilidades desde a adolescência em questões de produto, técnicas de vendas, orçamentos e coisas relacionadas à área.

CF: Percebemos pelo curta Persona que você opta por uma abordagem diferenciada. Qual sua visão sobre o cinema nacional? Como você pretende inovar e se destacar no meio?

Albuk

Olha, eu acho que o cinema nacional atual está batendo muito na mesma tecla.  Filmes semelhantes, com temáticas semelhantes e praticamente do mesmo gênero são vistos repetidamente no circuito, tipo pão de forma.
São raros os filmes brasileiros de suspense, terror, fantasia e ficção que chegam às telas e são vistos pelo grande público. Em parte pelas distribuidoras, que muitas vezes não querem arriscar uma bilheteria fraca e principalmente pela cultura do cinema aqui no Brasil

Está nascendo uma nova geração de cineastas que estão indo com força na contramão, produzindo filmes com ousadia e criatividade e abordando gêneros "esquecidos" aqui no Brasil. Para se destacar creio que é preciso sair da zona de conforto do mercado e contar histórias novas, criativas e de qualidade, que possam bater de frente com as de lá de fora que consumimos tanto nos finais de semana nas salas de cinema. 

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Dan Albuk, Santiago Felipe e Rollo - Foto: Pablo Diego

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Persona é ficção e poesia, acredito que o cinema brasileiro anda tendo muito material sobre a realidade em que vive, o que é muito importante, mas acho que existe um grande mercado para filmes mais lúdicos, especialmente para os amantes de fantasia, terror e ficção científica.

CF: Como foi o desafio de produzir o curta-metragem Persona em apenas 72 horas?

Albuk

Foi uma doideira! Praticamente três dias sem dormir, sem comer direito e trabalhando sem parar até, literalmente, os últimos minutos. A nossa principal arma foi a equipe do filme, que era super afiada, dedicada e com uma energia muito boa. O que um pensava o outro já concluía e executava. Taí a importância de trabalhar com amigos profissionais e pessoas que você confia, tudo sai mais rápido e melhor.

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Dan Albuk, Talita Mendes, Santiago Felipe e Rollo - Foto: Pablo Diego

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Foi como eu esperava que seria. A equipe se conhece de projetos anteriores então já trabalhamos de forma muito afinada, por mais que tenha sido muito cansativo e acelerado o ritmo de trabalho, já sabíamos que seria assim para poder entregar um material de qualidade no tempo devido.

CF: Sobre a produção de Persona. Como se deu o entrosamento da equipe? Vocês têm uma produtora? Os envolvidos também já possuem experiência com a produção de mídia audiovisual?

Albuk

Todo mundo já trabalha junto tem um tempo. O primeiro curta — “Do Pó ao Aço” — que fizemos e ainda está em fase de finalização, que gravamos ano passado, uniu muito algumas pessoas da equipe, então ela já estava praticamente pronta desde o começo. Aí convidamos mais algumas pessoas interessadas e com vontade de trabalhar e fechamos a equipe.

Praticamente 90% da equipe já tinha bastante experiência com trabalhos anteriores, então tudo correu relativamente bem durante a produção do curta. Eu e Dan Pissarenko estamos no processo de abertura de uma produtora, que provavelmente deve sair do papel nesta metade do ano!

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Pissarenko

Mais da metade da equipe está reunida desde o primeiro projeto "Do Pó ao Aço", então não somos apenas colegas de trabalho, mas também amigos. Quando nos reunimos para o Persona já sabíamos como era o trabalho de cada um, a equipe toda trabalhou em sinergia. Quanto à produtora, eu e meu sócio Dan Albuk, já estamos providenciando. Acredito que até o final do ano já estaremos produzindo através dela.

CF: A receptividade de Persona parece ser muito positiva. Você pretende investir mais neste gênero?

Albuk

Claro! Não só nesse, como também em fantasia e ficção. O cinema brasileiro é muito carente de conteúdo nessa levada, praticamente não se vê. Ficamos muito felizes com a repercussão de "Persona", tanto por parte da galera que foi assistir quanto dos jurados, que elegeram nosso curta como melhor filme do festival, dentre outros prêmios.

