Crítica A Vida de Chuck
Entre o Fantástico e o Cotidiano
Adaptado da obra de Stephen King e dirigido por Mike Flanagan, A Vida de Chuck apresenta uma história única sobre a existência humana. Contada de forma não linear, a jornada de Charles "Chuck" Krantz (Tom Hiddleston) se desenrola como um mosaico de memórias, encontros e despedidas, explorando o amor, a dor e as escolhas que moldam uma vida. O longa combina drama, fantasia e até pequenas doses de terror, numa experiência cinematográfica que foge de classificações fáceis.
De modo geral, o filme surpreende por equilibrar leveza e melancolia, momentos de riso e instantes de profunda reflexão. Ao longo de suas quase duas horas, Flanagan convida o espectador a mergulhar não apenas na trajetória de Chuck, mas também em nossas próprias memórias e relações. É um filme irregular em ritmo, mas com cenas que encantam, emocionam e deixam aquela sensação de que viver é, no fim das contas, uma experiência tão improvável quanto preciosa.
A Vida de Chuck vale a pena?
A Vida de Chuck é uma obra que, assim como seu protagonista, não cabe em definições fáceis. É um filme para rir, refletir e até estranhar, mas sobretudo para lembrar que o tempo que temos é precioso. Mike Flanagan e Stephen King entregam um conto cinematográfico sobre humanidade, que mistura o fantástico com o cotidiano para revelar que, em cada segundo, existe a chance de conexão, de afeto e de beleza.
Quero começar trazendo uma ideia um tanto diferente, mas essencial para a gente falar sobre "A Vida de Chuck". Existe um tipo de obra que não se encaixa em rótulos tradicionais de gênero, mas que poderíamos chamar de “dramas existenciais fantásticos”. Filmes como Aqui (com Tom Hanks), Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas, A Vida em Si e A Vida Secreta de Walter Mitty seguem esse caminho: narrativas que misturam drama, fantasia, comédia e até romance, mas cujo verdadeiro propósito é refletir sobre o sentido da vida. A Vida de Chuck se encaixa perfeitamente nessa tradição.
Assim como nesses exemplos, Flanagan utiliza o lúdico e o exagero para transformar o cotidiano em algo mágico. Uma simples dança em praça pública pode se tornar uma catarse coletiva, uma frase em um outdoor pode provocar questionamentos existenciais, e até elementos apocalípticos são usados mais como metáfora do que como ameaça real. Esse hibridismo de gêneros pode causar estranhamento, mas é justamente o que dá força e identidade ao filme.
Outro ponto interessante é a estrutura narrativa fora de ordem. Ao começar do fim e avançar em direção ao início, o roteiro nos força a montar o quebra-cabeça da vida de Chuck por fragmentos. Essa escolha aumenta a curiosidade e garante que cada revelação tenha um peso maior, já que sabemos que tudo se encaminha para uma conclusão inevitável. Ainda assim, a mensagem é menos sobre o fim e mais sobre a intensidade de cada instante vivido.
No fundo, esses filmes acabam funcionando como lembretes. Eles nos dizem que a vida não é feita apenas dos grandes feitos, mas também das pequenas conexões: um gesto de carinho, uma conversa inesperada, uma noite de dança. Flanagan reforça essa ideia ao usar referências de pensadores como Carl Sagan, conectando a brevidade da existência humana com a imensidão do cosmos.
Mike Flanagan, já conhecido por suas adaptações de Stephen King como Doutor Sono e Jogo Perigoso, entrega aqui um projeto mais ousado. Ele se afasta do horror tradicional que marcou sua carreira e aposta em um drama poético, recheado de momentos lúdicos e até humorísticos. Essa transição não é perfeita — em alguns trechos o filme parece hesitar entre gêneros —, mas a ousadia compensa ao oferecer uma experiência diferente dentro do cinema contemporâneo.
O elenco é um dos pontos altos. Tom Hiddleston conduz o papel com carisma e entrega emocional, mas grande parte da força dramática vem do jovem Benjamin Pajak, que interpreta Chuck em uma fase mais delicada e intimista. Aliás, vale mencionar que esse é um dos primeiros projetos de Pajak, um ator mirim que já mostra seu talento. A participação breve de Jacob Tremblay também vem a calhar, enquanto Karen Gillan e Chiwetel Ejiofor acrescentam camadas importantes ao enredo, funcionando como peças-chave que ajudam a refletir sobre o valor da vida e do tempo.
Visualmente, o filme é deslumbrante. Flanagan aposta em cores vibrantes, cenários que parecem transitar entre o real e o imaginário e efeitos visuais que surpreendem pela criatividade. As cenas de dança, coreografadas com precisão, trazem energia contagiante e ajudam a equilibrar o tom melancólico da narrativa. Já a trilha sonora é fluida e emocional, alternando entre momentos de pura empolgação e outros mais introspectivos, sempre dialogando bem com o que acontece em tela.
Ainda que não seja um filme isento de falhas — alguns fatos e personagens ficam meio perdidos e há passagens em que a mistura de gêneros soa forçada —, o saldo é extremamente positivo. A Vida de Chuck pode até não agradar a todos, mas aqueles que se entregarem à proposta certamente sairão tocados pela mensagem de celebrar o presente, amar sem reservas e dançar no ritmo da vida.
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