Persona

Curta com autenticidade no suspense tem mensagem impactante

por
Fábio Jordan

22 de Junho de 2016
Fonte da imagem: Divulgação/Dan Albuk
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Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 4 min

Marque este nome: Dan Albuk. Eis aí um cineasta que esbanja talento no início de sua carreira e mostra empenho também enquanto roteirista. Albuk é o responsável por trás do argumento e da execução do curta-metragem “Persona”.

O título com pouco mais de 6 minutos de duração foi realizado em apenas três dias, mas ganha atenção especial por estar entre os selecionados do Festival 72 Horas do Rio de Janeiro. A primeira exibição para o público será realizada no dia 25 de junho de 2016, no Cine Odeon.

Ao acompanhar algumas imagens prévias do curta-metragem, divulgadas por alguns membros da equipe, fiquei um bocado intrigado com o mistério estampado nas fotografias. As capturas davam um tom bem sinistro, algo que chega a dar uma certa angústia e que, de certa forma, lembra um tanto títulos icônicos do gênero de suspense/terror que marcaram época.

Com um homem mascarado como centro das imagens de divulgação, o filme sugere a temática de assassinatos em série e dá certo desconforto sem precisar fazer esforço. Depois, ao conferir a sinopse, podemos ter uma ideia mais clara do ponto principal abordado no curta-metragem. Confira o resumo:

Um serial killer procura em sua última vítima a forma mais pura de enxergar a pele por baixo das máscaras de todos nós.

Obras sobre homens perigosos, que assombram a sociedade são um tanto comuns, mas não é bem o caso quando falamos de produções brasileiras, que preferem focar em mensagens impactantes, mas aproveitando gêneros com abordagens descomplicadas e um tanto descontraídas.

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Dan Albuk, por outro lado, vai na contramão, se mostra empenhado em levar sua mensagem ao público de uma forma ousada, ao apostar numa construção mais sinistra e envolvente. Ele aposta seriamente no suspense e se diferencia com um projeto que, apesar de um tanto conceitual, poderia se alongar para um longa-metragem.

Antes do lançamento, o diretor liberou o vídeo para podermos conferir de perto suas ideias. Abaixo, vou relatar um pouco sobre a minha opinião, sem dar spoilers, claro, pois muitos ainda vão conferir a obra nas mostras que vêm por aí e futuramente na internet.

Suspense autêntico: um gênero em falta no Brasil

A narrativa do personagem vagueia entre falas em off e diálogos que ele faz consigo mesmo ao responder por outras pessoas. O tom de voz do ator Rollo (formado em Canto pela Escola de Música Villa-Lobos e cursando bacharelado em Artes Cênicas pela Faculdade da CAL) é propício, uma vez que deixa o público atento ao que ele tem a dizer. A serenidade com que fala também ajuda muito, já que muito da mensagem tem que ser passado somente pelo áudio, uma vez que ele usa máscara.

Uma coisa interessante é que a construção do personagem se dá também pela movimentação. Rollo (que já atuou em filmes como "Line Walker, de Jazz Bonn", e "Sigilo Eterno", de Noilton Nunes) articula muito as mãos e se locomove de forma premeditada, deixando o espectador irrequieto, já que não dá para saber o que ele está tramando. O mais curioso, no entanto, é perceber que algumas falas do serial killer acabam fazendo sentido.

É claro que a ambientação escolhida e projetada com cautela ajuda bastante. Em caminhadas noturnas, nas quais vemos o personagem a vagar pela cidade enquanto divaga, ou em seu quartinho fechado, quando observamos o homem mantendo sua vítima (a atriz Viviane Dias) em cárcere, podemos perceber o cuidado da equipe para estes detalhes.

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A fotografia, de responsabilidade de Felipe Santiago Rocha, colabora pontualmente nesse sentido, já que há aqui um planejamento, tanto na disposição de cada elemento, quanto na penumbra, que dá conforto para o serial killer, mas que deixa o público apreensivo ao observar a vítima em desespero.

Tão importante quanto esses quesitos é a trilha sonora, composta originalmente por Danilo Machado Martins. As músicas com predominância nos sons agudos e notas repetitivas também encurralam o espectador nas divagações do personagem.

Com atenção aos pequenos detalhes, “Persona” se constrói de forma ímpar, usando o suspense como base, mas entregando uma mensagem que dá espaço para diferentes pontos de vista. É um ótimo trabalho de Dan Albuk e estamos ansiosos para ver sua próxima obra. Parabéns a todos da equipe e aos artistas que trabalham de forma independente por um cinema brasileiro mais ousado.

“Persona” será exibido ao público no dia 25 de junho de 2016, no Cine Odeon, às 20h.

Fonte das imagens: Divulgação/Dan Albuk