CF: Você tem outros projetos em andamento? Quais são seus planos para os próximos anos?

Albuk

Já estou trabalhando em roteiro para um longa, que é nosso objetivo principal, claro. Em paralelo estamos fechando parcerias e correndo por fora com trabalhos para publicidade e programas. Tenho outros roteiros escritos para curtas-metragem e outras inúmeras ideias para outras coisas, o próximo passo é organizar para fazer a maioria sair do papel.

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Ainda esse ano o curta metragem "Do Pó ao Aço" fica pronto para concorrer os festivais de 2017 e começamos a nos preparar para o nosso primeiro longa-metragem, que ainda estamos refinando o argumento. Também nesse meio tempo estamos pensando em possíveis produtos para a web.

CF: Como você enxerga a produção de filmes independentes no Brasil?

Albuk

Tem muita gente produzindo atualmente por conta da facilidade que temos hoje em dia e o acesso a aparelhos que com um clique já estão gravando. E isso é muito legal, pois dá a chance dos interessados se expressarem e mostrarem o trabalho.

Mas muitos ainda estão com aquela ideia ultrapassada de "uma câmera na mão e uma ideia na cabeça", isso não funciona quando você quer jogar de igual pra igual com as produções pelo mundo a fora. Tem que ter um preparo antes, uma pré-produção, uma organização para o trabalho fluir de forma legal para todo mundo da equipe.

O que eu acho que falta é parceria, dos cineastas em si. Cinema é equipe. Um filme não se faz com uma pessoa só. O pessoal passa mais tempo tentando ver quem é melhor e competindo de forma não saudável do que tentando subir junto. Ma,s como falei, acho que tem uma nova geração do cinema que está prestes a estourar. Uma galera boa, de cabeça boa e ideias novas e criativas está chegando com o pé na porta.

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Rollo e Viviane Dias - foto: Pablo Diego

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Muita gente associa filmes independentes ou cinema de guerrilha como algo amador ou improvisado, o que é errado. Cada vez mais estamos tendo filmes de qualidade com baixíssimos orçamentos e isso mostra que o mais importante é ter um orçamento realista, uma pré-produção bem organizada e a vontade de fazer acontecer.

CF: Quais são as principais dicas que você pode dar para quem está começando nesta área?

Albuk

Creio que não tem muito o que falar a não ser: corra atrás. É o princípio básico de qualquer profissão ou basicamente qualquer coisa que você faça. Se você não correr atrás, não vai dar certo. Não vai cair um roteiro no seu colo como mágica ou uma produção legal para trabalhar se não tiver movimento e iniciativa própria.

Para dar certo, você tem que abdicar de algumas coisas, tem que focar de verdade, sem corpo mole, sem desistir, independente dos problemas mais cabeludos que com certeza vão surgir. Ainda mais na arte em geral, que é um ramo muito, muito difícil e requer um esforço enorme para ser notado.

Muita gente vê o cinema de forma muito romântica, principalmente a galera que está começando agora e, cá entre nós, não é. É trabalhar pra cacete, é produzir, desproduzir, é limpar o set, ver figurino, é comer pão com manteiga de almoço, passar o roteiro com atores, pegar silver tape no meio da madrugada, não dormir direito e por aí vai. Cinema é trabalho em equipe, é juntar pessoas que você confia e se sente bem e dar a cara a tapa. E principalmente, levantar quando cair. Sempre.

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Igor Zuppo, Léo Dias, Santiago Felipe e Viviane Dias - Foto: Pablo Diego

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Eu diria que três qualidades são essenciais para ser um produtor. Ser proativo é uma delas. O produtor não pode esperar o problema acontecer, ele tem que estar preparado pra tudo, prever lá na frente as possíveis dificuldades e sempre correr atrás. Ser responsável, pois é no produtor onde toda a equipe confia o rumo e todas as decisões pertinentes ao filme. E, por fim, ser organizado, porque cada filme é um produto composto por inúmeras partes que não podem se perder, tanto para o entendimento do produtor quanto da equipe.

