Crítica do filme O Último Rodeio
Quando o tédio monta no drama
Há produções que dialogam com públicos muito específicos e, claro, quando falamos de filmes norte-americanos, muitos têm como foco o público dos próprios Estados Unidos. Este é justamente o caso de "O Último Rodeio", que se ancora em valores, símbolos e tradições que fazem sentido dentro da cultura em que foi produzido, mas que dificilmente encontram o mesmo eco fora de lá.
Rodeios, montadores lendários e dramas de fé no interior do país formam um universo bastante particular, distante da realidade da maioria do público internacional. Mesmo no Brasil, onde os rodeios ainda têm seu público, trata-se de um recorte pequeno diante de um país diverso e majoritariamente urbano, o que inevitavelmente pode tornar a história um tanto restrita.
Em "O Último Rodeio", o veterano montador Joe Wainwright (Neal McDonough), uma antiga lenda das arenas, decide arriscar tudo para salvar o neto diagnosticado com um tumor cerebral agressivo. Sem recursos e com um seguro de saúde que se recusa a cobrir a cirurgia, ele vê no rodeio — o mesmo que quase o matou anos atrás — sua única chance de levantar o dinheiro necessário. De volta aos treinos e aos circuitos, Joe se vê obrigado a encarar não apenas os desafios físicos, mas também as feridas de um passado conturbado, incluindo a relação complexa com a filha.
Fonte: Divulgação/Paris Filmes
Embora o ponto de partida prometa um drama emocional sobre sacrifício e redenção, "O Último Rodeio" rapidamente se revela um filme previsível e arrastado. A trama tenta equilibrar emoção familiar e espiritualidade, mas escorrega em clichês e sentimentalismo fácil. Não é um faroeste nem um épico sobre cowboys. É, antes, um melodrama ambientado em arenas e fazendas, que finge ser sobre coragem quando, na verdade, fala mais sobre teimosia.
O Último Rodeio vale a pena?
“O Último Rodeio” tenta emocionar ao retratar o sacrifício de um avô que volta às arenas para salvar o neto enfermo, mas o drama se perde em clichês e sentimentalismo fácil. Apesar da bela fotografia e de uma premissa com potencial, falta ritmo, profundidade e autenticidade para envolver o espectador de verdade.
Mesmo quem gosta de filmes inspiradores vai sentir que O Último Rodeio não tem muito a oferecer além de boas intenções. É o típico filme que caberia perfeitamente na grade da Hallmark: previsível, açucarado e sem grandes riscos. A história do avô que tenta salvar o neto doente ao entrar novamente em uma competição perigosa até poderia emocionar, mas o roteiro parece não confiar no público e insiste em explicar demais, repetindo emoções que nunca chegam a se concretizar.
O filme também sofre com um desequilíbrio entre fé e drama familiar. Há inclusive momentos em que a espiritualidade é empurrada goela abaixo — um personagem chega a recitar versículos bíblicos em situações aleatórias, deixando a narrativa forçada e artificial, como se a mensagem tivesse sido colocada à força apenas para agradar um público específico. Essa indecisão entre ser um drama humano ou uma mini pregação travestida de roteiro faz com que a história perca foco e autenticidade.
Além disso, há o incômodo pano de fundo do próprio esporte retratado. As competições de montaria em touros são mostradas com glamour e heroísmo, mas o filme ignora completamente o debate sobre a crueldade animal. Talvez funcione para quem gosta de rodeios, mas é difícil não sentir um certo desconforto.
Por outro lado, "O Último Rodeio" acerta, ainda que involuntariamente, ao escancarar o problema da ganância do sistema de saúde americano. Eis aqui o verdadeiro vilão da trama! Essa questão não é tratada com a indignação que deveria, não há qualquer combate aos excessos dos convênios de saúde ou à falta de assistência por parte do governo. No entanto, é inevitável que, para determinados públicos, como o brasileiro, a gente acabe percebendo que a trama não teria muito sentido por aqui: o menino teria acesso gratuito ao tratamento pelo SUS e o avô não precisaria se arriscar até quase morrer.
A direção de Jon Avnet é morna e incapaz de dar ritmo ou intensidade às cenas mais dramáticas. Mesmo nas sequências de rodeio, a câmera lenta e os closes excessivos parecem um esforço desesperado para criar emoção onde ela simplesmente não existe. Apesar da fotografia bem elaborada, com cenários bonitos e uma luz ensolarada que empolga nos primeiros minutos, rapidamente percebemos que o brilho termina por aí. A trilha sonora, que poderia amarrar os sentimentos, também passa despercebida e raramente reforça o que está em tela.
Os atores são competentes, mas estão presos a personagens sem profundidade. As emoções são contidas demais — falta desespero, vulnerabilidade e verdade. É como se o elenco inteiro tivesse sido instruído a “não exagerar”, e o resultado é uma sucessão de cenas mornas, que nunca chegam a tocar o espectador. Há talento ali, mas nada que consiga se sobressair diante de um roteiro que não oferece espaço para nuances ou crescimento emocional.
Fonte: Divulgação/Paris Filmes
No final, o filme até tenta entregar uma conclusão emocionalmente satisfatória — e, de fato, o desfecho é melhor que o restante da trama —, mas o caminho até lá é cansativo. Duas horas para contar uma história tão simples é pedir demais da paciência de qualquer espectador.
Mesmo com seus belos cenários e uma fotografia cuidada, "O Último Rodeio" não consegue se sustentar. É uma obra que parece feita para preencher horário de TV, não para ocupar uma sala de cinema. Um drama vazio, previsível e emocionalmente raso, que tenta ser inspirador, mas termina sendo apenas esquecível.