Crítica do filme Brinquedo Assassino

Atualizado no humor, mas pouco no terror

por
Fábio Jordan

28 de Agosto de 2019
Fonte da imagem: Divulgação/Imagem Filmes
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 6 min

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O tempo passa e lá se foram mais de 30 anos desde o lançamento do primeiro filme da franquia Brinquedo Assassino. Apesar de absurda, a história do boneco amaldiçoado ganhou um público considerável — talvez pela galhofa excessiva, pelo tom ácido do brinquedo ou mesmo pela abundância de sangue na telona. Fato é que desde 1988, o personagem Chucky já passou por sete aventuras, mas parece que ainda não era suficiente, por isso agora temos mais uma jornada para o pequeno amaldiçoado.

Curiosamente, em todo esse tempo, não tivemos um remake propriamente dito do filme de origem. Até agora, as novas peripécias de Chucky foram continuações absurdas do primeiro filme — com desdobramentos que incluem uma noiva e um filho — e uma história de reboot em 2013 (que leva o nome de “A Maldição de Chucky”), que apresentou novos protagonistas e deu abertura até para uma sequência intitulada “O Culto de Chucky”. O oitavo episódio,  contudo, volta às origens, daí o mesmo nome do original.

A história é similar à do filme de 1988, mas para a geração que não teve oportunidade ou coragem de ver o antigo vale a sinopse. Em “Brinquedo Assassino”, Karen (Aubrey Plaza) presenteia seu filho, Andy (Gabriel Bateman), com o boneco mais aguardado dos últimos tempos: Buddi. Todo conectado ao sistema digital da Kaslan, o brinquedo é um assistente pessoal e também um amigo para a garotada. No entanto, a unidade que Andy ganhou parece ter vontade própria e começa a aprontar poucas e boas!

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Atualizado na trama, no visual e no tom cômico, o novo “Brinquedo Assassino” promete ser uma opção de terror divertida (vulgo Terrir). E apesar de inconsistências de roteiro — o que a gente já espera num título desse naipe — e do design de personagem no relaxo, o remake do original não é de todo ruim, sendo uma nova pegada que arranca boas gargalhadas e consegue até criar alguns momentos de tensão. Nada excepcional, mas dentro do esperado.

Hacker aqui!

A mudança de uma possessão maligna (que era a pegada do filme antigo) para uma divergência em software é algo que vem a calhar para uma época em que vemos empresas apostando forte em dispositivos interconectados. E apesar de uma rebelião das máquinas não ser novidade em Hollywood, é  interessante notar que esse não é bem o caso aqui, já que só temos um único exemplar com características excepcionais, o que é até explicado antes da trama principal — e depois eu volto nesse ponto.

É graças ao argumento dos dispositivos conectados que o filme funciona muito melhor, já que o Chucky não precisa apenas sair correndo com uma faca na mão para aterrorizar suas vítimas — o que, vamos combinar, que é algo meio ridículo. Assim, para não deixar o brinquedo ser motivo de chacota, o roteiro usa da gama de produtos da fabricante do brinquedo para dar novos poderes ao boneco e também para desenvolver novas cenas de terror.

Agora, Chucky ganha poderes ainda mais excepcionais, porque ele consegue hackear os dispositivos. Ele filma tudo, grava áudios, interpreta as vontades do seu dono (geralmente de forma errada), comanda os dispositivos da casa e quando quer até banca uma de hacker para zoar legal na era digital. Nesse sentido, zero reclamações do filme. E, felizmente, o filme não tenta debater esses perigos, tampouco tenta entrar em pormenores de como funciona essas tecnologias.

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Outro ponto positivo desse Chucky conectado é a brecha que há para uma pegada mais bem humorada. O boneco repete falas (até de forma errada, o que garante mais risadas), canta musiquinhas, faz piadas e, claro, fala muito palavrão. Então, não é por não ter uma alma demoníaca que ele perde sua essência. Muito pelo contrário, a ideia de um software sem amarras garante que ele continue besteirento e ousado na hora de fazer as vontades do menino Andy. Uma boa sacada pra deixar o filme engraçado!

Mão de obra barata

Se por um lado o novo “Brinquedo Assassino” acerta na pegada tecnológica, ele erra feio — mas talvez propositalmente — no design do personagem. O novo boneco tem uma aparência tosca e que parece bem mal feita, nos piores moldes de fabricantes que fazem produtos piratas. Isso dificulta acreditar que qualquer criança gostaria de ter esse brinquedo em casa e, para falar a verdade, até mesmo o Chucky de 1988 era mais convincente do que esse recente.

E poderia ser um problema de orçamento do filme, mas não parece ser o caso, porque eles contrataram até um Jedi pra dublar o  Chucky (que tem a voz de Luke, o Mark Hamill). Eu imagino que seja algo proposital ter feito o boneco desse jeito, pois assim eles conseguem encaixar com a ideia de ser um boneco feito no Vietnã (o que pode ser até o mote do filme) e em condições precárias. Além disso, o boneco desenhado com preguiça arranca mais algumas risadas do público.

O problema do boneco mais tosco é que simplesmente a parte de terror não cola tanto em meio à tanto humor. As cenas de matança ficam quase perdidas em meio a tanta galhofa. Uma ou outra até conseguem prender a atenção e algumas são legais pela composição (com o boneco arrastando uma faca no chão em um cenário que tem uma fotografia muito bem pensada). Contudo, o resultado geral é de um terror mais light, ainda com cenas de close nas facadas e pouca novidade.

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Vale menção para a vibe Stranger Thingers do filme, que tenta criar uma turminha descolada que ajuda o protagonista. O grupinho salva a trama em vários partes. A atuação da garotada merece destaque, principalmente o jovem Gabriel Bateman, que interpreta o Andy, um menino com limitações auditivas e que tem uma mãe um tanto relapsa. Ponto também para Brian Tyree Henry, que interpreta o detetive Mike Norris — personagem que já existia no filme antigo —, o qual cria a terceira ponta do filme (a investigação dos casos) de forma divertida.

Eu não diria que o novo “Brinquedo Assassino” é um remake que faça a gente reconsiderar a validade dos tantos filmes que estão sendo refeitos, mas ao menos ele traz uma dose de inovação. O ritmo aqui não é dos melhores e parece que a gente passa uma eternidade no cinema. Além disso, a dubiedade entre humor e terror pode não ser tão certeira, então eu acho que seria bom eles pararem por aqui, enquanto ainda estão ganhando. Mas a maldição das franquias pode pegar o Chucky novamente...

Fonte das imagens: Divulgação/Imagem Filmes

Brinquedo Assassino (2019)

Ele é muito mais do que um brinquedo... Ele é seu melhor amigo!

Diretor: Lars Klevberg
Duração: min
Estreia: 20 / Jun / 2019