Crítica Infiltrado na Klan

Bem embaixo do seu nariz, assim como o racismo

por
Lu Belin

27 de Janeiro de 2019
Fonte da imagem: Divulgação/Universal Pictures
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 5 min

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A ideia de ter um negro envolvido com uma das organizações mais sabidamente racistas do último século parece coisa de filme. E é exatamente isso, já que este é o tema do longa-metragem "Infiltrado na Klan", dirigido por Spike Lee. O que torna tudo muito mais maluco, no entanto, é que a película é baseada em fatos reais, já que conta a história do policial norte-americano negro que conseguiu se filiar à Ku Klux Klan no final da década de 70.

Além de ser o primeiro homem negro a entrar para a força policial em Colorado Springs, Ron Stallworth foi ousado desde o primeiro dia de trabalho. Ele consegue fazer contato com a KKK em seu período de maior ativismo nas cidades estadunidenses e, com um bom papo via telefone, dá um jeito de conseguir conquistar os supremacistas brancos, de forma a acompanhar de perto as atividades do grupo.

Com roteiro do próprio Spike Lee, assinado com Charlie Wachtel, David Rabinowitz e Kevin Willmott em adaptação ao livro do próprio Ron Stallworth - hoje um sessentão aposentado da polícia -, "Infiltrado na Klan" é um comovente e instigante relato do forte racismo que atinge os Estados Unidos em uma época menos longínqua do que gostaríamos.

John David Washington é o responsável por dar vida ao protagonista, que é assessorado pelo investigador Flip Zimmerman (Adam Driver). Mais experiente que Stallworth, Zimmerman é o policial branco que se passa pelo outro quando os contatos com a KKK demandam encontros pessoalmente. O papel rendeu a Driver a indicação ao Oscar de Melhor Coadjuvante, que se soma às outras cinco categorias nas quais longa-metragem foi recomendado: Trilha Sonora Original, Montagem, Roteiro Adaptado, Direção e Melhor Filme.

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Em sua primeira para a estatueta como Diretor, Spike Lee está realmente muito perto de receber o primeiro lugar, já que "Infiltrado na Klan" é o reflexo de um excelente trabalho do cineasta.

Quase documental

Embora os fatos sobre o protagonista desviem um pouco da história original, romantizando algumas cenas e exagerando em outras, os caminhos escolhidos por Lee para dar corpo às peripécias dos policiais foram certeiros no sentido de retratar a luta do movimento negro do país para ocupar seu espaço dentro de uma sociedade preconceituosa.

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Militante, o filme deixa bastante claro seu posicionamento político, com referências a personagens como Angela Davis e aos Panteras Negras, e é educativo com relação ao movimento de igualdade racial, suas origens e desenvolvimentos.

Também não foi à toa a indicação como melhor Montagem, uma vez que a estruturação de algumas cenas da forma como foram executadas ajuda a fornecer o impacto que elas precisam, comparando o delírio coletivo que são os movimentos supremacistas com a profundidade e o sofrimento que envolvem a história da população afrodescendente.

Não faltam ainda paralelos com a atualidade e, se o espectador estava em dúvida sobre se algumas passagens faziam referências ao governo Trump, essas questões são sanadas ao final do filme, com a aparição do próprio presidente dos Estados Unidos.

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Um grande mérito de Infiltrados na Klan é contribuir para que o espectador entenda as origens do racismo e o quanto este é estrutural, bem como a forma como o preconceito racial se desenvolveu e se infiltrou no poder político, chegando à mais alta cadeira do governo.

Black Power

Para retratar a participação do movimento estudantil na fortificação das lutas raciais e permitir que o público acompanhasse a história de Ron, foi preciso atentar para a caracterização dos personagens, levando os atores de volta para os anos 70 e 80. A ambientação histórica de "Infiltrado na Klan" é uma verdadeira viagem no tempo, tanto por meio dos cenários quanto do figurino, maquiagem e cabelo.

Outro aspecto que funciona como combustível para esse retorno é a trilha sonora, repleta de sucessos das décadas referidas no longa-metragem. Mas nada disso funcionaria sem o excelente trabalho de atuação feito pelos atores, que é belíssimo mesmos no caso dos coadjuvantes que ocupam menos a cena.

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Isso vale especialmente para os dois principais nomes do elenco. John David Washington mostra sua competência durante todo o filme, mas tem alguns momentos de grande brilhantismo na tela, especialmente quando desempenha algumas variações de sotaque e de tonalidade de voz. O mesmo vale para Adam Driver, cujo trabalho vem evoluindo de forma impressionante desde que ganhou projeção com a série "Girls" e galgou sua carreira no cinema.

Graças a esse conjunto de elementos e à relevância da temática, sem dúvida "Infiltrados da Klan" se coloca como um dos favoritos na corrida pela estatueta do Oscar em 2019.

Fonte das imagens: Divulgação/Universal Pictures

Infiltrado na Klan

Negritude infiltrada

Diretor: Spike Lee
Duração: 128 min
Estreia: 22 / Nov / 2018
Lu Belin

Eu queria ser a Julianne Moore.