Dan Albuk é diretor e roteirista de “Persona”, enquanto que Dan Pissarenko é produtor executivo da obra. O curta-metragem será exibido em outros eventos e festivais, mas futuramente deve ser postado na web.

Deixamos aqui nosso muito obrigado a Albuk e Pissarenko pelo tempo e atenção. E, claro, não podemos encerrar este texto sem dar os devidos parabéns pela coragem, persistência e ótimo trabalho realizado!

Em Curitiba, Fábio Porchat conta detalhes sobre "Meu Passado Me Condena 2"

O ator Fábio Porchat esteve em Curitiba nessa semana com o objetivo de divulgar a estreia do filme Meu Passado Me Condena 2 e reservou a tarde de terça-feira para conversar com jornalistas da região sobre o que há de novo nesse recente trabalho. Ele se manteve atencioso ao responder todas as perguntas, num clima bem descontraído.

O primeiro Meu Passado Me Condena, sucesso de bilheteria com mais de 3,2 milhões de ingressos vendidos, mostra toda bagunça que é a vida do casal Fábio e Miá (Miá Mello) que se conhecem há apenas um mês e decidem se casar. Agora neste segundo, o momento é outro na vida dos dois: surge a primeira crise do relacionamento. Mas antes de tornar definitivo o processo de separação, a avó de Fábio morre e ele convence Miá a ir até Portugal acompanhar o funeral a convite do avô (Antonio Pedro).

“No primeiro filme, os dois estão embriagados pelo casamento, pois é tudo novo na rotina de cada um. O clima do segundo é bem diferente: eles se sentem afogados, percebendo todas as limitações da relação”, esclarece Porchat, que não se esquiva de expressar publicamente a sua opinião pessoal sobre o casamento: “O amor é livre, não obrigatório. O casamento é uma visão muito pequena do relacionamento, pois não tem como dar certo sem um grau de liberdade. Eu não acredito nesse tipo de relação, pois monogamia não funciona”.

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Perguntado sobre o estilo de humor dos portugueses, Fábio explica que eles são muito mais literais que os brasileiros. “Não fizemos aquelas piadas bobas de português, porque não tem tanta graça. Já está bem batido”. O ator  também conta que algumas cenas aconteceram de improviso para que ficassem mais engraçadas e espontâneas, como a da chegada na estação de trem que teve seu conteúdo original completamente alterado.

Tecnicamente as cenas mais difíceis de serem gravadas foram as que continham animais: “Bicho e criança são duas coisas difíceis de lidar durante as gravações. Mas com bicho é bem pior, pois ele nem tem consciência de que está participando de um filme”, comenta. 

Porchat demonstrou bastante otimismo com relação à audiência e acredita no potencial do cinema nacional. Ele explica que Entre Abelhas teve baixos números de bilheteria por ser do gênero dramático, mas Meu Passado Me Condena 2 é uma comédia com chances de repetir o sucesso do primeiro. Sem se intimidar com O Exterminador do Futuro, Porchat deixa seu recado: “a ideia é enrabar o Schwarzenegger!”.

Mesmo com a rotina de sucesso que se intensificou a partir de 2013 e especialmente com o crescimento do canal Porta dos Fundos, os sonhos de Fábio Porchat ainda não foram completamente realizados: “eu ainda quero largar tudo que faço para poder viajar pelo mundo”. E finaliza deixando um recado para os jovens que acompanham a série sobre que problematiza o matrimônio: “sejam mais tranquilos, a vida precisa ser mais leve e para que os relacionamentos sejam mais saudáveis eles precisam ser encarados com mais leveza”.

Meu Passado Me Condena 2  estreia amanhã, dia 2 de julho, nas principais salas de cinemas de todo Brasil.

Caminhos da Floresta: Entrevista com Meryl Streep e opiniões do elenco [vídeo]

No próximo dia 29 de janeiro, o novo filme da Disney, Caminhos da Floresta, chega aos cinemas de todo o Brasil. A produtora divulgou recentemente um vídeo em que o diretor e os atores envolvidos no título comentam um pouco sobre a experiência que tiveram na produção.

