Critica do filme Doutor Sono | O Mundo é um lugar faminto

Doutor Sono agrada, mas não encanta. O grande problema do filme é que, por mais injusto que seja, ele deve ser diretamente comparado com as obras de Stephen King e o filme O Iluminado de Stanley Kubrick. A comparação é necessária não apenas por se tratar de uma sequencia da história, mas por conta de todas as diferenças da controversa adaptação de Kubrick, até hoje execrada por King e celebrada por cinéfilos. Assim, é necessário antes de qualquer coisa se posicionar como uma sequencia do livro ou do filme, algo que Mike Flanagan não consegue definir ao longo de toda a película.

Caso você seja capaz de olhar para além do clássico talvez Doutor Sono pareça de fato melhor do que realente é. Sem desmerecer o trabalho de Flanagan — que já mostrou capacidade com o gênero na boa adaptação de Jogo Perigoso e no excelente A Maldição da Residência Hill — ele não é nenhum Kubrick e suas escolhas empurram o filme mais a aventura fantástica do que para o suspense sobrenatural.

De maneira encapsulada, Doutor Sono é interessante, mesmo que não acerte em cheio os fãs de terror. A história de King cria uma mitologia própria ao mesmo tempo em que revisita os demônios exorcizados em O Iluminado. O filme acerta o ritmo, mas perde boas chances de se tonar algo maior. Com pouco mais de duas horas e meia é um filme se mantém ágil, mas sem apresentar muito conteúdo.

No final, ficamos com a sensação de que, seja em seu formato literário, ou como uma grande adaptação cinematográfica hollywoodiana, O Iluminado não precisava de uma continuação.

Fantasmas do passado

Após os acontecimentos do Hotel Overlook, Danny Torrance e sua mãe se mudam para Flórida, mas os fantasmas seguem atormentando o garoto. Até que o espírito de Dick Hallorann surge para ensinar Danny a utilizar seus poderes psíquicos para conter as assombrações. Nesse tempo, somos apresentados a Rose Cartola a líder do Verdadeiro Nó, uma guilda de seres quase-imortais que se alimentam da essência de pessoas “iluminadas” como Danny.

Quase trinta anos se passaram desde a morte de seu pai Jack no hotel Overllok, mas Danny ainda sofre com outros fantasmas do passado, o legado de alcoolismo e temperamento violento de seu pai. Tentando fugir desses demônios pessoais, Danny vaga pelo interior dos Estados Unidos, até o dia em que chega à pequena cidade de Frazier, onde parece encontrar um lugar de paz tanto física e emocionalmente.

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Danny trabalha em uma clínica de cuidados paliativos, onde utiliza seus poderes para ajudar pacientes terminais a morrer em paz com tranquilidade, quando descobre a existência de Abra Stone, uma garotinha “iluminada” que mantém contato psíquico com ele.

O que era apenas uma “amizade a distância” é forçada quando Rosie e o Verdadeiro Nó descobrem a existência de Abra e, atraídos pelo tremendo poder da garota, começam uma caçada sobrenatural para consumir a essência dela.

A trama possui vários elementos interessantes e o trabalho de Flanagan torna tudo muito ágil, apenas do filme rodar por mais de duas horas e meia. O problema aqui é que, mesmo com todo esse tempo de duração, o filme não consegue explorar os pontos mais interessantes da obra, como os membros do Verdadeiro Nó e, principalmente, o relacionamento de Danny com seu pai.

Um mundo iluminado

Por incrível que pareça Ewan McGregor (Danny Torrence), maior nome da película, não é o grande destaque do filme. Operando em baixa rotação, talvez por escolha criativa do ator para evocar o cansaço mental do personagem, McGregor não brilha tanto quanto suas companheiras de tela, Rebecca Ferguson (Rose Cartola) e Kyliegh Curran (Abra Stone).

