Crítica do filme Como Eu Era Antes de Você

Muitas cores, mas poucas surpresas

por
Lu Belin

24 de Junho de 2016
Fonte da imagem: Divulgação/Warner Bros. Pictures
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 8 min

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Só o trailer já é suficiente para perceber que, acima de tudo, “Como Eu Era Antes de Você” é um filme sobre o amor. Mas não é apenas isso. O longa-metragem inspirado no best seller da britânica Jojo Moyes é sobre conformismo e zona de conforto e o que é preciso para nos tirar dela.

Dirigido por Thea Sharrock e roteirizado pela própria autora do livro, em parceria com Scott Neustadter e Michael H. Weber, o longa era um dos títulos mais esperados para 2016 e estreou liderando bilheterias nos cinemas brasileiros. Tanto alvoroço é motivado, claro, por um romance daqueles de fazer o coração acelerar e encher os olhos de lágrimas. 

“Como Eu Era Antes de Você” nos transporta a uma pacata cidadezinha do Reino Unido, onde vive a jovem Louisa “Lou” Clark (Emilia Clarke – sim, ela mesma, a Nascida na Tormenta, a Não Queimada, a Mãe dos Dragões, a Quebradora de Correntes Daenerys Targaryen, de Game of Thrones). Lou tem 26 anos e não sabe muito bem o que vai ser de sua vida, o que na verdade parece não importar muito. O que ela sabe é que precisa trabalhar para ajudar no sustento da família, já que o pai está desempregado. 

Por conta disso, quando perde o emprego em uma simpática e tradicional cafeteria onde trabalhou por seis anos, ela aceita uma vaga para trabalhar no castelo da riquíssima família Traynor. Ali, deve atuar como cuidadora de Will Traynor (Sam Clafin), o herdeiro que perdeu os movimentos do corpo todo após um acidente de trânsito.

Mais do que a mobilidade nos membros e no tronco, o incidente tira todo o prazer de viver de Will, que até então era um jovem aventureiro e desbravador, que amava a vida e aproveitava tudo o que ela tinha a oferecer. 

Roteiro previsível, mas não tão óbvio

O medo de spoilers não é exatamente uma preocupação dos espectadores de “Como Eu Era Antes de Você”, uma vez que grande parte do público busca este filme já tendo lido o livro ou ao menos conhecendo o plot. 

Mesmo quem não leu, o que é o meu caso, já consegue pescar bem rápido do que a história vai tratar e, logo de cara, perceber pontos como quais vão ser os grandes desafios dos dois protagonistas. 

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A estrutura é bastante básica e um acerto em cheio da autora: uma garota cheia de vida e um jovem que está paralisado e perdeu o desejo de viver se conhecem e se apaixonam. Simples, mas um tiro certo. É difícil não se emocionar com a história de Louise e Will.

No entanto, apesar do sofrimento e de ser bastante previsível, a maneira como o longa é conduzido ainda reserva espaço para algumas surpresas no andamento da trama, que tornam a narrativa bem interessante e, no fim das contas, não tão óbvia assim.

Mais riso do que choro

Embora se proponha na fronteira entre drama e romance, “Como Eu Era Antes de Você” desperta bastante o riso do público. Particularmente, fui ao cinema esperando sair de lá com a cara inchada de tanto chorar, mas não achei o longa tão emocionante assim e, mais do que isso, achei que as cenas alegres e divertidas equilibram bastante as tristes.

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E o crédito desse lado engraçado é em boa parte do roteiro, que traz diálogos bem-humorados, algumas piadas quase politicamente incorretas e até mesmo uma pitada de ironia. Mérito também dos protagonistas, que são personagens interessantes e divertidos, cada um com a sua forma de humor: a doçura de Lou e o sarcasmo de Will, ela sempre colorida e com suas roupas no mínimo exóticas, ele com sua amargura e impaciência. Nesse ponto, merece menção também o elenco competente, falaremos dele em seguida.

