O superespião Lance Sterling (Will Smith) e o cientista Walter Beckett (Tom Holland) são completamente opostos. Lance é sofisticado, elegante e atraente. E Walter... não. Mas a habilidade social que falta em Walter é compensada por sua esperteza e uma fantástica capacidade de inventar, o que o permite criar apetrechos incríveis para Lance usar em suas missões épicas. Mas quando algo inusitado acontece, Walter e Lance terão que confiar um no outro de um jeito completamente diferente. E se essa dupla estranha não conseguir trabalhar como um time, o mundo todo estará em perigo.
Contar a cinebiografia de uma das bandas mais marcantes da história do rock não é uma tarefa simples, e por isso mesmo diversos contratempos em uma produção dessas já eram de se esperar. “Bohemian Rhapsody” conta a trajetória de Queen, e inevitavelmente uma figura tão carismática e espirituosa quanto o vocalista Freddie Mercury se sobressai, o que torna ainda mais difícil representar uma personalidade tão complexa sem ofender os fãs.
Para tal feito, o diretor Bryan Singer foi escalado, mas acabou sendo substituído por Dexter Fletcher após simplesmente deixar de comparecer aos sets de gravação, ainda que Singer tenha seu nome mantido como diretor e Fletcher como produtor executivo. Já o roteiro é assinado por Anthony McCarten, com os devidos aconselhamentos dos produtores e mebros da banda Brian May e Roger Taylor.
O filme narra a rápida ascensão de Freddie Mercury (Rami Malek) e da banda Queen ao sucesso. Nascido Farrokh Bulsara, o jovem descendente de persas de aparência distinta, com mullets e dentes proeminentes vai de carregador de bagagens no aeroporto Heathrow a vocalista e co-fundador da banda após um show da Smile, onde conhece o estudante de astrofísica e guitarrista Brian May (Gwilym Lee) e o estudante de odontologia e baterista Roger Taylor (Ben Hardy). Freddie demonstra que apesar da aparência peculiar, ele possui uma voz poderosa ao cantar para os músicos em um estacionamento. Rapidamente a banda já está formada e se apresentando, com a adição de John Deacon (Joseph Mazzello) no baixo, a voz e carisma de Mercury como vocalista principal, Smile se tornaria Queen.
Quem quer viver para sempre?
É importante ressaltar que o longa se sustenta mais como homenagem aos fãs do que propriamente uma história biográfica. Todos os grandes momentos da banda são pontuados, mas nunca aprofundados e com uma certa liberdade poética quanto aos fatos, apenas para a história se desenrolar de uma forma mais atrativa. Quem já conhece a trajetória da banda vai sentir em “Bohemian Rhapsody” exatamente o que esperava, entendendo o motivo, ainda que por vezes oculto, de cada uma das cenas escolhidas. Infelizmente isso pode ser confuso para quem não faz ideia de quem seja essa gente, e nesse sentido dificilmente o filme vai agradar quem esteja assistindo por qualquer motivo além da homenagem a banda em si.
Os detalhes da vida pessoal de Mercury são apenas superficiais e muitas vezes buscando um moralismo desnecessário e reforçando estereótipos. Inicialmente, seria Sacha Baron Cohen o escolhido para encarnar Freddie Mercury, sobretudo pela semelhança física. O papel acabou ficando com Rami Malek após Cohen ter discordado das ideias que a banda tinha para o roteiro. Ele gostaria que a história contasse mais sobre a vida pessoal de Mercury, o que envolveria cenas recomendadas para maiores de 18 anos, enquanto o roteiro final foca na trajetória profissional do cantor. Além disso, o guitarrista Brian May, que juntamente com o baterista Roger Taylor produziram o longa, gostaria que o filme mostrasse a trajetória do Queen após a morte de Freddie Mercury, algo que desagradou muito Cohen e que felizmente foi revisto no roteiro final.
Apesar de toda a desinibição e energia nos palcos, Mercury se mostra bastante contido e meio tímido quando não está cantando. Ele conhece, se apaixona e tem um relacionamento com Mary Austin (Lucy Boynton), ao mesmo tempo em que luta com sua crescente atração por homens. Ao compor e cantar “Love of My Life” para demonstrar seu amor, o sentimento parece genuíno tanto para Malek quanto para Boynton, devido a carga emocional que ambos colocaram em seus respectivos papéis, algo que transparece tanto na história real quanto na cinebiografia.