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Ferguson que passou a chamar a atenção depois de aparecer nos últimos dois filmes da franquia Missão: Impossível entrega uma personagem intrigante que cativa o espectador apesar de seus atos perversos. Enquanto isso, Kyliegh Curran se destaca com sua confiança (que beira a arrogância) em um equilibro que mistura elementos de ambas as personagens e ainda sim emana inocência.

Sem entrar em detalhes da trama e estragar eventuais surpresas da história, é uma pena que, nem mesmo nos flashbacks, não tenha sido utilizados modelos dos atores originas de O Iluminado, dito isso, Carl Lumbly, Alex Essoe e Henry Thomas fazem um bom trabalho na pele de personagens que foram eternizados por Scatman Crothers, Shelley Duvall e Joe Turkel. Fica também o destaque para ótima cena de Jacob Tremblay que em poucos minutos de cena dá um tom muito mais sinistro a todo o filme, desencadeando toda a trama.

Se a sua estrela não brilha, não tente apagar a minha

A verdade é que Mike Flanagan não faz nada muito errado, mas também não apresenta nenhum acerto sensacional. O filme se desenvolve com relativa agilidade e não se torna enfadonho em nenhum momento — há sempre algo acontecendo na tela para prender a atenção. Alguns truques bem elaborados do diretor, que também assina o roteiro, criam imagens inteligentes para a representação dos poderes psíquicos dos iluminados e do Verdadeiro Nó.

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O problema de Doutor Sono é bem mais simples e impossível de ser contornado, não se trata de um filme de Stanley Kubrik. Além disso, apesar da fala de Flanagan, o filme não se posiciona definitivamente como sequencia do livro ou do filme. É preciso entender as diferenças criativas por trás de cada obra e isso guia sim o desenvolvimento de uma continuação.

Doutor Sono não é ruim, mas não empolga. Falta o tempero kubrickiano e umas pitadas de Nicholson para dar sabor ao filme

King escreve O Iluminado e o descreve como uma de suas obras mais autobiográficas, tendo concebido o livro enquanto ele próprio lutava contra o alcoolismo em um hotel muito similar ao Overlook. Enquanto a produção de Kubrick é tão complexa que existem filmes sobre o filme e seus significados.

Ao tentar agradar ambos os lados o filme peca por não encontrar a sua própria identidade, parecendo algo estéril. Doutor Sono é um bom filme e certamente encontrará um público cativo, mas nunca terá o mesmo apelo que o original.

Crítica do filme Ted Bundy | Não é só mais um rostinho bonito

Quando alguém diz as palavras “serial killer”, que imagem vêm à sua mente? É provável que o rosto simpático do ator Zac Efron não seja exatamente a primeira opção, embora seja senso comum que os sociopatas que chegam a se tornar assassinos em série têm, entre suas características, o carisma. Pensando dessa forma, a escolha dele para dar vida a um dos mais emblemáticos criminosos norte-americanos talvez seja certeira.

Em “Ted Bundy - A Irresistível Face do Mal”, Efron é um charmoso estudante de direito que namora a mãe solteira Elizabeth Kendall (Lily Collins) e que, nas horas vagas, cruza fronteiras estaduais sequestrando, violentando e assassinando violentamente jovens mulheres.

Dirigido por Joe Berlinger, que também assina a série documental "Conversando com um Serial Killer: Ted Bundy", da Netflix, a película tem roteiro adaptado por Michael Werwie a partir do livro da própria Elizabeth Kendall sobre sua história com Bundy nos anos 70.

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Talvez por isso, diferente do documentário e da maioria dos filmes que retratam as atividades de criminosos seriais, “Ted Bundy - A Irresistível Face do Mal” não pesa a mão nas cenas aterrorizadoras dos crimes acontecendo em si. Ao invés disso, o longa-metragem coloca o espectador na mesma posição que a própria Liz, que enxerga o homem que ama através da lente da vulnerabilidade e pelo desejo de que ele seja inocente.

Se você espera assistir ao título para ver cenas de perseguição, sequestros e muita matança, portanto, esteja ciente que este não é o tipo de filme que temos aqui. 

