Denis Villeneuve - Café com Filme

Blade Runner 2049 | Novo trailer legendado e sinopse

Trinta anos depois dos eventos do primeiro filme, um novo blade runner, um oficial da Polícia de Los Angeles (Ryan Gosling) remexe em um segredo há tempo enterrado e que tem o potencial destrutivo de levar a sociedade ao caos.

A descoberta do policial K o leva em busca de um ex blade runner da policia de Los Angeles, Rick Deckard (Harrison Ford), que está desaparecido por 30 anos.

Crítica do filme A Chegada | Sem ruídos de comunicação

"A Chegada" é a confirmação de Denis Villeneuve (Incêndios) como um dos grandes nomes dessa geração. O diretor franco-canadense usa seu toque particular para transformar o que poderia ser um mero filme de ficção em um drama intimista com aspirações filosóficas.

O diretor se esquiva, com muita elegância, da maioria dos clichês da “invasão alienígena hollywoodiana” e entrega uma produção que funciona em diferentes níveis e gêneros.

Ao mesmo tempo em que pode ser consumido como entretenimento rápido, o filme também levanta questões que farão você continuar a “ver o filme” mesmo depois de sair da sala de cinema.

Amy Adams está excelente no papel de Louise Banks, uma mulher melancólica que se vê inserida em uma "missão diplomática intergalática" quando doze naves alienígenas aparecem espalhadas pelo globo. O filme também conta com outros nomes de peso, na frente e atrás das câmeras.

achegada1 18b3b

Jeremy Renner e Forest Whitaker dão força ao elenco principal, enquanto o cinematografista Bradford Young (Selma) entrega takes longos e fluidos, à la Terrence Malick, e o compositor Jóhann Jóhannsson (A Teoria de Tudo) apresenta uma trilha esparsa, mas impactante.

Tradução juramentada

Inspirado no conto “A História da sua Vida”, de Ted Chiang, "A Chegada" acompanha Louise Banks (Amy Adams), uma lingüista renomada que é recrutada pelo governo quando 12 óvnis surgem na Terra. Ao lado dos militares e de um cientista chamado Ian (Jeremy Renner), Louise corre contra o tempo para desenvolver uma linha de comunicação com os alienígenas e responder a uma simples pergunta: qual o propósito deles na Terra?

Aparentemente, os visitantes não pegaram a sua cópia do Guia do Mochileiro das Galáxias e, por isso, estão sem o seu Peixe Babel (a criaturinha tradutora universão). Sem uma saudação harmônica de cinco tons como em Contatos Imediatos do Terceiro Grau, os Heptapods (como são apelidadas os visitantes) possuem uma língua abstrata, com vocalizações reminiscentes a sons de cetáceos apaixonados e um vernáculo que parece uma mistura de ideograma oriental e teste projetivo de Rorschach (aquele dos borrões de tinta).

Como toda boa ficção científica, A Chegada tem algo muito pertinente a dizer sobre a sociedade contemporânea.

O processo é lento, e na sociedade imediatista contemporânea à espera serve apenas para gestar o medo e elevar as tensões, visto que as intenções dos Heptapods seguem um mistério. No meio disso está Louise, cuja imersão na língua dos alienígenas é pontuada por frequentes visões da sua vida e de momentos com sua filha. O processo de aprendizado muda completamente a percepção de Louise, permitindo uma compreensão muito mais profunda não apenas das criaturas, mas do universo e dela própria.

Obviamente, um dos temas centrais do filme é a comunicação, ou a falta dela. Quando observamos um momento de ascensão das extremas direitas nacionalistas pelo mundo afora, a necessidade de diálogo se torna imperativa, independente das diferenças culturais. 

achegada2 f1d7e

A Chegada é um filme prismático e pode ser assistido por meio de diferentes lentes, alterando o foco, e conseqüentemente, seu espectro final. Não ousaria me enveredar aqui por meandros psicanalíticos, mas é natural fazer a conexão com aforismos lacanianos, considerando o inconsciente estruturado como linguagem. Outros pontos interessantes seguem a análise semiótica de Saussure. Como disse, "A Chegada" é um filme diverso, que carrega inúmeras traduções possíveis. Isso sem entrar nos méritos das discuções de gênero, haja vista que a grande protagonista do filme é uma mulher.

