Crítica do filme A Maldição da Chorona

Terror raso e choroso

por
Fábio Jordan

17 de Abril de 2019
Fonte da imagem: Divulgação/Warner Bros. Pictures
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 5 min

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Após cinco filmes de sucesso estrondoso, o universo de terror da Warner Bros. ganhou prestígio suficiente para que a gente possa considerar este o segmento “Marvel” da companhia. É aqui que temos o melhor coletivo de personagens assustadores que se unem num âmbito ímpar para compor um quadro maior de terror global, algo iniciado lá no primeiro “Invocação do Mal”, introduzido por James Wan em 2013.

De lá pra cá, este macrocosmo de sustos fugiu das clássicas investigações do casal Warren e passou a abordar as criaturas que permeiam as histórias deles. Agora, temos um filme que não se anunciou deliberadamente como um spin-off deste domínio, mas que inevitavelmente ligamos às histórias prévias pela presença de um personagem que já apareceu anteriormente em “Annabelle”.

Todavia, você que não viu os filmes prévios não precisa se preocupar, pois “A Maldição da Chorona” não faz questão de se conectar ao universo de assombração e se sustenta de forma independente. E, curiosamente, talvez a ideia de não ligar os pontos pode ter sido proposital, justamente para evitar possíveis reações negativas, já que este título se mostra bem aquém dos demais.

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Para você que não viu nada sobre o filme (até porque o marketing tem sido modesto), acompanhamos aqui a história de Anna (Linda Cardellini), uma assistente social que ignora os avisos de uma mãe suspeita de maus tratos aos filhos, mas que logo se vê ameaçada pelo mesmo mal que estava investigando. Agora, ela e seus filhos podem estar correndo um risco enorme por algo que talvez não seja apenas uma lenda.

Dos males, o menos assustador

Talvez o resultado de “A Maldição da Chorona” não seja bem o que muita gente estava esperando de um terror nos moldes de “Invocação do Mal”, mas é inegável que a Warner teve coragem em pegar um conto pouco conhecido para criar algo, no mínimo, inusitado. O resultado pelo menos é uma história inovadora para grande parte do público, então há boas surpresas no quesito folclore.

Esta é a adaptação de uma lenda mexicana, comumente usada para assustar crianças que não obedecem aos pais – nada melhor do que inventar contos para traumatizar crianças né?! A Chorona era uma mulher que por vaidade e vingança de seu marido matou seus filhos afogados e se suicidou no mesmo rio. Após sua morte, ela captura crianças para substituir seus filhos. Pois é, não faz o mínimo sentido, mas é isso aí...

Apesar de uma nova entidade, o script cai em clichês. Ok, há detalhes inéditos, mas, no todo, temos a velha história de uma criatura demoníaca que cisma com uma família e os protagonistas inocentes buscam uma forma de se livrar deste terrível mal. Assim, resta ao roteiro dar conta de nos surpreender pelos sustos e a resolução do problema, mas nada disso acontece e apenas embarcamos numa sequência de sustos em loop.

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Contudo, o que menos me incomodou nesse filme foi a falta de uma história criativa, pois eu já tinha baixa expectativa, mas um projeto produzido por James Wan me dava a impressão de que ao menos teríamos um terror mais psicológico. Não foi o caso. O terror em “A Maldição da Chorona” é raso, repetitivo e apenas barulhento. Som alto, cenas de close e aparições repentinas. Para não ser desonesto, apenas uma cena realmente dá calafrios, mas ela não salva o filme.

Tinha que ser o Chaves mesmo!

Desculpem a referência, mas é inevitável não atribuir parte dos problemas do filme ao diretor Michael Chaves, que tem aqui seu primeiro longa-metragem. A inexperiência é evidente em vários momentos, seja pela repetição de truques, pela falta de dinamismo ou mesmo pela abordagem pouco funcional, que deixa as cenas até meio esquisitas.

Enfim, o resultado é pouco inventivo e, novamente, só tomamos sustos pelo som alto, não pela direção que poderia ter explorado a vilã de forma mais inteligente. Novamente, para não ser injusto, eu acho que há algum mérito em algumas cenas, caso de um truque com guarda-chuva e uma ou outra cena em que o diretor aproveita as penumbras, mas nada excepcional.

Todavia, a fraqueza de “A Maldição da Chorona” não está só na direção, mas também é difícil levar a história a sério com tantos personagens incoerentes. Primeiro, temos o intercâmbio de uma demônia mexicana que vai até os Estados Unidos para assombrar uma família americana. Depois, os diálogos que misturam idiomas e fica tudo mais engraçado. E, para finalizar, temos atuações bem fracas de vários atores.

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O resultado não é catastrófico (felizmente!), mas falta criatividade tanto no roteiro quanto na construção da Chorona. A trilha sonora, os efeitos visuais e a maquiagem tentam compensar essas características superficiais, mas o resultado final é apenas mediano. Um filme de terror meia boca, mas que não alcança o nível do universo de “Invocação do Mal”. Enfim, não adianta chorar no terror superestimado!

Fonte das imagens: Divulgação/Warner Bros. Pictures

A Maldição da Chorona

A mulher da meia-noite

Diretor: Michael Chaves
Duração: 93 min
Estreia: 18 / Abr / 2019