Graças a essa perspectiva da ex-mulher – e talvez para retratar o quão inconcebível era, para ela, acreditar que o homem que era tão amável e atencioso com ela e com a filha pudesse ser capaz de cometer crimes tão violentos como outras jovens mulheres – o filme utiliza como recorte o período entre o dia em que Liz e Bundy se conhecem e a execução dele em 1989.

O circo midiático construído em torno do caso, com o seu julgamento, em 1979, sendo um dos primeiros a serem transmitidos ao vivo pela televisão no país, também é um dos aspectos abordados pelo filme, já que foi um dos aspectos que contribuiu para que o caso ganhasse tanta projeção nacionalmente.

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É justamente na ansiedade criada pelas câmeras e na tensão com o andamento do julgamento que o filme ganha seu ritmo, que não é exatamente muito acelerado. Pendendo mais para o drama do que para o lado da ação, a película demora um pouco para ganhar velocidade, o que cansar o espectador que aprecia filmes mais dinâmicos e movimentados.

Para compensar o ritmo, o filme confia no talento dos atores. Lilly Collins abraça com força a tristeza no semblante para interpretar Liz, fazendo um belíssimo trabalho ao mostrar o que pode acontecer com uma pessoa que passa pelo que ela passou.

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O próprio Efron está muito bem caracterizado, mas seu desempenho, apesar do rostinho bonito, não chega a ser genial. O ator leva o público a duvidar da culpa de Bundy, algo que o próprio serial killer fez com a opinião pública na época, mas não consegue entrar tanto na mente do criminoso - não deve, afinal, ser um lugar muito agradável para se estar, afinal.

A trilha sonora também não é algo que se destaca. Embora seja agradável e contribua com o andamento do filme, ela não chega a ser marcante dentro da película. Já a caracterização dos personagens e o figurino ganham pontos com o público, com uma bela adaptação ao período histórico em que a trama se passa, no final da década de70.

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Outro aspecto importante é a fidelidade com a história, já que há um grande cuidado com a acurácia com relação às datas e à cronologia dos fatos que marcaram o processo contra ele - fruto, também do fato de o diretor também já ter feito toda uma série documental sobre Ted Bundy.

Crítica do filme Cemitério Maldito | Às vezes, morto é melhor

Incrivelmente superior a adaptação original — aquela de baixo orçamento, cujo único elemento relevante é a icônica música dos Ramones —, a refilmagem de Cemitério Maldito (baseado na obra O Cemitério, do mestre Stephen King) acerta o tom, mesmo que descuide de alguns elementos. Fãs da obra literária certamente apontaram as “liberdades criativas” do roteiro que devem incomodar um pouco os mais puristas.

A direção não é inovadora, mas a dupla Kevin Kölsch e Dennis Widmyer, consegue imprimir um ritmo coerente e apresentar uma versão muito mais inteligente do que a pobre rendição lançada em 1989. Quando a direção e o roteiro falham, o elenco — em ótima forma, com destaque especial para o veterano John Lithgow — se supera e ajuda a construir as cenas com emoção e empatia.

O novo Cemitério Maldito é uma boa pedida para os fãs do gênero, e especialmente para os fãs de Stephen King. Mesmo com algumas licenças poéticas na história, o filme marca seu lugar dentro do universo fantástico aterrorizante do autor, fazendo inclusive referências a outras obras do mestre do terror, como o cachorro São Bernardo (Cujo), ou a cidade maldita de Derry (It – A Coisa).

“Simitério de animais”

A trama é basicamente a mesma do livro e da versão original de Cemitério Maldito. O médico Louis Creed se muda com a mulher e dois filhos pequenos para a cidadezinha de Ludlow, Maine. Apesar de aparentemente tranquilo, o novo lar dos Creed fica em frente a uma rodovia movimentada e o extenso quintal abriga uma floresta com um enigmático cemitério de animais.