No entanto, o grande destaque dessa notícia fica para os comentários de Meryl Streep, que respondeu uma série de perguntas sobre sua carreira e a partipação no longa-metragem. Vamos falar um pouco sobre a atriz e na sequência temos a entrevista completa.

Por quase 40 anos, a belíssima e talentosa atriz Meryl Streep (a Bruxa de Caminhos da Floresta) vem interpretando uma fabulosa gama de personagens em uma carreira única no teatro, cinema e na televisão.

Streep cursou o sistema público de ensino em Nova Jersey até o segundo grau, formou-se cum laude pelo Vassar College e concluiu mestrado com honras pela Yale University em 1975. Ela começou a vida profissional no palco de Nova York onde rapidamente estabeleceu sua marca versátil e talento como atriz. Três anos depois de se formar, ela estreou na Broadway, ganhou o Emmy® (por Holocausto) e recebeu sua primeira indicação ao Oscar® por O Franco Atirador (The Deer Hunter).

Em 2014, em um recorde ainda não batido, recebeu sua 18ª indicação ao prêmio da Academia® pelo desempenho em Álbum de Família (August: Osage County). Ela ganhou o prêmio três vezes, com os desempenhos em A Dama de Ferro (The Iron Lady) em 2012, A Escolha de Sofia (Sophie’s Choice) em 1983 e Kramer vs. Kramer em 1980.

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Agora, Meryl Streep nos conta como ela se sentiu ao participar do processo de produção do filme Caminhos da Floresta (que é baseado em uma peça da Broadway), sua relação com o diretor, o contato com o elenco de qualidade do longa e o que ela espera que esta obra possa transmitir ao público.

1. Pode nos dizer o que a atraiu ao projeto?

Quando fiz 40 anos, recebi três propostas para interpretar bruxas em um ano e percebi que era o caminho que minha carreira ia seguir: eles não sabem o que fazer com mulheres que passam de uma certa idade. Então, eu não aceitei e disse "não" para papéis de bruxas desde então. Mas mudei de ideia quando esse papel apareceu porque essa bruxa é bem diferente.

Em primeiro lugar, ela se transforma. Toda sua razão para existir é para reverter um feitiço que foi lançado nela; ela põe em movimento todo tipo de dispositivo e causa uma reviravolta dramática na vida de todos.  Eu creio que os contos de fadas evoluíram para contos de alerta.

Eles eram contados para afastar as crianças de perigos que encontrariam na vida e para encorajar mulheres jovens a se casar com homens ricos. Todos são incentivados a encontrar um príncipe e viverem felizes para sempre e algumas vezes isso não acontece. É aí que o conto de Caminhos da Floresta (Into the Woods) se torna real e fica emocionante, randômico, estranho e quase como a vida real. Para um ator é muito divertido.

2. Você conhecia a peça teatral antes de assinar o contrato para o filme?

Eu fui ver o musical quando estava na Broadway como a grande Bernadette Peters interpretando a Bruxa, e achei fantástico. Não há ninguém igual a Stephen Sondheim. Não há ninguém que escreva canções direcionadas a personagens que possam ser cantadas e que contem uma história. A perspicácia, inteligência e ousadia de sua música não têm paralelos, então fiquei muito feliz de ter a chance de trabalhar no filme.

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3. Fale sobre Rob Marshall como diretor.

Rob tem um senso percussivo de movimento da peça, como um maestro. Ele tem o ritmo no próprio corpo. Ele foi dançarino, então eu acho que é muito importante para ele manter a batida do coração da peça e ir além; dos pontos de vista musical, emocional e visual. Ele é a pessoa ideal para fazer isso. Ele também é extremamente gentil como pessoa e tem um modo suave, jamais mostra poder, não tem um ego grande… ele pensa no trabalho e em realizá-lo.