Porém, não há a mesma sensação durante as cenas onde Mercury passa a viver abertamente sua homosexualidade ao lado de Paul (Allen Leech) de forma hedonista, vivendo em festas e orgias. Falta autenticidade, em parte pela restrição etária do filme mas principalmente por medo de ser desrespeitoso com os fãs. Ambos, porém, são eficientes para expor o que há de melhor e pior em Mercury, já que, enquanto Mary sempre põe o protagonista em situações que o desafiam a amadurecer e evoluir como ser humano, Paul sempre infla seu ego e o coloca contra todos que ama, principalmente a banda.
As músicas estão aqui para preencher os vazios no roteiro, impossível não se emocionar cada vez que uma canção começa. Nada disso seria possível sem a dedicação dos atores em dar vida aos integrantes da banda, e Malek se destaca ao entrar de cabeça em cada situação da vida de Mercury, não apenas imitando seus gestos, mas entendendo as razões que o levaram a ser essa figura tão singular.
Talvez Malek não seja exatamente igual ao cantor, mas toda a dedicação convence bastante. As músicas são cantadas por Malek e mixadas posteriormente com a voz de Mercury, assim como todos os instrumentos para os demais integrantes. Em nenhum momento soa como playback ou karaoke, mesmo prestando muita atenção e procurando erros na sincronia. Malek utiliza uma prótese para simular os quatro incisivos extras que concediam a Mercury um alcance vocal maior, detalhe indispensável para representar a figura do vocalista.
Durante os shows, Malek concede perfeição ao papel, tanto na irreverência quanto na aparência. “We Are the Champions”, “We Will Rock You”, “Radio Ga Ga”, cada composição marcando um momento distinto tanto da vida pessoal do vocalista quanto o progresso de Queen como banda. A criação de “Bohemian Rhapsody”. canção de “longos” seis minutos que mistura gêneros como rock e opera é um dos pontos mais divertidos do filme, contando com a participação de Mike Myers como executivo da EMI Ray Foster, possivelmente baseado em Roy Featherstone. Ray afirma que ninguém nunca tocaria Queen enquanto dirige, e ele não poderia estar mais errado.
O clímax fica por conta da recriação do famoso show de 20 minutos durante o Live Aid de 1985 no London’s Wembley Stadium, considerado por muitos uma das melhores performances da história do rock. É preciso aplaudir os efeitos especiais necessários para criar um mar de gente cantando em coro com a banda. Durante a produção do longa, foi solicitado para que os fãs mandassem versões das músicas do Queen para serem mixadas e utilizadas na platéia, e o resultado não poderia ser mais perfeito.
Apesar de ser meio óbvio, se você tem algum interesse em assistir “Bohemian Rhapsody” no cinema, vale a pena investir em um cinema que tenha uma qualidade de som excelente, e para esse propósito o formato IMAX é uma ótima pedida. As cenas durante os shows capturam toda a famosa interação do público com a banda, cada grito, aplauso e sentimento podem ser sentidos ali.
Exatamente por essa razão todos os possíveis defeitos que essa cinebiografia possam apresentar são totalmente irrelevantes durante as performances musicais. Se for para botar defeito mesmo, eu acredito que deveriam focar ainda mais nas músicas, não apenas utilizá-las para demonstrar determinada situação temporal da vida dos integrantes. A história de Freddie Mercury continuou até 1991, onde ele infelizmente veio a falecer por conta da AIDS, porém “Bohemian Rhapsody” se limita em encerrar no estrondoso show de 1985, contando apenas com fotos e texto antes dos créditos rolarem. De qualquer forma, é uma ótima pedida para os fãs da banda e uma forma de entretenimento extremamente satisfatória.
O filme segue Angelina (Ashley Hinshaw), uma jovem a beira de terminar o colegial, que leva uma vida muito difícil, pois sua mãe é alcoólatra e seu padrasto, violento. Certo dia, seu namorado sugere que ela tire fotos nuas por dinheiro e depois de hesitar, ela concorda e faz a sessão de fotos. Em São Francisco, Angelina começa a trabalhar em um clube de strip, adota o nome de Cherry e conhece um advogado que a leva a festas extravagantes, até que um cliente lhe apresentam um novo mundo, a indústria do pornô.