Creed acaba descobrindo por meio de um vizinho, o simpático velho Crandall, que além do cemitério de animais fica um antigo território indígena com poderes sobrenaturais muito além da sua compreensão. Quando uma tragédia acontece, Creed é obrigado a rever todos seus conceitos sobre vida e morte, ciência e religião, e encarar o poder que emana do local.

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Não vou entrar em detalhes, mas basta dizer que existem sim algumas mudanças na história, seja em relação ao livro ou ao filme de 1989. Na verdade, nenhuma dessas mudanças realmente afeta a narrativa em si e, de certa forma, ainda ajudam a trazer alguma surpresa a uma história já familiar.

O Cemitério é uma das maiores obras de Stephen King e muito desse sucesso reside justamente na forma como o autor trabalha temas tão intensos quanto o luto, loucura e medo. Em todas as adaptações de Cemitério Maldito muito se perde nessa tradução e mesmo quando o próprio Stephen King trabalhou no roteiro, como no caso da versão original de 1989, a sensação ainda é muito aquém daquela experimentada por leitores aflitos que temem todas viradas de página.

Os diretores fazem um esforço para passar toda a claustrofobia da casa dos Creed, cuja loucura cresce conforme são confrontados com a morte e o sobrenatural. O destaque fica por conta da fotografia que utiliza uma paleta de cores que vai "acinzentando" gradualmente até o final.

A maquiagem é precisa — entre o gore e o realismo — criando imagens chocantes, mas nada apelativas. O design do "simitério de animais" é suficientemente sinistro para despertar o medo no espectador, mas infelizmente o mesmo não vale para o verdadeiro cemitério maldito, cuja construção em computação gráfica fica bem abaixo do esperado.  

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Luto emocional

Nessa nova leitura da trama, Matt Greenberg e Jeff Buhler apresentam um texto muito mais inteligente para o cinema. Sem pesar muito a mão em diálogos expositivos, ou grandes monólogos catárticos, o roteiro aposta no equilíbrio de talentos para que as falhas sejam sempre compensadas por outros elementos. Assim, mesmo sem entregar um filme fantástico, os diretores Kevin Kölsch e Dennis Widmyer compõem uma película sólida que não apresenta grandes falhas, o que já é um grande feito por si só.

Mesmo sem se apoiar em sustos ou sanguinolência, Cemitério Maldito é um filme tenso e assustador

Cemitério Maldito é um bom filme que acompanha de perto a história original e ainda apresenta algumas cenas impactantes; especialmente no final que mesmo divergindo do original, ainda se assemelha mais a proposta perturbadora do livro. Com um elenco bem afinado e uma direção cingida, a nova versão de Cemitério Maldito agrada, mas não supera outras produções recentes inspiradas em obras de Stephen King — notadamente It – A Coisa e Jogo Perigoso.

Critica do filme A Cinco Passos de Você | A distância entre nós

Caminhando sem medo sobre a fina linha que separa o romance do dramalhão, A Cinco Passos de Você traz para as telonas o romance homônimo de Rachael Lippincott. Abusando de clichês, o roteiro de Mikki Daughtry e Tobias Iaconis derrapa em alguns momentos, mas encontra seu caminho na direção dinâmica de Justin Baldoni e elenco afinado comandado por Haley Lu Richardson e Cole Sprouse.

Equilibrando o tom da narrativa com muita habilidade, o filme mistura leveza, sensibilidade e drama, com uma linguagem que expressa bem o  desafio de viver com uma doença crônica e incurável. Dialogando com naturalidade com o espectador, A Cinco Passos de Você não se desprende demasiadamente da realidade - afinal, o amor não cura tudo – preferindo tocar as pessoas com a sua sinceridade.

Tão perto e tão longe

Stella (Haley Lu Richardson) é portadora de fibrose cística - uma doença genética que afeta principalmente os pulmões - e passou sua vida inteira em hospitais por conta de seu tratamento continuo. Totalmente adaptada a uma vida presa em hospitais, a garota não se entrega a melancolia e no melhor estilo geração Z usa a internet para ventilar suas frustrações e compartilhar sua rotina em vídeos sobre sua rotina controlada.

