Crítica do filme O Regresso

A ferocidade dos homens é mais forte que a patada de um urso

por
Edelson Werlish

12 de Fevereiro de 2016
Fonte da imagem: Divulgação/20th Century Studios
Tema 🌞 🌚
Tempo 🕐 4 min

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O Regresso é um gélido sofrer errante, em que a busca por vingança é o motor de sobrevivência na natureza selvagem.

Dirigido pelo oscarizado Alejandro González Iñárritu, e escrito pelo cineasta em parceria com Mark L. Smith, o longa é baseado no romance homônimo de Michael Punke. Ele é inspirado na história real do explorador norte-americano Hugh Glass, em 1823, o qual após ser atacado por um urso, é deixado para morrer por seus companheiros nas terras frias do velho oeste estadunidense. 

Glass, interpretado por Leonardo DiCaprio, é o fruto da mistura do homem branco, que luta contra os seus demônios internos, e os pele vermelha, adoradores da mãe-terra. Essa dualidade conduz a trama interna da personagem que segue o caminho sem volta da vendetta. Alejandro G. Iñárritu sabe contar essa história, tanto em técnica quanto em arranjo. O diretor mexicano emula os planos-sequências que marcaram Birdman e os enquadramentos de expressões fechadas de Babel para contar uma história marcada de empolgantes cenas de ação e passagens pelo limiar da vida e morte.  

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O Regresso é um filme de caráter xamânico. Iñárritu invoca audiovisualmente os quatro elementos e os espíritos das florestas para compor todo o desenrolar de seu longa. Água, fogo, terra e ar estão sempre presentes nas cenas e passagens de câmera, como se fossem um grande coadjuvante. Seja nas fagulhas queimando no vazio da noite ou na pitada do cachimbo, os aspectos naturais compõem diretamente a bela fotografia e o enredo da trama, ajudando a dar ritmo e movimento necessário para um longa de mais de duas horas e meia de duração.

É interessante notar também a imersão criada pelo diretor para trazer o público para dentro da história. Ele utiliza as possibilidades das lentes da câmera de modos pontuais, seja com flare lens, na qual a luz do sol reflete no vidro da mesma, ou nos suspiros e correntezas das cachoeiras que vão de encontro a tela. Soma-se a essas práticas de filmagem a batida cadenciada da trilha sonora e edição de som oportuna. 

Nas atuações, Leonardo DiCaprio encarna com sinceridade toda a desgraça e dor proveniente do roteiro. Com meia dúzia de falas, Leo produz uma atuação totalmente física, aparada em sangramentos do seu corpo e gemidos de desespero – um martírio sem fim. O personagem de Tom Hardy, ao melhor estilo Bane de O Cavaleiro das Trevas Ressurge versão caipira, por sua vez, é o inimigo e contraste direto de Hugh Glass. Ele assume todas as falas e guia a vilania ao longo das nevascas do filme. 

Não se pode negar, porém, que o ponto alto de O Regresso, é justamente o embate do protagonista com o imenso urso cinzento. O malho apresentado no primeiro ato é impactante, seja para a premiação de DiCaprio nos festivais de cinema ou nos memes da internet. 

O duelo entre homem e animal reflete toda a essência e moral da proposta dramática. A luta de sobrevivência contra o “Balu raivoso” é uma alusão ao contexto do romance. Porque enquanto alguns lutam para proteger seus filhos e filhotes, outros lutam por dinheiro e ganância. Ou seja, o nêmesis maior não é a peleja por subsistência na natureza fria, mas sim o mal daqueles que ali ficam suas bandeiras. 

Mesmo não tendo uma proposta tão ousada quanto Birdman, O Regresso é uma simples história com méritos para o comando de seu diretor, com grandes chances à estatueta de ouro em diversas categorias. Na corrida para o Oscar de melhor ator, em épocas em que a Academia valoriza tanto atuações corpóreas, Leonardo DiCaprio salta na frente, mesmo não sendo seu melhor trabalho. 

Fonte das imagens: Divulgação/20th Century Studios

O Regresso

Do diretor Alejandro Iñárritu, vem uma aventura visceral com DiCaprio e Hardy

Diretor: Alejandro G. Iñárritu
Duração: 156 min
Estreia: 4 / Feb / 2016
Edelson Werlish

Andou na prancha, cuidado Godzilla vai te pegar!