Crítica do filme Ao Cair da Noite

Desconfiança é a palavra de sobrevivência

por
Fábio Jordan

20 de Junho de 2017
Fonte da imagem: Divulgação/Diamond Films
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 6 min

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O chamado ‘fim do mundo’ já foi exaurido nos cinemas com propostas embasadas em inúmeros argumentos. Os temas vão desde guerras por petróleo, disputas entre grandes poderes e desastres químicos, até doenças contagiosas e armas biológicas que levaram os seres humanos aos limites.

Trata-se de um tema que não sai de moda, mas a verdade é que, enquanto muitos roteiros caem na mesmice, alguns textos têm apresentado novos vieses do apocalipse. Este é justamente o caso em “Ao Cair da Noite”, um filme que explora a luta por um amanhã de uma família num mundo hostil.

Enquanto uma ameaça aterroriza o mundo, Paul (Joel Edgerton) e sua família permanecem escondidos e seguros dentro de uma casa isolada na floresta. Eles seguem uma rotina rigorosa e evitam o contato com outros humanos, já que uma doença poderia acabar com suas perspectivas de um futuro.

No entanto, o conforto e a segurança que eles conseguiram com tanto custo podem ser colocados em jogo quando um homem tenta invadir o local, alegando que sua família precisa de ajuda. Agora, dúvidas sobre a veracidade das alegações deste estranho e indagações quanto à forma de proceder - algo que pode implicar em riscos para seu filho e sua esposa - permeiam as decisões de Paul.

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Apesar de ser um terror com boa dose de suspense, este longa-metragem chega repleto de dramas que certamente surgiriam num caso caótico. Só a pegada diferente de mistério já é mais do que suficiente para recomendar este filme, mas há muitas  surpresas que valem ser comentadas e que justificam ainda mais a ida ao cinema.

O escuro é traiçoeiro

Apesar de raso num âmbito geral sobre a história do mundo lá fora, “Ao Cair da Noite” é profundo no desenvolvimento da ambientação e das pessoas que habitam neste cenário caótico. Pensando pelo lado dos personagens, a floresta é um local óbvio para uma fuga diante do caos global. Agora, quando colocamos esta região como um argumento para o roteiro, ela fica ainda mais interessante.

Ainda que possa ter inúmeros pontos de refúgio e de suprimentos, a mata é cheia de perigos que podem dar base para desdobramentos na trama. É justamente com esses argumentos a seu favor que o diretor e roteirista Trey Edward Shluts cria situações ardilosas que deixam o clima intenso entre os personagens e também diante das surpresas que possam aparecer no escuro da brenha.

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O leque de possibilidades estabelecido ao longo dos diálogos é o que deixa o filme ainda mais interessante. É possível dar espaço para a imaginação nos levar a refletir sobre temas que vão desde possíveis criaturas na escuridão, alucinações dos personagens e doenças contagiosas até o simples fato de que outros humanos são o principal motivo de medo.

Com uma fotografia escura e predominante nos tons verdes, o filme esconde segredos na penumbra, algo que também invariavelmente acontece na casa de Paul, já que o local de grandes proporções é perfeito para acontecimentos inusitados. Com alguns elementos-chave de cores gritantes, o filme mantém cartas na manga que deixam dúvidas sobre o que há por trás de cada porta.

Situações extremas exigem medidas extremas

Falando em Paul, o ator Joel Edgerton novamente prova sua incrível versatilidade ao encarnar com seriedade um homem ousado e desesperado para manter sua família a salvo. Sua caracterização condiz com o ambiente caótico, mas são suas expressões e trejeitos que ajudam a dar o tom de desespero da história.

Importante notar que, apesar de o protagonismo ficar por conta de Edgerton, há uma boa divisão nos diálogos e nas ocasiões apresentadas no script. O elenco composto por nomes já conhecidos como Carmen Ejogo, Kelvin Harrison Jr., Christopher Abbott e Riley Keough tem bom entrosamento. Os personagens são apresentados de forma abrupta e são envolvidos pelo clima do caos.

Não por acaso, o trailer e a sinopse de “Ao Cair da Noite” não atrapalham em nada no desenvolvimento do filme, que se mostra bastante resguardado em suas surpresas. Cada personagem ali pode ter inúmeras coisas passando pela cabeça e o espectador fica apenas imaginando para que lado essa história pode ser levada, sendo que, inevitavelmente, somente aguardamos pelo pior.

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O suspense é constantemente incrementado pela sonoplastia, que se intensifica em momentos de silêncio e deixa o espectador imaginando o que pode estar do lado de fora da casa. O ranger das tábuas, os barulhos da floresta, os latidos do cachorro e até a respiração ofegante das pessoas nos momentos de desespero causam um desconforto e um aumento na tensão direcionada à plateia.

Paralelamente ao bom trabalho da mixagem de som, temos uma a trilha sonora que entra como uma pancada na nuca do espectador. Ela funciona quase como um personagem adicional, que sussurra a todo instante: “vai dar ruim”. Sabe aquelas músicas que usam de recursos básicos e vão ampliando a sensação de tensão? Então, é assim do começo ao fim.

É na soma de todos esses elementos devidamente pensados que o roteiro é muito bem construído e, felizmente, entrega boas cenas de suspense sem apelar para clichês. Com o desenrolar da história, “Ao Cair da Noite” surpreende de várias formas, mas é inevitável ficar com um gostinho de quero mais, pois este universo de mistério é convidativo e amedrontador. Veja nos cinemas o quanto antese e esteja preparado para o terror!

Fonte das imagens: Divulgação/Diamond Films

Ao Cair Da Noite

À noite todos os gatos são pardos

Diretor: Trey Edward Shults
Duração: 97 min
Estreia: 22 / jun / 2017