Como era de se esperar, tudo muda com a chegada de um novo paciente. Will (Cole Sprouse) também sobre é portador de fibrose cística, mas diferente de Stella, seu comportamento rebelde e descaso com o tratamento agravam ainda mais a doença. Stella é obsessiva-compulsiva, algo que a ajuda na organização do seu tratamento, totalmente planejado e executado a risca. Enquanto isso, Will é totalmente alheio a tudo isso, aparentemente resignado a sua condição, o jovem não se importa em manter o penoso tratamento apenas para adiar o inevitável.

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Obviamente as diferenças entre os dois os colocam em rota de colisão e em tempo um aprende com o outro as alegrias de viver e a brevidade da vida como um todo. Entretanto, uma das particularidades da doença é a limitação de contato com outros portadores de fibrose cística, para evitar a contaminação cruzada – pacientes da doença são extremamente suscetíveis a transmissões bacterianas – forçando os dois a manterem no mínimo a seis passos de distância um do outro.

A premissa batida do romance adolescente ganha corpo no contexto da doença. Com momentos leves e outros carregados de dramaticidade, o diretor Justin Baldoni lança mão de vários artifícios para imbuir dinamismo a narrativa, equilibrando bem a realidade e a fantasia romântica. O roteiro tem algumas falhas e apesar de contar com um didatismo inteligente, a narrativa se alonga demais em momentos desnecessários, tornando o segundo ato um tanto arrastado.

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Cole Sprouse pode ser o maior chamariz, mas o destaque inegável é a Lu Richardson. O carisma da atriz consegue arrancar lágrimas e fazer sorrir. Outro destaque é a presença de Moises Arias, na pele de Poe, melhor amigo de Stella, o jovem tira um pouco do peso do segundo ato que, como dito anteriormente é desnecessariamente alongado.

Cinco espaços entre todas as coisas do mundo para recordar

Difícil não comparar A Cinco Passos de Você com A Culpa é das Estrelas, Um Amor para Recordar e outros romances adolescentes que combinam amor e limitações de saúde. Mesmo assim, A Cinco Passos de Você consegue entregar um filme interessante, mesmo com uma premissa nada inovadora.

O estilo dinâmico e o elenco carismático fazem o filme se destacar mesmo em um subgênero saturado

Mesmo com falhas, o filme se sustenta como uma das boas pedidas para fãs de romances adolescentes. Sem apelar para o dramalhão e sem se deixar levar pela fantasia, A Cinco Passos De Você emociona com sua leveza ao mesmo tempo em que apresenta o lado difícil de viver com uma doença incurável.

Critica do filme Alita: Anjo de Combate | Visão hiperfuturista meio embaçada

Longe de alcançar o mesmo impacto que a obra de Yukito Kishiro, a adaptação cinematográfica do mangá cyberpunk Gunnm — publicado originalmente entre 1990 e 1995 e conhecido no ocidente como Battle Angel Alita, ou Alita: Anjo de Combate —, é uma mistura equilibrada de erros e acertos. Saído do limbo de desenvolvimento e sob a tutela de James Cameron e Robert Rodriguez, o filme acerta em cheio no visual, mas escorrega na narrativa.

A enxurrada de efeitos ajuda a construir uma ambientação ciberpunk imersiva e análoga a do mangá/anime original, com direito a grandes olhos amendoados (próprios dos “quadrinhos” nipônicos). Infelizmente, toda essa maravilha estética não tem paralelo no roteiro. A história é apressada e pouco envolvente, enquanto os personagens parecem “ocos” e sem essência.

Mesmo com alguns “bugs”, Alita ainda se destaca como um esforço interessante na adaptação para os cinemas de uma das obras mais icônicas dos mangás/animes japoneses. Entretanto, em nenhum momento a produção realmente alcança todo o seu potencial.