O detetive Archer (Al Pacino) se vê forçado a deixar a aposentadoria. Isso porque um serial killer está atacando e seus crimes têm relação com um caso que Archer investigou. Na companhia de outros dois policiais, ele tenta desvendar o caso em que as vítimas aparecem enforcadas, como no jogo infantil da forca.
O subgênero de terror conhecido como “torture porn” — uma releitura do Grand Guignol francês devidamente pasteurizado por meio de slasher e splatters — parecia ter alcançado eu ápice e consequente declínio lá na primeira década dos anos 2000. Com diretores arrojados e que não pediam desculpas a ninguém com suas longas e angustiantes cenas de violência, filmes como O Albergue, Jogos Mortais e A Casa dos 1000 Corpos enaltecem entranhas, nudez, mutilação e sadismo.
Na trilha desses realizadores estadunidenses, surge na França um movimento que enxerga nessa visceralidade uma forma especial de transgressão cinematográfica. Batizado de New French Extremity (novo extremismo francês), o movimento estrelado por diretores como Xavier Gens, Gaspar Noé, Catherine Breillat, Claire Denis e Alexandre Aja — entre outros — passa a forçar os “horizontes” do cinema, exigindo uma blindagem psicológica cada vez mais intensa do espectador, que é exposto a temas e imagens cruas, extremas.
Dentre os vários títulos e diretores que se destacaram no New French Extremity, os nomes de Pascal Laugier e sua obra Mártires (2008), são sem sombra de dúvida um dos mais relevantes. O diálogo sociofilosófico proposto por Laugier brinca com o niilismo, ao mesmo tempo em que propõem uma boa discussão metafísica sobre o próprio gênero “torture porn”, com seus símbolos e significados. Mesmo que envolto em controvérsia é impossível não ter uma reação emocional intensa ao assistir Mártires.
O tempo passou o New French Extremity seguiu se desenvolvendo e parecia que Pascal Laugier seria um “diretor de um filme só”. O Homem das Sombras (2012), primeira empreitada estadunidense do diretor francês, apostou em uma história ambiciosa e intrigante, mas que em nenhum momento mostrou o verdadeiro talento de Laugier, ficando aquém até mesmo de A Profecia dos Anjos (2004), seu primeiro filme.
Agora, visivelmente mais maduro, o diretor retorna com A Casa do Medo – Incidente em Ghostland e entrega um filme que volta a questionar o “torture porn”, aproveitando elementos de “home invasion” (invasores de lares como Os Estranhos e Violência Gratuita) e recheando tudo com muito terror psicológico. O filme acerta o alvo e deve agradar aos espectadores de estômagos mais resiliente.
O medo não é efêmero
Pauline (Mylène Farmer), mãe das adolescentes Beth (Emilia Jones) e Vera (Taylor Hickson), acaba de herdar a casa de sua falecida tia. A casa, digna de um episódio de “Acumuladores Compulsivos”, fica no meio do nada e está abarrotada de antiguidades, quinquilharias e, como não poderia ser diferente, bonecas sinistras.
Como era de se esperar, a mudança de um centro urbano para uma fazenda isolada parece não agradar muito a dinâmica Vera (Taylor Hickson), que vive em constante disputa com sua irmã Beth (Emilia Jones) - uma jovem que aspira ser uma escritora de terror. Na mesma noite que se mudam as três são surpreendidas por dois invasores perturbados que passam a aterrorizar as mulheres. Em tempo, a mãe, Pauline consegue se livrar e matar os dois agressores.
Dezesseis anos depois do incidente, Beth virou uma escritora de sucesso — casada e com um filho — a garota parece ter utilizado sua escrita como terapia para superar os traumas. Tudo muda quando ela precisa retornar à casa de Ghostland para ver a sua irmã que nunca se recuperou dos eventos da fatídica noite e ainda vive num pesadelo constante.
É neste momento que a história ganha outra dimensão. O ataque no início do filme não é o fim do martírio das mulheres. Beth e sua família vivem atormentadas pelo passado, sua mãe segue presa na casa, cuidando de Vera — que por sua vez permanece sofrendo física e mentalmente os horrores da agressão.
