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Crítica do filme O Pesadelo - Paralisia do Sono | Boa noite, e boa sorte...

Você desperta e logo percebe que algo não está certo. Uma força estranha estala seus sentidos e você instintivamente sabe que não é seguro. Sua mente acelera e comanda seu corpo a se levantar e investigar o que está acontecendo. Entretanto, ao tentar se mover seus braços e pernas não respondem. A vontade existe, mas seus membros não se mexem. 

Você tenta chamar por socorro, mas também não consegue. A sensação de incerteza e insegurança aumenta. Sem saber o que está acontecendo o pânico se instala. A respiração fica cada vez mais difícil e você começa a sentir a paralisia se espalhar para o seu peito, pressionando os seus pulmões.

De repente tudo começa a tremer, como um terremoto cujo epicentro é você. Um apito ensurdecedor começa a tocar, você sabe que algo o espreita e está prestes a dar o bote, quando, sem qualquer aviso, você acorda de sobressalto em sua cama. 

Essa é uma das descrições mais amenas da “paralisia do sono”. Ninguém sabe ao certo o que é, mas são várias as vítimas espalhadas pelo mundo.

Com descrições que vão do mitológico ao extraterrestre, os episódios de dessa sindrome podem tomar contornos realmente aterrorisantes. Certamente um dos documentários mais assustadores já feitos, O Pesadelo - Paralisia do Sono de Rodney Ascher mistura depoimentos e re-encenações de histórias de pessoas que vivem com a Síndrome da Paralisia do Sono.

Angustiantemente curioso

Partindo de um lugar de curiosidade pessoal, o diretor parece buscar mais empatia do que respostas. O que acaba funcionando na hora de transformar o filme em entretenimento, mas distancia um pouco da objetividade típica do gênero.

Vale destacar que Rodney Ascher é o mesmo diretor do enigmático Labirinto de Kubrick. Para quem não viu, o documentário explora a miríade de teorias em uma das obras mais emblemáticas de Kubrick, O Iluminado, e diferentemente do que realiza em Labirinto de Kubrick, Ascher se insere dentro do projeto em busca de respostas para algo que lhe incomoda desde a infância, haja visto que o próprio diretor também sofre com os episódios de paralisia do sono.

O diretor transforma as narrativas das vitimas em verdadeiros contos de terror.

A percepção de Ascher é obviamente afetada por sua proximidade do assunto, no entanto, isso acaba rendendo uma interpretação singular do tema, e aqui está o grande trunfo do filme. Ao entrevistar oito pessoas, que relatam suas experiências com o distúrbio, o diretor consegue prender a atenção do espectador transmitindo com muita eficácia toda a angústia e pavor das vítimas.

Infelizmente essa característica também é a maior falha do filme. Se em O Labirinto de Kubrick, Ascher se cerca de especialistas e analistas que entregam explicações elaboradas e “cientificamente estruturadas”, em O Pesadelo o diretor não oferece nenhum contraponto as narrativas das vítimas. 

Em momento algum recebemos uma contextualização médica sobre o assunto. Possíveis causas e eventuais tratamentos são deixados totalmente de fora do filme. Isso certamente restringe o mérito científico do documentário, ao mesmo tempo em que o "mistério" ajuda a mostrar a angustia que aflige as vitimas.

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Quando te deitares, não temerás

Para os não iniciados no gênero, O Pesadelo pode ser uma boa “porta de entrada”. O modelo típico documental está ali, trazendo histórias de pessoas afetadas por um problema real e angustiante.

Entretanto, se você já é fã do gênero talvez se sinta um tanto frustrado quando o filme acabar. A total ausência de uma análise médica sobre o tema, sem qualquer participação de especialistas no assunto, contando somente com os relatos e opiniões das próprias vítimas torna toda a abordagem superficial e pouco informativa.

O Pesadelo - Paralisia do Sono | Trailer legendado e sinopse

Você está muito cansado. O travesseiro é macio. É tarde da noite e você está quase dormindo, quando de repente seu corpo trava e você paralisa. Você consegue ver e ouvir tudo à sua volta, mas não consegue se mexer. É quando o monstro da sombra chega.

Depois de Labirinto de Kubrick, o diretor Rodney Ascher explora neste documentário assustador o fenômeno da paralisia do sono, que ataca milhares de pessoas, sem explicação científica. No campo entre o dormir e o acordar, a paralisia é a porta de entrada para um mundo de horror muito pior do que qualquer pesadelo.

Crítica do filme Colossal | Uma forma criativa de chamar atenção aos abusos

Monstros gigantes (ou Kaiju) voltaram a moda, e agora Anne Hathaway é um deles, mais ou menos. "Kaiju"  é uma palavra japonesa que significa "besta estranha", "animal incomum", mas que costuma ser traduzida como "monstro", além daquele gênero característico de filme com seres gigantes destruindo cidades, como “Godzilla” ou “Círculo de Fogo”.

Mas não se engane: “Colossal” é um filme sobre Anne Hathaway, e de diversas outras mulheres pelo mundo, sobre abusos químicos e emocionais. Por acaso conta com a participação de um monstro gigante, talvez uma alegoria explícita e escancarada dos nossos monstros internos.

Antes de continuar, é importante dizer que alguns pontos abordados aqui podem revelar detalhes da história, nada que comprometa o filme, mas recomendo fortemente assistir antes de ler se quiser manter as surpresas que os trailers não revelam.