A arma dos sonhos

No filme seguimos a história da pequena Alita (Rosa Salazar), uma pequena ciborgue que é encontrada desmemoriada em um ferro-velho pelo benevolente cibercirurgião Dyson Ido (Christoph Waltz). Vivendo na Cidade da Sucata (Scrapintown), uma espécie de favela abaixo de Zalen — a última grande metrópole flutuante —, a dupla acaba criando uma relação de pai e filha, enquanto Ido e Alita tentam descobrir mais sobre o seu passado. Em tempo Alita lembra de sua história e de suas habilidades incríveis, sendo na verdade uma relíquia de guerra com poderes extraordinários e é aqui que encontramos os principais problemas do filme.

Por conta da necessidade de espremer muita informação em pouco tempo, o Rodrigues acaba fazendo algumas escolhas narrativas pouco eficientes. Paradoxalmente, o diretor consegue criar uma ambientação sólida, apresentando vários elementos da sociedade e como as coisas funcionam na Cidade da Sucata, entretanto isso não se traduz muito no crescimento dos personagens.

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Tudo acontece muito rápido, sem tempo para que o espectador acompanhe a jornada de cada personagem, forçando uma empatia que não emerge naturalmente. O filme ficou engavetado por mais de dez anos, seja por limitações tecnológicas ou criativas. James Cameron pensou em adaptar o mangá como um seriado, seguindo o sucesso de seu projeto anterior, Dark Angel (que aborda temas similares). Depois de abandonar a idéia, Cameron sugeriu que comandaria o primeiro filme de uma franquia, sendo que o roteiro original da primeira iteração teria cerca de 3 horas de duração.

Finalmente, em 2016, com a introdução de Robert Rodriguez, o projeto começou a ganhar contornos mais sólidos, chegando até a versão de Alita: Anjo de Combate que finalmente chegou às telas. Essas mudanças não comprometem o estilo do filme, mas certamente minaram a sua estrutura narrativa.

Uma coisa é certa, o filme é extremamente dinâmico e, na maior parte, faz um bom trabalho ao apresentar os diversos elementos que compõem o vibrante universo de Alita: Anjo de Combate. Rodriguez fica na sua zona de conforto e entrega o que faz de melhor, um filme de ação. Fica evidente o esforço de Rodriguez para trabalhar a história de maneira que as fundações estejam sólidas para que a franquia possa crescer livremente.

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Sentimentos vazios

Se o metaenrredo é bem amarrado, as histórias dos personagens acabam ficando em segundo plano e sem tempo de tela. Assim, fica difícil empatizar com todos sem acompanhar a sua evolução natural, no fim ficamos com a sensação de que os personagens não têm motivações reais e apenas reagem.

Essa falta de exploração narrativa acaba subestimando um elenco de apóio de alto calibre. Christoph Waltz, Jennifer Connelly e Mahershala Ali não exploram metade de seu talento e ficam reduzidos a coadjuvantes de luxo. E por sinal, antes que xiitas uivem sobre whitewashing, vale lembrar que a história original é totalmente ambientada no que sobrou dos Estados Unidos, nos arredores de Kansas City, Missouri, sendo que Kishiro não perde muito tempo alucubrando sobre isso.

Como o filme não tem tempo para explorar histórias paralelas, não temos como acompanhar o desenvolvimento de seus personagens e como resultado tudo parece raso. Sem saber exato o que motiva os personagens, todas as suas ação parecem desprovidas de emoção e um tanto exageradas ou deslocadas. 

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Começo da caminhada

Robert Rodriguez tem um estilo inteligente na hora de traduzir a arte seqüencial para o cinema. Assim como em Sin City, o diretor é capaz de transportar quadros inteiros das páginas dos quadrinhos/mangas diretamente para a tela, algo a se louvar quando o assunto é adaptações de mídias extremamente visuais.