4. E quanto ao visual do filme. Isso teve algum impacto em você como atriz?

Eu realmente dependo do meu cabeleireiro e maquiador, Roy Helland, que é incrível e precisa criar dois visuais muito diferentes para a Bruxa e para a Bruxa transformada. É empolgante, toda vez que entramos num projeto novo ficamos muito ansiosos imaginando se fomos longe demais, mas é muito divertido trabalhar dessa forma. Por que estar segura? Eu interpreto uma bruxa!

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E Colleen Atwood, nossa figurinista, é um tornado. Seu trabalho é muito criativo, livre e dramático.  Ao mesmo tempo, ela é conhecida pela atenção aos detalhes e alguns dos trabalhos são muito cuidadosos, delicados e lindamente confeccionados – são realmente belos e divertidos de usar. Os cenários também eram extraordinários. Havia uma floresta construída em muitos estúdios, porque em um momento é de uma maneira, e depois fica pós-apocalíptica com outra paisagem completamente diferente.

E nós também filmamos algumas cenas em cenários reais. Nós filmamos a sequência da Rapunzel em um mosteiro do século 11 no norte de Londres chamado Waverley Abbey e a cena do "terremoto" no belo Dover Castle, que fica na costa sudeste. Como atriz, quando você está num castelo real e tem cavalos levando pessoas em carruagens com rosas caindo do céu, você se sente num mundo imaginário, então seu trabalho está praticamente feito.

5. Fale sobre a exigência de cantar do filme.

Eu adoro a música de Caminhos da Floresta (Into the Woods). Na verdade, eu gosto cada vez mais sempre que ouço. Quando você ouve pela primeira vez a música, é meio apreensivo, mas na segunda ou terceira vez que ouve, ela tem mais e mais para dar a você. E quando se está num musical, eles tocam a música que gravamos em estúdio antes em todo o set. Eu me lembro de sair do teatro na Broadway cantando “No One Is Alone” para mim mesma – essa canção pega. As outras canções são igualmente maravilhosas. 

6. Nos conte sobre o calibre dos talentos envolvidos.

É um elenco incrível... é realmente um grupo talentoso de atores. Rob Marshall reuniu um grupo que sabe o que está fazendo, mas ninguém tem a chance de interpretar esse tipo de realidade aumentada, fantasia, conto de fadas, e é uma oportunidade única: os atores estão aproveitando.  Foi maravilhoso trabalhar com Emily Blunt no papel da esposa do Padeiro de novo, pois ela é muito talentosa e tem senso de humor e sensibilidade especiais que são perfeitos para isso… e uma voz maravilhosa também.

E James Corden como o Padeiro é uma lenda por One Man, Two Guvnors, o espetáculo que ele fez na Broadway em que falava com o público de improviso todas as noites. E Anna Kendrick… A Escolha Perfeita (Pitch Perfect) é um dos meus filmes favoritos, então eu adorei trabalhar com ela. Ela faz um ótimo trabalho no papel da ambivalente Cinderela, que não sabe bem se quer ou não ficar com o Príncipe, que é uma função de sua inteligência e suas perspicácia e discrição naturais.

Eu trabalhei com Christine Baranski em Mamma Mia, que é uma das minhas amigas mais queridas, e ela é diametralmente oposta à madrasta malvada, mas está se divertindo muito. E a mãe do João, Tracey Ullman é uma das minhas amigas mais antigas. Eu a conheço desde Plenty - O Mundo de uma Mulher (Plenty) quando ela tinha 21 anos, então é um sonho estarmos trabalhando juntas de novo. Eu a adoro. 

7. O que espera que o público leve deste filme?

Este é um musical com cérebro. Há uma inteligência por trás graças a Sondheim e Lapine. É visualmente e emocionalmente gratificante, mas também tem outros elementos que nos envolvem como artistas e nos fazem querer fazer o melhor que podemos. Do ponto de vista musical é desafiante e emocionante, então isso é o que eu espero para as pessoas: que se comovam e se sintam desafiadas.

Nós já vimos o filme Caminhos da Floresta e traremos nossa crítica em breve. O longa estreia dia 29 de janeiro.