8 filmes para pensar sobre a Consciência Negra

por
Douglas Ciriaco

20 de Novembro de 2014
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Tempo 🕐 7 min

No Brasil, o dia 20 de novembro marca o Dia da Consciência Negra. A data foi escolhida porque marca o dia do assassinato de Zumbi, líder do quilombo dos Palmares e maior expoente da luta dos negros contra a servidão em território brasileiro. A definição de um dia da Consciência Negra como marco para reflexão e luta do povo afrobrasileiro é uma conquista do movimento negro, que não aceita o 13 de maio, aniversário da Lei Áurea, como a principal data dos povos da diáspora africana em nosso país.

E como o 20/11 é uma data para refletir, nada melhor do que uma lista com alguns filmes que ajudam a ilustrar a luta do povo africano e afrodescendente contra o racismo, a segregação e o colonialismo.

Histórias Cruzadas (EUA, 2011)

Histórias Cruzadas

Ambientado no estado do Mississipi, Estados Unidos, durante os anos 1960, “Histórias Cruzadas” conta a história da amizade entre Skeeter (Emma Stone), Aibeleen (Viola Davis) e Minny (Octavia Spencer). A primeira, uma jornalista, resolve escrever sobre o dia a dia das empregadas domésticas, que, tal qual em muitas casas brasileiras, ainda vivem como as mucamas da época da escravidão. Skeeter coleta o relato de Aibeleen, Minny e dezenas de outras empregadas domésticas, fazendo um relato fiel e cruel do cotidiano dessas trabalhadoras.

Direção: Tate Taylor.

Amistad (EUA, 1997)

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Um clássico dos anos 90 com direito a grande elenco e quatro indicações ao Oscar, “Amistad” é baseado na história verídica da tripulação do navio espanhol La Amistad. Voltando ao ano de 1839, a película contra a história de um grupo de africanos à bordo de um navio negreio que, após se rebelarem e tomarem o controle da embarcação, chegam aos Estados Unidos. Lá, são reclamados como propriedade por diversas partes envolvidas juridicamente na questão, assim como servem de combustível para inflamar a luta abolicionista naquele país.

Direção: Steven Spielberg.

12 Anos de Escravidão (EUA, 2013)

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Vencedor de três estatuetas do Oscar em 2014 (Melhor Filme, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Roteiro Adaptado), “12 Anos de Escravidão” é baseado em fatos reais e traz o relato de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um homem livre que foi sequestrado e transformado em escravo nos Estados Unidos.

Após mais de uma década de um longo perjúrio no qual ele conhece de perto toda a crueldade do sistema escravista do sul do país norte-americano, Northup reconquista sua liberdade e escreve sua experiência em um livro.

Direção: Steve McQueen.

Malcolm X (EUA, 1992)

Malcolm X

“Malcolm X” é um relato cinematográfico homônimo de um dos maiores líderes negros do século XX. Na obra, Denzel Washington dá vida a Al Hajj Malik Al-Shabazz, que nasceu como Malcolm Little e marcou a história da luta afroamericana como Malcolm X.

Com uma vida conturbada e cheia de reinvenções, Malcolm foi de um extremista ministro da Nação do Islã e partidário do segregacionismo a um ferrenho defensor do direito à autodefesa e da união e do apoio de todos os aliados no combate ao racismo e à desigualdade racial, independente de credo e cor da pele. O final da película dirigida por Spike Lee ainda traz um emocionante relato de ninguém menos do que Nelson Mandela sobre o líder afroamericano.

Direção: Spike Lee.

Ali (EUA, 2001)

Ali

Com duas indicações ao Oscar, “Ali” é a cinebiografia de Muhammad Ali, um dos maiores pugilistas de todos os tempos. A obra começa a contar a história do boxeador (muito bem interpretado por Will Smith) logo antes de sua conversão ao islamismo, quando ainda se chamava Cassius Clay, e vai até à sua antológica luta contra George Foremann no Zaire, quando ele recupera o cinturão de campeão mundial dos pesos pesados.

No intervalo entre a conversão e a última grande glória de Ali, o filme retrata seu temperamento explosivo e sua irreverência beirando a arrogância, o que desperta a ira dos racistas e garante a ele uma posição de destaque como referência do povo afroamericano na luta por direitos humanos.

Direção: Michael Mann.

Ganga Zumba (Brasil, 1964)

Ganga Zumba

Um grande relato sobre Ganga Zumba, o primeiro líder do quilombo dos Palmares, “Ganga Zumba” está repleto de referências à cultura e história do povo afrobrasileiro. Marco do chamado Cinema Novo, a película traz Antônio Pitanga no papel do protagonista e apresenta inúmeras danças e rituais africanos interpretados pelo grupo Filhos de Gandhi.

Antão, nome de batismo de Ganga Zumba, ouve a história de que sua falecida mãe era uma rainha africana, e que a ele estaria predestinado a se tornar rei. O escravo então fica sabendo da existência de Palmares, um lugar protegido pelos orixás, e inicia sua jornada para se tornar o primeiro rei do maior quilombo brasileiro.

Direção: Cacá Diegues.

Besouro (Brasil, 2009)

Besouro

O ano é 1897. Um tempo difícil para os afrodescendentes que residiam no Brasil, já que eles haviam sido libertos da escravidão, mas não tinham moradia, comida e trabalho. Surge então um homem que se tornaria uma lenda: Manoel Henrique Pereira, que vinte anos depois ficou conhecido como Besouro Mangangá (Aílton Carmo).

Ele não foi alfabetizado, mas dominava a arte da capoeira. Assim como a maioria dos negros da época, ele trabalha para os fazendeiros da região. A única diferença é que Manoel não levava desaforo para casa. Ele se envolveu em inúmeras brigas com os ricos e com a polícia, o que levou o nome Besouro a ficar marcado na história.

Direção: João Daniel Tikhomirof.

Um Grito de Liberdade (Reino Unido, EUA, Itália, África do Sul, 1987)

Um Grito de Liberdade

Um relato da amizade entre o líder anti-apartheid Steve Biko e o jornalista branco Donald Woods na África do Sul. Woods (Kevin Kline) é um liberal que muda sua opinião sobre a luta dos negros sul-africanos após se aproximar de Biko (Denzel Washington) e descobrir que este foi silenciado pela ditadura racista. A partir de então, o jornalista se torna um aliado disposto a fazer de tudo para que a voz e a luta de Biko chegue aos principais veículos de comunicação do mundo.

Além de uma obra interessante sobre a amizade formada entre os dois, “Um Grito de Liberdade” serve também como retrato das atrocidades cometidas pelo regime do Apartheid na África do Sul.

Direção: Richard Attenborough.

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A lista tem apenas oito títulos, mas poderia ter tantos outros mais. De qualquer modo, não deixa de ser um bom ponto de partida para a reflexão sobre a história e a condição dos povos africanos e afrodescendentes em diversas épocas, lugares e situações. A memória nunca é demais.

Douglas Ciriaco

Cê tá pensando que eu sou lóki, bicho?