Enquanto o roteiro pena para conciliar a estruturação de um metaenrredo superior ao mesmo tempo em que carrega um capítulo coerente e interessante, muito acaba se perdendo pelo caminho. O grande problema fica por conta da exploração dos personagens que se tornam rasos frente à profundidade da trama maior. Algo que certamente será melhor abordado no futuro da série.

Alita: Anjo de Combate soa contraditório, mas se faz entender.

Alita: Anjo de Combate é um ótimo filme de ação, uma boa razoável e um capítulo pouco elevado do que pode ser uma franquia muito interessante. Fãs de ação de ficção científica não devem se desapontar, mesmo porque, sobrepujando qualquer falha narrativa, temos um grande espetáculo visual repleto de ação, mesmo que desprovido de grande emoção. 

Live action da Turma da Mônica ganha primeira imagem oficial

Turma da Mônica - Laços

Com data de estréia prevista para julho de 2018, o filme live-action da Turma da Mônica ganhou a sua primeira imagem com a turma devidamente caracterizada. A Maurício de Sousa Produções divulgou a foto do elenco de Turma da Mônica – Laços e mostrou que Kevin Vechiatto (Cebolinha), Gabriel Moreira (Cascão), Giulia Barreto (Mônica) e Laura Raseo (Magali) estão bem a vontade na pele dos persongens. 

Daniel Rezende (Bingo: O Rei das Manhãs) terminou as filmagens em fevereiro e pelo que podemos ver parece que os fãs não terão muito do que reclamar. O roteiro de Thiago Dottori (o mesmo de VIPs) adapta para as telonas o quadrinho Laços, lançado pela GraphicMSP e conta com produção da Biônica Filmes, Latina Filmes e Quintal Digital.

Animação "Operação Big Hero" vai ganhar série para TV

Vencedora do Oscar de Melhor Animação em 2015, "Operação Big Hero 6" vai virar série de televisão! Anunciada pelo Disney Channel, a novidade já tem data de estreia - este sábado, dia 24 de fevereiro - e já é possível conferir como vai ser a pegada das aventuras de Baymax e Fred nas telinhas.

Para comemorar a estreia da série, que vai ao ar às 18h30, o filme “Operação Big Hero” também vai ser exibido no sábado, dia 24, às 16h30.

Para quem não lembra, a animação conta a história da amizade entre o fofíssimo robô Baymax e o menino prodígio Hiro Hamada, juntam um grupo de amigos para formar uma banda de heróis hi-tech.

Dá uma olhada no vídeo e divirta-se!

Michael B. Jordan protagonizará adaptação do livro Fahrenheit 451 para a TV

A HBO confirmou a estreia do filme original “Fahrenheit 451” ainda para este ano na América Latina e no Caribe. O filme se baseia no romance homônimo do escritor norte-americano Ray Bradbury e será estrelado por Michael B. Jordan e Michael Shannon.

“Fahrenheit 451” descreve um futuro em que a mídia é só entretenimento, a história é reescrita e “bombeiros” queimam livros. Jordan interpreta Montag, um jovem bombeiro que abandona o seu mundo após brigar com o seu mentor, Beatty (interpretado por Michael Shannon), e luta para recuperar a própria humanidade. O elenco também conta ainda com Sofia Boutella e Lilly Singh.

O filme tem direção e produção executiva de Ramin Bahrani, que escreveu o roteiro com Amir Naderi. Também são produtores executivos Sarah Green, Michael B. Jordan, Alan Gasmer e Peter Jaysen. A produção é de David Coatsworth.

Sobre o livro “Fahrenheit 451”

Ambientado em uma cidade indefinida (provavelmente localizada no meio-oeste dos Estados Unidos) em uma época também indefinida no futuro depois de 1960, “Fahrenheit 451” é um romance distópico do escritor norte-americano Ray Bradbury publicado em 1953. O livro apresenta uma futura sociedade americana onde os livros são proibidos e há "bombeiros" que queimam qualquer exemplar encontrado.