A história da sua vida 

Jeremy Renner (Ian Donnelly) e Forest Whitaker (Cel. Weber) estão excelentes, mas é Amy Adams (Louise Banks) quem domina a película. Não apenas por ser a protagonista ou por contar com um roteiro que lhe dá espaço de sobra para exercitar sua arte, mas por entregar uma atuação visualmente mais memorável do que qualquer criatura ou nave renderizada pelos computadores.

Louise possui um lado sombrio, uma dor, que Adams transparece em todos os momentos que está em cena. A atriz faz com que o espectador permaneça ancorado na sua jornada, nos trazendo de volta para ela, mesmo quando a trama ganha uma escala global.

Não estou falando de uma atuação explosiva. Adams, inteligentemente, constrói uma Louise cuja sutileza exterior abriga, ou melhor, represa uma gama enorme de emoções. Essa exploração das sutilezas da personagem traz grandes recompensas narrativas no terceiro ato.

achegada3 8de98

Por falar em terceiro ato, Villeneuve parece ter entendido muito bem o paradigma narrativo. Em todas as suas obras o diretor guia o filme com muita fluidez, e consegue entregar um terceiro ato sólido e surpreendente.

Além disso, diferentemente do que acontece com as “viradas surpresas” de vários filmes, em nenhum momento o espectador se sente traído. Os fatos são mostrados pouco a pouco, sem nenhuma omissão negligente e as revelações finais surpreendentes emergem “naturalmente” dentro da narrativa.

"A Chegada" é sem sombra de dúvida um dos grandes destaques de 2016. Trata-se de um filme que agradará tanto aos fãs de ficção científica como aqueles que buscam um bom drama pessoal, mas os pontos altos ficam por conta da atuação de Amy Adams e do refinamento de Denis Villeneuve.

A Chegada | Trailer legendado e sinopse

Após a chegada de naves alienígenas ao redor de todo o mundo, a doutora Louise Banks (Amy Adams), uma lingüista especialista, é recrutada pelos militares, que são comandados pelo Coronel Weber (Forest Whitaker),  para determinar se os extraterrestres vêm em paz ou são uma ameaça. Todavia, a conversa pode não ser muito pacífica, quando todas as nações resolverem participar desse diálogo.

Sicario: Terra de Ninguém | Trailer legendado e sinopse

Na crescente fronteira sem lei entre os Estados Unidos e o México, uma agente do FBI (Emily Blunt) é exposta ao mundo brutal do tráfico internacional de drogas por membros de uma força-tarefa do governo (Josh Brolin, Benicio Del Toro) que a escalam em seu plano para derrotar o chefe de um cartel mexicano.

Incêndios | Trailer legendado e sinopse

Canadá. Jeanne (Mélissa Désormeaux-Poulin) e Simon (Marwan Maxim) são irmãos gêmeos e acabaram de perder a mãe, Nawal Marwan (Lubna Azabal). Eles vão ao escritório do notário Jean Lebel (Rémy Girard) para saber do testamento deixado por ela. No documento, Nawal pede que seja enterrada sem caixão, nua e de costas, sem que haja qualquer lápide em seu túmulo. Ela deixa também dois envelopes, um a ser entregue ao pai dos gêmeos e outro para o irmão deles.

Apenas após a entrega de ambos é que Jeanne e Simon receberão um envelope endereçado a eles e será possível colocar uma lápide. Só que Jeanne e Simon nada sabem sobre a existência de um irmão e acreditavam que seu pai estava morto. É o início de uma jornada em busca do passado da mãe, que os leva até a Palestina.

Crítica do filme O Homem Duplicado | Nem tudo é o que parece

Semana passada, o filme canadense/espanhol baseado no livro “O Homem Duplicado”, de José Saramago, chegou aos cinemas brasileiros. Originalmente, o longa-metragem leva o nome de “Enemy” (Inimigo), mas, por aqui, ele recebeu o mesmo nome da obra de Saramago.

Com direção de Denis Villeneuve (o mesmo de “Os Suspeitos”) e roteiro de Javier Gullón, o filme conta a história de Adam Bell (Jake Gyllenhaal), um professor de história que, ao assistir a um filme, descobre que existe um ator chamado Anthony Claire que é exatamente igual a ele.

Devido a extrema coincidência, Adam resolve ir atrás de Anthony, mas, se aproveitando da semelhança, o professor decide se passar pelo sósia e espionar a vida do ator de perto. A partir disso, as tretas começam a rolar e muitas reviravoltas garantem que o filme prenda a atenção do espectador com muito suspense.

