Crítica do filme A Vingança Está na Moda
Uma elegante revisita ao passado
Myrtle ‘Tilly Dunnage (Kate Winslet) é uma mulher linda, inteligente e talentosa que, já adulta, decide retornar ao vilarejo de sua infância para passar a limpo algumas histórias que nem ela, nem a cidade conseguiram deixar para trás.
Ambientado nos anos 50 no pacato – até demais – povoado de Dungatar, na Austrália, o longa "A Vingança Está na Moda" mostra o retorno de Tilly e sua saga para resgatar algumas memórias, apagar outras e tentar reconstruir sua relação com a cidade – o que, logo no começo se percebe, não vai ser uma tarefa muito fácil, especialmente se considerados os métodos não muito convencionais da protagonista.
Neste longa, Jocelyn Moorhouse conduz um roteiro muito bem adaptado por P.J. Hogan da obra de Rosalie Ham, publicada na Austrália com o mesmo nome com que o filme saiu nos Estados Unidos: The Dressmaker [Que seria algo como “A Costureira”].
A sintonia dos atores com seus personagens é um dos pontos altos de A Vingança Está na Moda. O elenco, que já é sensacional, foi muito bem dirigido e chegou a uma qualidade de atuação que faz do filme ser gostoso de assistir. O destaque, é claro, vai para a protagonista, Kate Winslet, que está na sua versão mais diva da alta costura que deixaria até a elegantérrima Rose, de Titanic, babando de inveja.
Kate sempre encanta o público com suas atuações. Quantas vezes essa maravilhosa já não nos levou às lágrimas? Neste longa, em especial, o trabalho da eterna rainha da friendzone do Di Caprio está muito bonito. Ela até aprendeu a costurar para dar vida à Dressmaker!
Mas, claro, não é só isso. Tilly é uma mulher real, com curvas reais, com um ou outro repuxado nos olhos, com uma maquiagem que atenua algumas marcas da idade, mas não esconde a beleza verdadeira e estonteante de uma mulher que não faz questão de parecer mais jovem do que é. Em outras palavras, divina!
Mas ela não faz todo o trabalho sozinha. Menção honrosa para os coadjuvantes que aliviam um pouco a intensidade da jornada de Tilly: os geniais Hugo Weaving, no papel do excêntrico Sargento Farrat, e uma irreconhecível Judy Davis, que vive a desarranjada e um tanto assanhada Molly, a mãe de Tilly.
Liam Hemsworth, que claramente está ali apenas para embelezar o elenco, o faz com toda a competência com que a genética o abençoou, claro. Em termos de atuação, no entanto, o bonitão segue a linha dos últimos papéis que Hollywood lhe trouxe: personagem até que traz uma bagagem interessante, mas não convence – especialmente se comparado com os demais retratados pela história. Não prejudica, também, e até rende umas boas cenas, especialmente aquelas nas quais ele interage com Judy Davis, que são engraçadíssimas.
Em um cenário mais árido que o nosso sertão, quem é que vai desfilar os modelitos dignos das passarelas de Milão e das galerias de Paris? Pois bem, não sei dizer se pelo contraste ou pelo toque excêntrico da produção, mas essa combinação inusitada funciona ao menos para criar uma fotografia belíssima – fotografia esta que nos chama a atenção já na primeira tomada do filme.
São cenas lindas, com uma paleta de cores muito bem pensada, em cenários maravilhosos, com tons, texturas e combinações extremamente funcionais e bonitos.
E, por falar em aspectos técnicos, seria supermerecida uma indicação ao Oscar nessas categorias, hein. É um filme lindo em fotografia, tem maquiagem bem feita, salvo em algumas cenas, mas impressiona especialmente em figurino – mérito do trabalho conjunto de Marion Boyce, Sophie Theallet e Margot Wilson. Os modelitos das personagens são de arrasar e mesmo quando o objetivo não é tirar o fôlego com a alta costura, os trajes ficam credíveis.
Pois bem, acomodada em um salto elegante e vestindo cortes sob medida e incrivelmente chiques, Tilly está pronta para organizar sua vingança e lidar com as pendências que há anos ela tinha deixado para trás.
Com toda essa bagagem técnica bem organizada, fica fácil para o longa decolar. O roteiro é bacana e tem um plot que chama a atenção – quem é que não gosta de uma história de vingança e redenção? E isso é bem construído, "A Vingança está na Moda" envolve o público em várias reviravoltas surpreendentes, embora se alongue demais em alguns momentos e possa ser um pouco cansativo no final.
O filme transita por entre diferentes gêneros, dentre os quais predominam o drama e a comédia. Sabe aquela história de que “seria cômico, se não fosse tão trágico”? Então... "A Vingança Está na Moda" seria trágico, se não fosse tão cômico. É aquele filme em que você ri, mas até com um tanto de consciência pesada, quando reflete um pouquinho.
O longa-metragem pode ser até um tanto quanto assustador – nunca pensei que bolas de golfe pudessem ser tão devastadoras – e traz a dose certa de nonsense, na minha humildíssima opinião de quem não conseguiu ver nem Twin Peaks. Não viaja muito pelos caminhos tortuosos da mente humana na hora de tentar expor algumas situações sem sentido, mas também não é exatamente uma produção 100% realista.
Fez sentido? Provavelmente não, mas vai fazer quando você visitar o cinema pra ver esse longa excepcional que chega recomendadíssimo pelo Café!
Confira o trailer deste filme dirigido por Jocelyn Moorhouse