Gloria (Anne Hathaway) é uma colunista de revistas online em Nova York, mas atualmente não trabalha muito e passa a maior parte do tempo nas festas com as amigas, e está em um relacionamento codependente com seu namorado Tim (Dan Stevens). Tudo acaba desmoronando quando Gloria chega em casa pouco antes de Tim sair para trabalhar, ainda levemente inebriada, quando Tim decide que tudo passou dos limites, expulsando Gloria de casa.

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Gloria é forçada a voltar para Mainline, sua cidade natal, já que não tem mais para onde ir e precisa colocar sua vida de volta aos eixos. Ela acaba encontrando com seu amigo de infância Oscar (Jason Sudeikis), dono de um bar que passa a maior parte do tempo bebendo com seus amigos Garth (Tim Blake Nelson) e Joel (Austin Stowell).

As coisas parecem começar a melhorar para Gloria, com Oscar prontamente disposto a ajudá-la com o que for preciso, desde móveis para sua casa ainda vazia até um emprego e salário, ainda que regados a muita bebedeira após o bar fechar, algo que ajudou a piorar o alcoolismo de Gloria.

Enquanto isso, do outro lado do mundo, um monstro gigante apareceu misteriosamente em Seoul, Coréia do Sul. Com seus constantes apagões após beber a noite toda, Gloria demora para entender o que está acontecendo, mas descobre que o monstro está imitando todos seus movimentos enquanto ela passa por um parquinho local. Ao compartilhar isso com Oscar, subitamente um robô gigante aparece também, e as coisas começam a ficar complicadas.

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O diretor Nacho Vigalondo fez um excelente trabalho ao desconstruir o gênero de filmes com monstros gigantes, com uma história original, toques de comédia e muito peso emocional disfarçado. “Colossal” é um filme que engana a primeira vista, pois apesar de mostrar um monstro gigante dançando, foge totalmente do óbvio ao contar a história de uma mulher que precisa sobreviver e tomar o controle de sua própria vida, em paralelo a dois kaijus se enfrentando e tentando evitar que tudo piore. 

O primeiro ato mostra uma típica comédia romântica, com um possível novo amor e uma vida mais simples numa cidadezinha do interior. Porém, os vícios e problemas começam a surgir, começando com o óbvio abuso do álcool, que leva a rejeição do possível interesse amoroso que Oscar claramente tem por Gloria. A partir disso, o segundo ato mostra um drama psicológico, com Oscar perseguindo e fazendo de tudo para controlar Gloria, transformando-se de amigo querido em vilão. A descontração inicial dá lugar a momentos dramáticos e até pesados, principalmente no quesito emocional.

Com grandes poderes vem grandes responsabilidades

A súbita descoberta de que suas ações influenciam um monstro gigante que pode devastar uma cidade e diversas vidas inocentes despertam em glória um enorme senso de responsabilidade. Ela tenta se recuperar do alcoolismo, mapeia a cidade para não destruir mais nada e até tenta comunicar aos cidadãos que tudo aquilo não passa de um mal entendido.

Mas quando Oscar, o amigo que estava lá disposto a ajudar “sem segundas intenções“, faz exatamente o oposto. O poder sobe a cabeça e ele escancara o quanto ele é desequilibrado emocionalmente, tendo vivido por algumas decepções durante a vida, acaba usando o kaiju como uma fuga, da forma mais irresponsável possível. É claro que Gloria não compactua com nada disso, então Oscar começa a ameaçar e chantagear a amiga.

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Tudo piora quando Tim vai em busca de Gloria e ela pensa em retornar a sua vida antiga, agora que está conseguindo se recuperar de todos os problemas. Claro que não funciona como deveria. Tirando o fato de existir monstros e robôs destruindo uma cidade, as situações e momentos mostrados ali são infelizmente verdadeiros demais. Mesmo em cenas menores e personagens secundários, fica claro que cada um possui um monstro que precisa combater dentro de si.

Visualmente, os kaijus ficaram realmente impressionantes. Vigalondo conseguiu tornar os personagens convincentes e cativantes, com direito a história de origem e final catártico, ainda que bastante surreal. Você pode até ter procurado assistir o filme para ver uns monstros destruindo tudo, mas vai continuar a assistir ao ver situações reais que acontecem o tempo todo e personagens humanos até demais. Nessa onda de remakes, sequências de 17 filmes iguais e adaptações literárias, é interessante ver que ainda existem histórias originais e relevantes para serem contadas.

O Labirinto de Kubrick | Trailer oficial e sinopse

Este documentário reúne vários pontos de vista sobre O Iluminado (1980), de Stanley Kubrick, onde exploram supostos significados ocultos no filme. O que quis dizer Kubrick com esta lata ou esta janela…? O debate continua após três décadas.

Doze Homens e Outro Segredo | Trailer oficial e sinopse

Três anos após o magistral golpe que deram num cassino em Las Vegas, Danny e seus comparsas levam uma vida legal. Mas uma chantagem os traz de volta à cena. Agora na Europa. E uma agente do FBI e um concorrente à altura serão alguns de seus problemas.

De Volta Para o Futuro 2 | Trailer oficial e sinopse

Marty e Doc (Michael J. Fox e Christopher Lloyd) mal se recuperaram da primeira aventura, quando se lançam novamente a uma viagem no tempo e no espaço. Mas desta vez, sua tentativa de "arrumar" o futuro no ano de 2015 cria um estranho e alternativo Hill Valley de 1985! Agora, a única chance de consertar o presente é voltando para 1955 mais uma vez. Será que Marty e Doc vão conseguir fazer isso, sem deflagrar um desequilíbrio temporal capaz de desintegrar o universo?