Que história maluca

Se você já viu o trailer e leu a sinopse de “O Homem Duplicado” você tem uma boa noção do miolo da história, mas é claro que o filme não fica apenas nisso – aliás, há diversos detalhes que são adicionados e deixam o espectador bem em dúvida sobre o que está acontecendo.

enemy1

O filme começa de forma curiosa, mostrando algumas cenas bem sensuais e que parecem não ter ligação alguma com o todo. Intercalando imagens de mulheres nuas, um clube secreto, uma moça grávida e o próprio Jake Gyllenhall (nesse momento não dá pra saber qual dos personagens está sendo mostrado), o filme deixa o espectador curioso para saber o que isso tem a ver com a trama.

Após esta divagação (que depois é explicada), o foco é voltado para Adam, que tem pouca emoção em sua vida. Alternando entre sua carreira (com aulas que tratam sobre o totalitarismo, assunto abordado no roteiro) e muitas transas com sua namorada (Mélanie Laurent, que fez Shosanna em “Bastardos Inglórios”), o rapaz parece triste e insatisfeito — e não dá pra sacar o porquê, já que ele é lindão e tem uma namorada lindíssima.

Seguindo a sugestão de um colega, Adam acabou vendo um filme (algo que ele dificilmente faria, visto que não gosta de cinema) e, por um acaso do destino, havia um ator bem parecido com ele. Esta simples semelhança foi suficiente para mexer com o rapaz, já que isto não é algo comum.

enemy2

Além disso, a ideia de uma perseguição soa interessante para alguém que leva uma vida pacata. Claro, antes de procurar o ator, Adam (e o espectador também) pensa em inúmeras possibilidades, afinal, este homem pode ser um irmão gêmeo, uma confusão da mente do rapaz, uma coincidência quase impossível ou até mesmo algo que esteja relacionado a universos paralelos.

Muito suspense

Depois de entrar em contato com o ator, o professor de história acredita que a ideia não foi muito boa. Anthony, que é o ator, em um primeiro momento, fica confuso e até emputecido com toda essa história, principalmente porque isso acaba causando problemas no relacionamento com sua esposa (a formosa Sarah Gadon).

Acontece que, essa semelhança tão improvável acaba realmente mexendo com todo mundo e geral surta. Depois de muitas reviravoltas, Adam fica numa situação complicada, Anthony também e o filme fica ainda melhor do que o desenrolar da história. Toda essa angústia, ansiedade e confusão dos personagens é bem retratada com uma série de tomadas planejadas e inseridas na hora certa. Há muitos ângulos de câmeras e cenas que ajudam na construção do filme.

enemy3

Evidentemente, algo que ajuda muito é a atuação de Jake Gyllenhall. Ele manda muito bem na dualidade de personalidades, fingindo muito bem ser um homem depressivo e também fazendo o papel de ator. As mocinhas (namorada de um e eposa de outro) também atuam de forma convincente e ajudam a construir o drama da história.

Pode ser que o público acabe não sacando muita coisa no começo e que algumas coisas fiquem soltas no ar. Destoando do livro e sem dar qualquer explicação, o roteirista aposta na ideia de colocar umas aranhas no meio da película (e, se você ainda não viu o filme, dá pra perceber que a história tem algo de esquisito já ao olhar atentamente o cartaz do longa).

Há algumas teorias a respeito do porquê disso, mas, independente do motivo, dá pra dizer que elas (as aranhas) acrescentam muito ao mistério que há por trás de todo esse emaranhado de ideias. No fundo, as dúvidas vão aumentar para os personagens e para quem está assistindo. A falta de explicação pode frustrar algumas pessoas, mas eu, particularmente, gostei desse vazio, já que isso dá espaço para inúmeras interpretações.

enemy4

A tonalidade de suspense de “O Homem Duplicado” foi adequadamente pensada para funcionar com uma trilha (composta por Danny Bensi e Saunder Jurriaans) que deixa o público apreensivo até mesmo em momentos que nada de extraordinário acontece. A ideia é até válida, pois, se o expectador estivesse no lugar do protagonista, ele provavelmente ficaria tenso e com medo de tomar algumas decisões.

O final é realmente surpreendente (e dá até pra fazer um longo debate sobre) e me agrada muito ver que uma produção canadense/espanhola tenha ficado muito mais interessante do que o monte de “mais do mesmo” que temos visto de Hollywood. O filme é excitante, curioso e muito inteligente. Vale conferir no cinema!

Antes de acabar, quero dizer que, no Brasil, “O Homem Duplicado” poderia ter seu título fiel ao original (depois de ver, você vai entender).