Crítica do filme Ave, César!

Piadas internas da indústria

por
Fábio Jordan

26 de Abril de 2016
Fonte da imagem: Divulgação/Universal Pictures
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 5 min

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É inegável que Ethan Coen e Joel Coen (também conhecidos como Irmãos Coen) são verdadeiros gênios da indústria cinematográfica. É possível que você não tenha visto nenhum filme deles (ou quem sabe você não curta o estilo), mas é inegável que o portfólio dessa dupla é de cair o queixo.

Com mais de trinta anos de experiência, alguns títulos de sucesso (incluindo aí a direção de “O Grande Lebowski” e o roteiro de “Ponte dos Espiões”) e mostrando versatilidade ao transitar entre vários cargos, os dois apresentam bagagem de sobra para mostrar a indústria ao mundo.

Este é justamente o objetivo em “Ave, César”, nova obra produzida, dirigida e roteirizada pelos Coen. Neste longa, acompanhamos a história do assistente de estúdio Eddie Manix (Josh Brolin), que se vê no meio de um problema sem tamanhos quando alguns malucos denominados apenas como "O Futuro" sequestram o astro de cinema Baird Whitlock (George Clooney).

Sem saber o que fazer e de onde arranjar o dinheiro solicitado para o resgate, ele resolve procurar a ajuda de alguns amigos inusitados da indústria, mas seu dia vai ser muito longo para tentar conseguir manter todos tranquilos sem que ninguém descubra a verdade. Com várias histórias paralelas, o filme tenta exibir um pouco da loucura dos estúdios para a plateia.

Um pouco da verdadeira Hollywood

Ver filmes no cinema é uma experiência maravilhosa e, muitas vezes, impressionante, se considerarmos o valor irrisório que pagamos para tal tipo de entretenimento. Se formos colocar na ponta do lápis, é de ficar boquiaberto que uma obra de tamanha qualidade e capricho (pensando aqui em filmes da mais alta qualidade) possa chegar de forma tão fácil até o público.

No entanto, a produção de um filme demanda dedicação, criatividade, dinheiro e, claro, paixão pela sétima arte. As pessoas que estão por trás nos bastidores sequer são reconhecidas pelo empenho que têm para com a obra. Não apenas no sentido da organização durante às gravações, mas falamos aqui também do rebolado necessário para lidar com as personalidades excêntricas do meio.

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O personagem de Josh Brolin vem justamente para mostrar como a indústria pode ser complicada e até cansativa. O filme “Ave, César!” mistura múltiplas histórias que retratam a produção de vários filmes que são gravados simultaneamente, retratando assim a versatilidade do assistente que precisa se desdobrar para satisfazer os atores, bem como ceder às vontades dos grandes nomes da indústria.

É legal que o filme não fica apenas dentro dos estúdios, mas expande os limites ao levar a história para o lado pessoal, comentando sobre outras possibilidades que alguns personagens poderiam ter fora de Hollywood, algo que, no entanto, nem sempre acontece, já que as pessoas que ali trabalham fazem tudo por paixão (não que o dinheiro não compense, porém poderia ser melhor).

Outra coisa legal do novo filme dos Coen é justamente perceber outras faces da indústria, que precisa maquiar a vida pessoal dos atores — para não haver escândalos — e diversificar (exigindo muito talento dos atores) para levar tanto inovação quanto clichês ao público. Os jornais também aparecem, cumprindo o papel de fofoqueiro, falando da vida imperfeita das celebridades.

Comédia para poucos

Toda essa abordagem interna das produções é algo que colabora para a construção da película. O filme se mostra interessante na maior parte do tempo, ainda mais porque mistura várias tramas e deixa o espectador curioso para saber como tudo isso vai acabar. Só que ele se arrasta bastante para contar os pormenores e interligar tudo.

O pior é que “Ave, César!” chega ao público como uma comédia, mas o estilo de humor aqui é pouco convencional. Em vez de ter cenas com piadas realmente hilárias, a película tenta arrancar algumas gargalhadas com dancinhas (e ótimos rebolados de Channing Tatum), situações bizarras e diálogos regados na base de uma zoeira mais controlada. É claro que é legal ver um Cowboy (Alden Ehrenreich) tentando encarnar um papel diferente, mas isso não é tão engraçado.

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Há sim alguns diálogos bem construídos e que acabam sendo tanto coerentes quanto divertidos — caso das discussões entre estúdio e religiosos, bem como das argumentações dos comunistas. Só que é um estilo de comédia diferente, que talvez agrade alguns poucos cinéfilos, mas que não faz o tipo do público que curte mais filmes escrachados.

Os atores até que colaboram legal para o desenvolvimento de filme, também temos que considerar que estamos falando de um time de peso né, com grandes nomes da cena hollywoodiana. Josh Brolin certamente é o pilar de todo o longa-metragem, fazendo as pontas e mantendo os diálogos sempre coerentes. Atores como George Clooney, Channing Tatum e Scarlett Johansson também são de suma importância, mas os papéis limitados impedem que eles se destaquem, ainda que quando estão em cena são muito competentes.

No fim, o novo dos Coen tenta abraçar o mundo e amarrar várias situações em uma história divertida, mas a falta de sintonia com o público limita a película a contar suas piadas para poucos. É a tal da piada interna, que pode até ter alguma graça, mas que não convence no todo. Vale mais para quem é cinéfilo mesmo...

Fonte das imagens: Divulgação/Universal Pictures

Ave, César!

Confira o trailer deste filme dirigido por Ethan Coen, Joel Coen

Diretor: Ethan Coen, Joel Coen
Duração: 106 min
Estreia: 14 / Apr / 2016