Em uma entrevista no rádio em 1956, Bradbury contou que escreveu “Fahrenheit 451” devido à sua preocupação na época (durante a era McCarthy) com a ameaça de queima de livros nos Estados Unidos. Nos anos seguintes, ele descreveu o livro como um comentário sobre como a mídia reduz o interesse pela literatura.

Um visionário para o seu tempo, Bradbury explorou como os meios de comunicação dirigiriam os pensamentos e as ações do povo, em uma iniciativa que teve repercussão ao longo de muitos anos.

Esta não será a primeira adaptaççao de Fahrenheit 451 para os cinemas. A primeira foi dirigida por Françõis Truffaut em 1966, estrelada por Oskar Werner e Julie Christie.

A Cabana | Trailer legendado e sinopse

Depois que sua filha é assassinada durante uma viagem em família, Mack Phillips entra em depressão profunda e passa a questionar todas suas crenças. Em meio a uma crise de fé, ele recebe uma carta misteriosa ordenando que ele vá até a cabana na qual o corpo da sua filha foi encontrado. Apesar de suas dúvidas, Mack segue para o meio da mata do Oregon onde encontra três pessoas enigmáticas que mudarão para sempre a sua vida.

Releitura portuguesa de "As Mil e Uma Noites" chega ao Brasil em três volumes

O clássico da literatura mundial compilado por Antoine Galland já teve diversas adaptações para o cinema, sempre com um olhar diferenciado sobre as narrativas de Xerazade ao rei Xariar. 

A mais recente produção com este objetivo foi um pouco mais ousada. Trata-se da versão portuguesa do diretor Miguel Gomes, de Lisboa. Ele desenvolveu uma história em três partes: “As Mil e Uma Noites – Vol 1: O Inquieto”, “As Mil e Uma Noites – Vol 2: O Desolado”, e “As Mil e Uma Noites – Vol 2: O Encantado”, das quais duas chegam ao Brasil no dia 08 de dezembro, distribuídas pela Fênix Filmes. 

As Mil e Uma Noites em Portugal retratam um país Europeu em crise e um realizador que se propõe a construir ficções a partir da miserável realidade onde está inserido. Mas incapaz de descobrir um sentido para o seu trabalho, foge covardemente, dando o seu lugar à bela Xerazade. 

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Ela precisará de ânimo e coragem para não aborrecer o Rei com as tristes histórias desse país. Com o passar das noites, a inquietude dá lugar à desolação e a desolação ao encantamento. Por isso, Xerazade organiza as histórias que conta ao Rei em três volumes. Começa assim: “Oh venturoso Rei, fui sabedora de que num triste país entre os países…”. 

Xerazade duvida que ainda consiga contar histórias que agradem ao Rei, dado que o que tem para contar pesa três mil toneladas. Por isso, foge do palácio e percorre o Reino em busca de prazer e encantamento.

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O seu pai, o Grão-Vizir, marca encontro com ela na roda gigante, e Xerazade retoma a narração: “Oh venturoso Rei, fui sabedora que em antigos bairros de lata de Lisboa, existia uma comunidade de homens enfeitiçados que, com rigor e paixão, se dedicava a ensinar pássaros a cantar… ”. E vendo despontar a manhã, Xerazade calou-se.

Sobre o diretor 

Miguel Gomes nasceu em Lisboa, em 1972. Estudou cinema e trabalhou como crítico para a imprensa portuguesa até o ano 2000. Realizou vários curtas-metragens e fez o seu primeiro longa-metragem em 2004: “A Cara que Mereces”. “Aquele Querido Mês de Agosto” (2008) e “Tabu” (2012) confirmaram o seu sucesso e reconhecimento internacional. 

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“Tabu” estreou na competição do Festival de Berlim e ganhou o prêmio Alfred Bauer e o FIPRESCI; além de ter sido vendido para mais de 50 países e ganhado dezenas de outros prêmios. “Redemption”, seu curta-metragem mais recente, estreou em 2013 no Festival de Veneza. “As Mil e uma Noites” é um longa-metragem em três partes, que teve estreia internacional na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes 2015.