Palahniuk, Fincher e uma adaptação que complementa o original

por
Douglas Ciriaco

29 de Março de 2014
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Tempo 🕐 3 min

Eu cheguei à obra de Chuck Palahniuk pelo cinema — e aposto que muita gente que hoje vai atrás das coisas que ele escreveu também chegou até ele dessa maneira. Se você não sabe a quem estou me referindo, eu esclareço: Palahniuk é autor de livros como “Cantiga de Ninar”, “No Sufoco” e “Clube da Luta”. Ele já escreveu diversas outras obras além dessas e, duas delas, exatamente “Clube da Luta” e “No Sufoco”, chegaram ao cinema.

Se você não é um entusiasta da obra de Palahniuk, talvez nem se lembre de “Choke - No Sufoco”, a adaptação cinematográfica da obra levada à telona em 2008 pelas mãos de Clark Gregg (que além de dirigir e roteirizar, também atuou na película) e estrelada por Sam Rockwell (“Lunar”) — Gregg é mais conhecido por interpretar o agente Phil Coulson em filmes da Marvel, como “Homem de Ferro” e “Os Vingadores”.

Muita gente não imagina que “Clube da Luta” é a adaptação de um romance, mas provavelmente já ouviu falar na obra que se tornou um verdadeiro clássico do “cinema cult”, se é que podemos dizer assim, no final dos anos 90 — na verdade, se você viu o filme e não sabia disso, é um grande desatento, pois a informação aparece logo nos créditos iniciais.

Chuck Palahniuk

Em 1999, David Fincher (“A Rede Social”) dirigiu a versão cinematográfica desse verdadeiro “soco na mente” de Palahniuk, comandando um elenco de respeito com Brad Pitt (“Entrevista com Vampiro”), Edward Norton (“A Outra História Americana”) e Helena Bonhan Carter (“Alice no País das Maravilhas”),  mostrando que não precisa do marido na direção pra esbanjar talento, diga-se de passagem. No apoio, nomes que dão um toque especial à película, como Meat Loaf (“Tenacious D - Uma Dupla Infernal”) e o agora vencedor do Oscar Jared Leto (“Senhor Ninguém”), completam o time.

Bem, voltando ao início do texto, eu conheci a obra literária de Chuck Palahniuk por meio do filme, que fui assistir somente em 2007. Depois disso, encontrei alguns livros dele para vender, outros eu baixei na internet, mas desde então procuro ler tudo que sai em português. A obra mais fascinante pra mim é, sem dúvida, “Clube da Luta”, e é aí que entra um ponto interessante: a abordagem dada por Fincher e por Jim Uhls, o roteirista, consegue capturar muito bem o espírito do livro de Palahniuk.

David Fincher

Depois de ler o livro e ver o filme algumas vezes, as lembranças de ambos se embaralham e às vezes fica difícil lembrar exatamente de qual obra é determinada fala. O filme tem muito do livro, é óbvio, mas também adiciona algumas coisas novas (como por exemplo a forma como o narrador conheceu Tyler Durden e ainda o fim que ele dá aos problemas com seu chefe), porém sem inventar demais, sem desrespeitar a obra original, digamos assim.

Os responsáveis por adaptar o texto de Palahniuk para o cinema conseguiram capturar o perfil psicológico da obra e de seus personagens de forma excepcional, criando uma atmosfera caótica e bizarra, trabalhando de forma competente o humor ácido e crítico que o autor esbanja no livro.

Enfim, arrisco dizer que os dois “Clubes da Luta” são complementares e podem muito bem ser apreciados em sequência um do outro. Fazer isso várias vezes, aliás, vai deixar aquela sensação de não saber qual é qual na hora de fazer uma citação, como se você estivesse quase imerso na obra e não soubesse quem é Tyler e quem é Narrador.

Douglas Ciriaco

Cê tá pensando que eu sou lóki, bicho?