A distinção que o orçamento permite

Bem, antes de tudo é preciso lembrar que estamos tratando aqui da adaptação de um best seller. Dito isso, fica bastante claro que o orçamento para produção o longa não deve ter sido baixo, certo? E não foi. Com o investimento de 20 milhões de dólares, o mínimo que a gente espera de um longa-metragem é um elenco recheado de gente boa, uma fotografia impecável, figurino digno e trilha sonora original. E o filme britânico de fato entrega tudo isso. 

A começar pelo casting, que arrasou na escolha de Emilia Clarke e Sam Clafin. Ambos estão super bem nos papeis centrais, especialmente a moça. Quem está acostumado a vê-la na pele da inexpressiva Rainha dos Dragões até se surpreende com a profundidade dos movimentos, das falas, da agitação e da linguagem corporal de Louise. 

“Como Eu Era Antes de Você” também nos brinda com alguns nomes celebrados como o também Game of Thrones Charles Dance, Brendan Coyle (o Mr. Bates de Downton Abbey), Jenna Coleman (Dr. Who), Janet McTeer (Damages e a franquia Divergente) e Matthew Lewis (o queridíssimo Neville Longbottom de Harry Potter).

De encher os olhos

Além do elenco, destaque para a fotografia maravilhosa do filme. As cores não estão somente no figurino da protagonista – que merecia uma crítica inteira só pra ele, de tão alegre, vivo, colorido e sensacional –, mas nos detalhes dos ambientes e nos cenários pensados em cada detalhe. 

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E que cenários, hein? A locação escolhida para o filme é linda e charmosa, os espaços naturais são todos paradisíacos, a representação dos ambientes internos também é fiel e muito bonita Mesmo os espaços que não são milionários, como o quarto de Louise, é retratado de uma forma aconchegante e nos faz sentir à vontade, como se fizéssemos parte da cena. 

A trilha sonora assinada por Craig Armstrong nos leva pelos diferentes momentos da trama com bastante competência, com algumas composições originais e muito som comercial, incluindo músicas de Ed Sheeran e Imagine Dragons, por exemplo, mas sempre muito propícias a cada uma das emoções que o filme quer despertar no público.

Boas reflexões, mas dentro do lugar comum

Como blockbuster, “Como Eu Era Antes de Você” não deixa nada a desejar. É um belo conjunto de questões técnicas e elenco, boa produção e boa direção. Embora a história fuja pouco do lugar comum, ela consegue despertar a reflexão: até que ponto vivemos nossa vida no modo automático, resolvendo questões práticas do dia a dia e esquecendo de, de fato, viver cada momento.

Como eu disse lá no comecinho, é claro que esta é uma história de amor, mas não apenas aquele amor que só quer que os mocinhos fiquem juntos no final. O filme nos mostra como é possível amor com desapego e sem egoísmo e como o amor pode nos tirar da nossa zona de conforto e nos mostrar novos horizontes e nossas possibilidades. 

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Certo, é fácil fazer isso com todo o dinheiro dos Traynor disponível na conta, então vamos problematizar um pouquinho essa parte também? Apesar de ser um filme sobre justamente fugir da zona de conforto, “Como Eu Era Antes de Você” permanece naquele círculo convencional dos romances de Hollywood. 

Todo mundo dentro dos padrões de beleza consolidados, nenhum personagem negro ou de qualquer outra minoria e nota bem baixa no Teste de Bechdel (lembra dele?), ou seja, embora a protagonista seja mulher, todos os seus diálogos envolvem um homem, mesmo aqueles em quem há apenas mulheres. Pelo menos a questão da construção pessoal da personagem também é focada, o que dá um bom crédito neste sentido.

Resumindo, se você está atrás de uma história que fuja dos padrões, este não é o seu filme. Mas também tem grandes méritos, é um filme bonito e emocionante, bem feito e divertido. É uma boa experiência especialmente para os românticos de carteirinha. 

Fonte das imagens: Divulgação/Warner Bros. Pictures

Como Eu Era Antes de Você

Se emocione com a bela história de amor de Lou Clark e Will Traynor

Diretor: Thea Sharrock
Duração: 106 min
Estreia: 16 / Jun / 2016
Lu Belin

Eu queria ser a Julianne Moore.