Crítica do filme A Juventude

Recapitulando a longa jornada da vida

por
Fábio Jordan

04 de Maio de 2016
Fonte da imagem: Divulgação/Fênix Filmes
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 5 min

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A gente brinca e tira sarro sobre como a vida passa voando, mas a verdade é que, quando menos percebemos, já estamos mesmo em uma outra época e o passado parece algo distante.

Temos medo de chegarmos a melhor idade, só que no fim, tudo que importa foram os bons momentos, por isso é bom viver intensamente. Hollywood sempre teve meios interessantes de passar esse tipo de mensagem, mas poucas obras são tão primorosas e cativantes quanto “A Juventude”.

Neste filme dirigido por Paolo Sorrentino, o público acompanha a história de dois personagens:  Fred Ballinger (Michael Caine), um maestro aposentado que está em um feriado nos Alpes com sua filha, e Mick Boyle (Harvey Keitel), um famoso diretor já no fim de carreira, o qual está hospedado no mesmo hotel rodando seu último longa-metragem.

Os dois são muito amigos e já passaram por inúmeras aventuras juntos. Apesar de terem compartilhado inúmeras experiências, a curta estadia neste local de repouso pode ser a situação perfeita para eles relembrarem do passado e se divertirem em ocasiões inusitadas.

A trama, como você pode perceber por esse resumo, vai na contramão do título, evidenciando uma abordagem de viagem ao passado. Aí é que está o charme de “A Juventude”, filme caprichado no visual e que ainda transmite muitas coisas boas para reflexão.

Uma ode ao passado

A vida é uma verdadeira montanha-russa. A gente passa por bons e maus bocados, mas todo mundo tem algumas memórias para revisitar. No caso do maestro Ballinger, sua fama o precede, graças aos tantos trabalhos de qualidade que ele produziu ao longo da vida.

Suas composições ficaram tão famosas que a Rainha Elizabeth II o convida para uma performance no aniversário do Príncipe Phillip. Só que o músico está numa fase bem complicada da vida. Após perder a esposa e ter alguns desentendimentos com a filha, ele resolve levar seus últimos momentos de forma mais descontraída.

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Nos poucos momentos de repouso – com direito a massagens, encontros com convidados inusitados e diálogos até bem engraçados – que lhe restam, o maestro resolve se concentrar em uma viagem pelas memórias. Conduzindo uma manada de vacas em uma bela orquestra, extravasando com seu amigo e passeando pelo hotel, ele acaba mergulhando no passado.

Logo, os dois protagonistas percebem como suas vidas poderiam ser diferentes, mas que também produziram muitas coisas que enriquecem seus momentos nesta fase final. A mensagem é bonita, mas talvez alguns espectadores não enxerguem muita beleza no tema, já que o desenrolar da trama é bem distinto de propostas triviais vistas em outros filmes.

Maestria na condução

Um filme que fala sobre a vida de um maestro e de um cineasta não poderia ser executado de forma diferente. Apelando para uma fotografia vistosa, a composição entre cenário e personagens se mostra pomposa, ao mesmo tempo em que consegue transparecer simplicidade. Os arredores do hotel são de tirar o fôlego, mas os ambientes internos transpiram luxo para o bom andamento da trama.

Para ornar com a soberba visual, a composição sonora entra como uma cereja no bolo. A trilha de “A Juventude” é de uma beleza ímpar, mostrando um pouco do trabalho do maestro, que acaba sendo muito adequado para reavivar alguns sentimentos e memórias já esquecidos.

Há algumas cenas que o conjunto casa tão bem que até parece um comercial para vender a ideia de como a vida pode ser maravilhosa. Aqui, vale exaltar o trabalho da Orquestra Sinfônica da BBC e do grupo The Retrosettes, que se apresentam no decorrer do filme e deixam a parte sonora muito agradável.

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O elenco também colabora bastante com o desenvolvimento da história e dos conceitos que o filme que transmitir. Sinceramente, eu não tenho nem palavras para descrever como Michael Caine é um ator incrivelmente articulado. A desenvoltura deste mestre da atuação é simplesmente fantástica. A interação com sua filha (Rachel Weisz) também é de grande valia para a proposta da película, já que muitas emoções são transmitidas nesses diálogos.

Harvey Keitel também não deixa por menos, pegando bem no cerne da proposta do personagem e levando uma atuação rica ao espectador. O grupo de atores que acompanha o diretor de cinema agrega muito ao desenvolver de uma trama secundária, mostrando as dificuldades na carreira de um cineasta.

A Juventude” se apresenta como um drama bastante simples, que vem para celebrar a vida, recapitular memórias e até dar boas gargalhadas do passado. É um filme que não visa entregar uma história comum, mas que se propõe a levar reflexões ao espectador. Vale pela experiência e pela beleza apresentada. Um filme ideal para ver no cinema.

Fonte das imagens: Divulgação/Fênix Filmes

A Juventude

Confira o trailer deste filme dirigido por Paolo Sorrentino

Diretor: Paolo Sorrentino
Duração: 124 min
Estreia: 31 / Mar / 2016