Crítica do filme 007 contra SPECTRE

O doce amargo fim da Era Craig

por
Edelson Werlish

06 de Novembro de 2015
Fonte da imagem: Divulgação/
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 5 min

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Você pode até não ter gostado da escolha de Daniel Craig para assumir o manto, ou melhor, o smoking de James Bond para o recomeço da clássica franquia 007 nos cinemas, em 2006, porém é incontestável a contribuição do ator para o reboot da série e a atualização dela para os dias atuais. Mas, após três capítulos de grande sucesso, Craig entrega sua quarta e, possivelmente, última aventura na pele do maior agente secreto de todos os tempos com uma doce, mas também amarga conclusão.

Recapitulando – Uma quadrilogia de sucesso

Ao longo dos últimos três precedentes de SPECTRE – Cassino Royale, Quantum of Solace e Skyfall – tivemos a construção da Era Craig, a qual teve a “missão” de reiniciar a franquia. Estrutura criada com muito êxito, diga-se de passagem. Cassino Royale deu início com um James Bond inexperiente, marrento, guiado pelas emoções e sentimentos, mostrando um herói nunca visto anteriormente. Quantum of Solace, sua continuação direta, apresentou um Bond arrasado, com o coração partido e em busca de vingança. A série chegou ao seu ápice de qualidade em Skyfall, tanto com as personagens quanto em roteiro, com um 007 focado e determinado a alcançar seus objetivos. Todos esses se tornam prequelas para SPECTRE, criando um grande arco do agente, comandado por Daniel Craig no papel principal.

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Entre a vida e morte

Se no conjunto da obra os filmes da Era Daniel Craig merecem destaque, apenas SPECTRE não se sustenta como filme-marco dessa fase, ou de toda a franquia. O quarto capítulo é bem parecido com Skyfall. O passado em contraste com o futuro, tecnologia misturada com a espionagem clássica, o drama e fantasmas do passado, tudo é aproveitado novamente, mas sem muito o impacto positivo encontrado em seu antecessor.

A dicotomia entre vida e morte ou novo e velho é a fórmula explorada e permeia todo o conceito desse filme. Em um mundo com supercomputadores e drones, o trabalho de um agente do MI6 acaba se tornando obsoleto, e a patente 00 que dá a permissão para matar, vira uma arma ultrapassada. Entre um diálogo entre James e o seu arqui-inimigo, o vilão o pergunta “O que você veio fazer aqui?”. Bond responde “Vim para te matar”. O vilão replica “Achei que tivesse vindo para morrer”, e o agente finaliza “Isso é uma questão de perspectiva”. Essa é uma das partes do roteiro mais interessantes, porque mostra perfeitamente a divergência entre os opostos na trama, que ao mesmo tempo são frutos da mesma diferença.

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Se você é um nostálgico fã de 007 e conhece os filmes mais antigo, vai se surpreender com as referências. Mas, Christoph Waltz fazendo o papel do vilão principal – aquele que você já sabe quem é mais não vou falar o nome por motivos de spoiler –, pode não animar tanto. Sua faceta de vilão já ficou caricata devido aos inúmeros papéis encenados nos últimos anos e acaba mostrando seu natural desgaste. Outro ponto que faz falta é a explosão de adrenalina e cenas de ação mais elaboradas, junto com um final mais épico para fazer jus a quadrilogia.

Vamos semear o amor

Bond Girls. Monica Bellucci sem comentários. Provavelmente a mulher mais linda e talentosa que existe, sempre agrega e sempre vai agregar, em qualquer filme que esteja. Léa Seydoux vem para deixar o sangue azul de Bond mais quente. (pegou a referência?). A atriz francesa é a Bond Girl que romantiza a história, mas que não chega ao ponto de justificar um “eu te amo”, ao contrário de Vesper Lynd, interpretada por Eva Green em Cassino Royale. Vesper que inclusive, assombrou James durante todos esses filmes e serve de escape sentimental em SPECTRE para que Bond tome suas decisões e rumos.

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Infelizmente, o que sobressai ao final de SPECTRE é o doce adeus de Craig, mesmo que indiretamente. O ator ainda tem contrato para mais um filme, porém já sinalizou em diversas entrevistas que não deseja voltar. A falta de um “James Bond will return” nos créditos finais acaba com qualquer esperança para isso.

Agora é torcer para que, independente de quem assumir o smoking no próximo filme, continue melhorando e agregando ao personagem, seja na marra e na inexperiência que quebra o mito do espião que nunca morre, nas dores sentimentais e psicológicas, ou até mesmo em polêmicas mais atuais, como a homossexualidade abordada em breve momento em Skyfall. Por que não um James Bond negro? Por que não um James Bond gay? Por que não uma James Bond? Muito mais do que ação e gadgets tecnológicos, abrir a franquia para evoluções desse nível, como feito na quadrilogia de Daniel Craig, é o verdadeiro modo de mostrar que 007 é imortal nos cinemas. 

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P.S. e desabafo: Não sou crítico musical, mas a abertura de SPECTRE "Writing's On The Wall", cantada por Sam Smith, é de uma chatice que só. A cadência lenta e voz gemida do artista contribui para o filme perder alguns pontos a mais. 

Fonte das imagens: Divulgação/

007 Contra SPECTRE

Este é o trailer final de 007 Contra SPECTRE

Diretor: Sam Mendes
Duração: 148 min
Estreia: 5 / Nov / 2015
Edelson Werlish

Andou na prancha, cuidado Godzilla vai te pegar!