Crítica do filme Invasão Zumbi
Nessa bumba eu não ando mais!
Apesar do nome pouco inspirado, "Invasão Zumbi" (originalmente Busanhaeng, algo como Trem para Busan), traz elementos muito interessantes ao já bem explorado subgênero de terror zumbi. O diretor Yeon Sang-ho promove uma releitura de vários elementos já familiares aos fãs de filmes de zumbi de uma maneira muito eficaz é inteligente.
A nova roupagem confere ainda fôlego a um estilo de terror que tem mostrado uma resiliência própria dos mortos-vivos. "Invasão Zumbi" se aproveita do cenário extremo para contar uma enternecedora história de um pai e sua filha.
A pedido de sua filha, Su-an, que está fazendo aniversário, Seok-Woo — um pai recém-divorciado, workaholic e meio distante — está levando a garotinha para ficar com a mãe na cidade de Busan. A viagem tem tudo para ser rápida e tranquila a bordo do KTX (o trem bala coreano que pode chegar a mais de 300 km/h).
Todavia, antes mesmo da composição deixar a estação de Seul, fatos estranhos parecem estar acontecendo com as pessoas na plataforma e as coisas só pioram quando os passageiros percebem que uma espécie de infecção zumbi está se espalhando rapidamente por todo o país, inclusive dentro do trem que os leva até Busan.
A trama aparentemente simples esconde uma belíssima história de família. A luta de Seok-Woo para manter sua filha Su-an em segurança é tocante. Tentando reparar suas falhas como pai e marido, Seok-Woo corre mais do que o próprio trem fazendo o necessário para assegurar a sobrevivência dos dois.
A "Guerra Mundial Z" invade o "Expresso do Amanhã"
Em meio a isso tudo, ainda temos uma série de personagens bem construídos que cativam o espectador e exploram temas paralelos dentro do mesmo trem. A observação mais óbvia fica por conta da “luta de classes” que se impõem como um empecilho a cooperação e sobrevivência dos passageiros e propõe uma visão seca do mundo contemporâneo e, em especial, da estratificação social coreana.
Seok-Woo não é o herói que você quer, é o herói que você precisa. Muitas vezes as ações dele não parecem dignas, são decisões duras que devem ser tomadas rapidamente e sua mente — própria do mundo dos negócios — está programada para responder a tais pressões.
Para um filme coreano, que não conta.com os mesmo recursos técnicos e financeiros de uma grande produção hollywoodiana, Invasão Zumbi é excepcional. Ao fugir da proporção de tela widescreen, em prol do uso da “janela americana” (13:7), o diretor cria uma mise-en-scene restritiva, claustrofóbica, mas que ainda oferece espaço suficiente para takes de pura ação, mesmo nos cantos mais apertados. O trabalho de câmera constrói um clima de tensão que é completado perfeitamente pela trilha e efeitos sonoros.
Invasão Zumbi tem suas limitações, o roteiro é inteligente, mas o terceiro ato perde um pouco da força por conta de alguns exageros narrativos e da própria “urgência” presente na atuação do elenco principal. Entretanto, mesmo sem entregar nenhum detalhe da trama posso dizer que a conclusão é extremamente emocionante.
Enquanto alguns criticam que o filme é uma mistura de "Guerra Mundial Z" e "Expresso do Amanhã", penso que trata-se exatamente do oposto, pois Yeon Sang-ho bebe dessas fontes, mas filtra os elementos positivos entregando um amálgama inteligente que se aproveita de cada referência. Em suma, Invasão Zumbi é um título imperdível para os fãs do gênero é uma boa opção para os não iniciados, haja vista que os dramas representados são universais.
Todos a bordo do trem da morte