Sem entregar muito da trama, para não estragar as reviravoltas, direi apenas que a história brinca com narrativas, clichês e o próprio gênero “torture porn”. É difícil falar mais sem estragar as surpresas do roteiro, mas a introdução de elementos sobrenaturais é muito bem amarrada a trama principal, que por sua vez faz um uso paradoxal de vários chavões para fugir do lugar-comum.
Parece estranho, mas tudo se encaixa e faz sentido sem cair na mesmice de sempre. As reviravoltas não são particularmente geniais, o espectador mais atento percebe elas vindo conforme as conexões vão emergindo, mesmo assim elas são inteligentes — muito por conta da direção de Laugier.
Terra de fantasmas
Muito do terror extraído por Laugier deriva da ótima ambientação e do talento do elenco. A casa é o cenário perfeito para o tipo de terror proposto pelo diretor. Normalmente associado a segurança, conforto e carinho, a deturpação do conceito da casa (ou melhor, do lar) é essencial para um bom terror — especialmente para o “torture porn” e ainda mais para o “home invasion”.
Na casa de Ghostland temos essa ideia executada com muita habilidade. O diretor abusa de clichês do gênero para perverter princípios como inocência, realidade, fantasia, família… Tudo está em desordem, a decoração e a própria arquitetura criam um labirinto real e imaginário, misturando memória e percepção, passado e presente. A atmosfera é saturada, passando uma sensação de sonho (ou pesadelo) que deixam o espectador angustiado o tempo todo que está dentro da casa.
Aliada a essa ambientação temos o trabalho equilibrado dos atores. Com atuações convincentes, o elenco principal confere a dramaticidade suficiente para as cenas mais tensas sem cair na canastrice típica das produções menores do gênero.
Vale lembrar também a controvérsia envolvendo a atriz Taylor Hickson. A garota que vive uma das personagens principais, Vera, teve seu rosto desfigurado em um acidente durante as filmagens. Hickson processou os produtores quando uma porta de vidro se quebrou e os estilhaços a atingiram, mesmo tendo sido assegurada pelo próprio diretor de que não havia risco na cena. Apesar do ocorrido lamentável, fica evidente o comprometimento da atriz que entrega algumas das cenas mais impactantes da película.
Pós-traumático
A Casa do Medo – Incidente em Ghostland não tem a mesma força que Mártires (2008), e certamente não causará o mesmo impacto. Mesmo assim, sem muito alarde, o novo projeto de Laugier cumpre seu papel entregando um bom filme de terror.
Mesmo sem apresentar o ímpeto vanguardista de trabalhos anteriores, Pascal Laugier ainda traz propostas diferentes e apresenta o verdadeiro New French Extremity, abordando temas indigestos de maneira bruta e pujante. Na realidade, Ghostland não deve se firmar como uma unanimidade mesmo entre os fãs mais ardorosos do estilo — que terão discussões ardorosas sobre sua “validade” cinematográfica —, enquanto os de estômago mais sensível sequer terão coragem de se submeter ao terror.
Depois de transformar o torture porn em arte, Pascal Lauginer apresenta o "Terror de Estresse Pós-traumático"
Todavia, A Casa do Medo – Incidente em Ghostland merece mais atenção e, guardadas indevidas comparações, figura sim entre os melhores títulos de terror do ano. Com uma abordagem pesada, Laugier propõem uma discussão interessante sobre misoginia, empoderamento feminino e perturbação de estresse pós-traumático dentro de um gênero que é erroneamente desassociado de pautas relevantes.
Após o Partido Nazista tornar oficial a perseguição ao povo judeu na Alemanha, muitos deles precisam se tornar praticamente invisíveis, conheça as histórias de quatro dessas testemunhas contemporâneas. Hanni Lévy, que acaba de completar 17 anos, perdeu seus pais. Graças a seu cabelo loiro tingido, ela é praticamente invisível para seus perseguidores e passeia ao longo da famosa avenida Ku'damm para passar o tempo. Cioma Schönhaus também foi para a clandestinidade e leva uma vida aventureira, tornando-se um falsificador de passaportes, trabalho por meio do qual ele salva a vida de dezenas de outros judeus. E enquanto Eugen Friede se junta a um grupo de resistência que distribui folhetos antigovernamentais, Ruth Arndt e um amigo, durante o dia, sonham com a vida na América, ao passo que, à noite, ela finge ser uma viúva de guerra e serve comidas gourmet do mercado negro no apartamento de um oficial nazista.